Três HQs: Batman, Pato Donald, Shade

por Adriano Mello Costa

“Batman: Faces da Morte”, de Tony S. Daniel (Panini Books)
Personagens antigos e icônicos como Batman sempre trazem consigo o problema das novas histórias necessitarem soar relevantes diante dos clássicos do personagem, o que acaba sendo um peso e tanto para quem as escreve. O que contar do Morcego que ainda não foi contado? Qual aspecto ainda não foi abordado? Qual psique ainda não foi explorada? No decorrer dos anos, diversas tramas patinaram ao tratar de aventuras do vigilante de Gotham City dentro das inúmeras repaginações da DC Comics. No que se refere aos “Faces da Morte”, essa missão coube a Tony S. Daniel, artista já conhecedor dos meandros da vida do Batman de outras incursões. O primeiro arco desse trabalho é republicado agora pela Panini Books em uma edição de capa dura com 164 páginas reunindo as edições de 1 a 7 da série Detective Comics, originalmente lançadas entre novembro de 2011 e maio de 2012. No roteiro encontramos o Cavaleiro das Trevas se deparando com um novo vilão chamado Criador de Bonecas. Paralelo a isso, Batman precisa lidar com o desaparecimento do Coringa do Asilo Arkham (pela enésima vez) e com alguns integrantes da fauna peculiar da sua cidade como o Pinguim e outros vilões pouco memoráveis. A trama flutua no tradicional e não explora nada que já não se tenha visto várias vezes anteriormente. O roteiro falha ao apresentar conflitos, principalmente no que tange a adequar todas as questões coadjuvantes. A arte de Tony S. Daniel com o auxílio de Joel Gomez e Szymon Kudransky é concisa e funciona bem nas cenas de ação, contudo, assim como o roteiro, fica apenas no correto, não indo além. “Batman: Faces da Morte” tem como principal destaque somente um aspecto do desaparecimento do Coringa que repercutiu em outras revistas da editora – como o Esquadrão Suicida, mas não consegue fugir do mediano.

Nota: 5

“Shade, o Homem Mutável: O Grito Americano”, Peter Milligan (Panini Comics)
O britânico Peter Milligan produziu trabalhos pulsantes e vigorosos na carreira. Fez isso com John Constantine (principalmente), Homem-Animal e até mesmo Batman. Entre essas marcantes passagens está a de “Shade, o Homem Mutável”, obra que produziu para o selo Vertigo logo no início da sua relação com a DC Comics, em 1990. A Panini Comics republica aqui esses primórdios dentro da ideia de revisitar obras pouco conhecidas do grande público e disponibilizá-las no mercado novamente, o que é extremamente louvável. “Shade, o Homem Mutável: O Grito Americano” tem 170 páginas, capa cartonada e, infelizmente, papel Pisa Brite (assim como nas edições da Patrulha do Destino). Junta as revistas publicadas originalmente nos EUA entre julho e dezembro de 1990. Criado pelo baluarte Steve Ditko na segunda metade dos anos 70, Shade figurava em um panteão bem baixo dentro da editora. Depois da repaginação oriunda da “Crise nas Infinitas Terras”, de 1985, ganhou algum destaque, mas foi nas mãos de Milligan que teve sua melhor fase (talvez até hoje). Como se tratava de um personagem pouco ou nada conhecido, o autor teve a liberdade para fazer praticamente o que bem entendesse. Com desenhos de Chris Bachalo e arte-final de Mark Pennigton, a série foi estruturada unindo magia e ficção científica e trazia tanto críticas comportamentais quanto espetadas mais amplas no que se refere aos Estados Unidos e seu modo de vida. Shade é um habitante de outra dimensão que ao desembarcar na terra para salvar os mundos de uma onda de insanidade e loucura habita o corpo de um assassino perto de ser morto na cadeira elétrica. Sua principal relação se dá logo com a filha das pessoas assassinadas, o que só deixa a relação mais estranha. Em um roteiro repleto de boas tiradas e cutucadas, além da arte fulgurante (que merecia papel melhor), Milligan abusa da psicodelia para criar uma trama que ainda hoje vale a pena ser lida.

Nota: 8,5

“Pato Donald: Perdidos Nos Andes”, Carl Barks (Editora Abril)
A Editora Abril começou a publicar no país há alguns meses edições de luxo com seus mais famosos personagens (Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey, Pateta e afins) resgatando histórias clássicas e a apresentando-as para um novo público, além de ser indicada para quem aprendeu a ler pelos gibizinhos antigos. A diferença dessa para republicações anteriores é o processo de restauração que a obra passou, incluindo a arte-final, cores e letras. Dentre os volumes disponíveis até aqui um dos mais interessantes é “Pato Donald: Perdidos Nos Andes”, que reúne histórias do grande Carl Barks, artista responsável por moldar boa parte da aura da empresa. São 20 histórias compiladas em formato pequeno (16 x 23cm) e 240 páginas abrangendo a produção do artista entre os anos de 1948 e 1949. Elas já haviam sido publicadas aqui antes, algumas até diversas vezes, mas esse novo compêndio traz novo sabor por conta do formato e disposição apresentando as tramas longas primeiro, depois as mais curtas e por fim as gags, como também por todo o arcabouço de informações contidas em textos separados e notas escritas por especialistas. Histórias como “Perdidos nos Andes”, de abril de 1949, mostra um artista diferente para a época, se preocupando até excessivamente para aqueles padrões com detalhes, cenários e quadros maiores, o que não era tão comum. Lógico, que estamos falando de algo lançado há mais de 70 anos então é normal que um ou outro detalhe do roteiro soe hoje datado, ou ainda alguma concepção temática soe esdrúxula, porém são retratos de uma determinada passagem do tempo e até por isso devem ser analisadas com calma. Mesmo com o preço salgado, essas novas edições da Disney são interessantíssimas e, para quem gosta do Pato esquentado que se tornou conhecido no mundo todo e até hoje gera discussões (algumas até irracionais), é sempre bacana vê-lo pelas mãos do seu mais festejado artista.

Nota: 8

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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One thought on “Três HQs: Batman, Pato Donald, Shade

  1. Ficaram bem legais as resenhas do Adriano. Só mudaria uma coisa: daria uma nota maior para “Pato Donald: Perdido nos Andes”. Acho que, pelo valor histórico das HQ’s, pelos ótimos textos explicativos (que complementam a experiência da leitura), pelo tamanho do “tijolo” (são umas 250 páginas) e pelo acabamento bacana – restauração da paleta de cores originais, capa dura, lombada quadrada – acho que mereceria mais. Eu daria um 9 tranquilo tranquilo… rsrsrs

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