Boteco: Duvel Tripel Hop 2013, 2014, 2015 e 2016

por Marcelo Costa

Sucesso da cervejaria belga Moortgat, a Duvel ganhou uma versão lupulada em 2007 com um terceiro lúpulo diferente ao lado do tcheco Saaz e do esloveno Styrian Golding: Amarillo. A receita fez tanto sucesso que os bebedores cobravam da cervejaria uma nova experiência que, a partir de 2012, passou a ser anual: outro lúpulo norte-americano, Citra, foi a estrela de 2012; em 2013 foi a vez do lúpulo japonês Sorachi Ace; daqui pra frente, só lúpulo Made in USA: Mosaic em 2014, Equinox em 2015, e o experimental HBC 291 em 2016, tão novidade que chegou ao mercado junto a cerveja. O lúpulo tem tripla função: é um conservante natural (seu principal atributo) tanto quanto imprime aroma e sabor (amargor incluso) no conjunto. Porém, as qualidades de aroma e amargor costumam perder força com a guarda, o que não impede testes verticais como o abaixo: três Duvel Tripel Hop safradas, 2013, 2014, 2015 e 2016. Bora.

Começando da mais fresca, Duvel Tripel Hop 2016, que utiliza o lúpulo experimental HBC 291, do Yakima Valley, em Washington, uma variedade tão nova que a Moortgat começou a usa-la nesta receita antes mesmo dela chegar ao mercado (também em 2016). De coloração dourada com creme branco espesso de excelente formação e média alta retenção, a Duvel Tripel Hop 2016 apresenta um aroma com Saaz e Styrian Golding buscando espaço na área do HBC 291, o que resulta numa paleta aromática com bastante floral e levemente picante (pimenta). Tanto a levedura (funky) quanto (os 9.5% de) álcool e doçura de mel também dão as caras. Na boca, textura picante e levemente sedosa (o que é uma surpresa). O primeiro toque traz floral e cítrico remetendo a uvas verdes e champagne. Na sequencia, algo de limão, um azedinho e o amargor pontual (50 IBUs bem distribuídos). O conjunto segue mais puxado pro floral e herbal e finaliza seco e achampanhado. No retrogosto, secura, álcool e… mel. Interessante.

Segunda da série vertical Duvel Tripel Hop com a versão 2015, que recebeu adição do lúpulo norte-americano Equinox, lançado em 2014 pela Hop Breeding Company e elogiado por combinar notas tropicais cítricas com floral e herbal (e pimenta verde, a Hop Breeding reforça). De coloração dourada (semelhante à da Hop 2016 e à mesma versão do ano passado) com um creme branco excelente formação e média alta retenção, a Duvel Tripel Hop 2015 apresenta um aroma caprichado, ainda que não tão vistoso quanto no ano passado. É possível perceber nuances cítricas e herbais, com a segunda um pouco mais à frente sugerindo capim limão e feno molhado acompanhadas da tradicional condimentação derivada da levedura belga. Na boca, textura picante e um tiquinho cremosa. O primeiro toque traz doçura de mel seguida de cítrico (limão e abacaxi mais presentes aqui do que no aroma), herbal e álcool, a tradicional porrada de 9.5% que aumenta a potencia dos 50 IBUs. Dai pra frente, um final seco e amargo. No retrogosto, calor de álcool, leve cítrico, mel e felicidade.

Terceira da sequencia, a Duvel Tripel Hop 2014 recebeu adição do lúpulo Mosaic, derivado do lúpulo Simcoe e desenvolvido pela Hop Breeding Company. O Mosaic é bastante valorizado por combinar notas cítricas, florais e herbais. A coloração já parte mais para um amarelo turvo (semelhante a mesma versão do ano passado) e o creme espesso exibe uma bela formação (rolou um leve gushing, inclusive) com longa permanência. No nariz, mesmo dois anos depois, o aroma continua brilhante, ainda que menos vistoso: notas herbais à frente (pinho), bastante doçura de mel (a guarda ajudou) e bastante condimentação (pimenta e cravo) e álcool. Na boca, a textura é picante e sedosa. No primeiro toque, doçura rápida de caramelo seguida de leve herbal e uma pancada de álcool, que influencia a percepção do amargor, potente, e abre caminho para um conjunto delicioso e alcoólico, que finaliza seco e alcoólico. No retrogosto, caramelo, herbal suave e calor.

Fechando a série com a Duvel Tripel Hop 2013, que conta com o lúpulo convidado Sorachi Ace. De coloração amarela com turbidez a frio (ela vai ficando dourada conforme aquece) e creme branco espesso de excelente formação e longa retenção (a mais durável das quatro), a Duvel Tripel Hop 2013 apresenta um aroma que chega a impressionar com deliciosas notas cítricas (laranja passada e limão) além de doçura (mel e açúcar) e (bastante) álcool. Floral e herbal foram passear, mas ainda há bastante condimentação derivada da levedura. Na boca, a textura é seca e bastante picante. O primeiro toque traz herbal seguido de doçura caramelo e álcool violento influenciando decididamente nos 50 IBUs. Dai pra frente, muito calor alcóolico e uma pálida lembrança do aroma, que gasta toda sua potência lá atrás e não repercute da mesma forma aqui, infelizmente. O final é seco e alcóolico. No retrogosto, álcool e vinho branco. Foi quase 🙂

Balanço
Das cinco Duvel Tripel Hop que já experimentei ano a ano, essa 2016 foi a que me pareceu melhor brincar com o conceito de alterar o sabor original da Duvel, o que, claro, causa certa estranheza, mas abre uma perspectiva interessante. Não é a minha favorita entre as cinco (Sorachi Ace, I Love You), mas é uma cerveja provocante. A Duvel Tripel Hop 2015 continua bela, ainda que os lúpulos tenham perdido um pouco de viço. Suspeito até que ela me soa melhor agora do que no passado, mas isso é uma dúvida que só a memória pode resolver. Já a versão 2014 perdeu bastante da beleza do lúpulo, mas o conjunto ainda continua soberbo, mesmo que bastante alcoólico e melado. Fechando o quarteto, a Duvel Tripel Hop 2013, minha favorita, também perdeu brilho, mas ainda soa interessante. Conforme percebido no ano anterior, a Duvel tripel Hop soa mais interessante com um ano de guarda. Será que no ano que vem essa percepção se repetirá? A esperar.

Duvel Trupel Hop 2013, 2014 e 2015
– Produto: Belgian Golden Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 5/5

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