por Adriano Mello Costa
“Elektra: Linhagem Assassina”, de W. Haden Blackman e artista Michael Del Mundo (Panini)
Na metade de 2014, a Marvel resolveu novamente dedicar uma revista mensal para a personagem Elektra, criada pelas mãos de Frank Miller no início dos anos 80. A assassina, que coleciona idas e vindas nos quadrinhos desde que foi criada, dessa vez teve o recomeço através do roteirista W. Haden Blackman (Batwoman) e do artista Michael Del Mundo (Hulk). Essa nova inserção não foi bem sucedida e não chegou a durar nem um ano (foram só 11 edições), sendo que a Panini Comics juntou as 5 primeiras revistas em um encadernado com capa cartonada de 116 páginas agora em 2016. “Elektra: Linhagem Assassina” apresenta a Sra. Natchios tentando seguir em frente finalmente assumindo aquilo que faz de melhor: matar pessoas. Para tanto procura uma contratante chamada Casamenteira que lhe encaminha um serviço nada simples: encontrar um lendário assassino de nome Corvo Encapuzado. Elektra aceita a missão e parte atrás desse fantasma enquanto procura acalmar os próprios sentimentos e os seus problemas de cabeceira que ainda lhe atormentam muito. No meio dessa busca, ela se depara com vários outros assassinos, mas principalmente um australiano que ao comer pedaços de pessoas e animais ganha os poderes e lembranças da vítima. “Elektra: Linhagem Assassina” pode ser considerada uma tentativa válida de reativar a personagem, que agora deu as caras na segunda temporada da série do Demolidor na Netflix (ainda que bem diferente da tradicional) depois de aparecer no filme do personagem lá de 2003. Contudo, fica somente nisso, uma tentativa. O roteiro que flerta com o sobrenatural é raso e não empolga e o real mérito da história fica apenas na bela arte do filipino Michael Del Mundo, o que ainda assim é bem pouco.
Nota: 5
“O Diabo e Eu”, de Alcimar Frazão (Editora Mino)
Robert Johnson faz parte daquele seleto grupo de músicos que quando você ouve dá para perceber os sentimentos em volta da composição e execução, transparece ali na hora. No caso dele, toda dor, sofrimento, angústia, tristeza, tenacidade, orgulho, coragem, o álcool. É complicado passar imune a execução das suas canções. Ao escutá-lo pela primeira vez, o quadrinhista e também músico Alcimar Frazão deve ter sentido tudo isso, o que o levou há anos depois prestar uma homenagem a esse ícone do blues que faleceu ainda moço aos 27 anos, mas com muitas histórias e lendas circulando ao redor. “O Diabo e Eu” ganha nova edição caprichada da editora Mino com 64 páginas em preto e branco, lembrando que já havia sido lançada anteriormente em 2013, mas a pequena tiragem inicial foi esgotada. A Mino estendeu a obra, deu um visual mais bonito e ainda preencheu o final com páginas extras sobre o assunto do álbum pelas mãos de artistas como Lourenço Mutarelli, Diego Sanchez, Shiko e Fábio Cobiaco. Mas, que assunto seria esse? Bom, o tema de “O Diabo e Eu” é a lenda mais forte que circunda Robert Johnson. Diz ela que o músico teria feito um acordo com o próprio tinhoso em uma encruzilhada do Mississipi oferecendo a alma em troca da habilidade musical. Essa história, que já foi contada mil vezes, além de recortada, ampliada, desvirtuada e travestida em várias mídias é o mote que Alcimar Frazão usa para fazer um trabalho mudo, de arte extremamente cuidadosa e impactante. Fora isso ousa suscitar novas visões em torno de Johnson, o inserindo mais dentro da briga contra o racismo além de sugerir que o capiroto teve participação maior na vida dele do que só na música. Será?
Nota: 7
“The Shaolin Cowboy: Buffet de Shemp”, de Geoff Darrow (Editora Mino)
Geoff Darrow nasceu no estado de Iowa nos Estados Unidos em 1955. Na carreira como designer e artista gráfico, além de quadrinhista, tem trabalhos na Hanna-Barbera e na trilogia “Matrix”, assim como parcerias com os craques da nona arte Moebius e Frank Miller. Em 2004 criou o personagem Shaolin Cowboy, um monge que é expulso do templo porque armaram contra ele em “questões nutricionais”. De porte avantajado com uma barriga que salta aos olhos e sem o menor estilo de lutador, mas com ensinamentos também de um velho cowboy dentro da cabeça além do kung-fu, essa ímpar figura se mete quase que sem querer no meio de estapafúrdias confusões. A Editora Mino lançou recentemente um belíssimo encadernado de capa dura, com papel couchê e vários mimos contando uma história desse singelo protagonista. “The Shaolin Cowboy: Buffet de Shemp” tem 136 páginas e é a versão nacional da publicação da Dark Horse de 2015. Antes de entrar na história o leitor é apresentado aos fatos até ali, que envolvem, além do nonsense e surreal que permeia o personagem, uma vasta gama de trocadilhos e sátiras com nomes variados, principalmente políticos como Donald Trump, Sarah Palin e Dick Cheney, essas vergonhosas personalidades. A trama é simplíssima e quase não tem diálogos. Depois de mais uma aventura impossível, ele escapa e acaba no meio de um deserto e para sua surpresa se depara com uma multidão de zumbis que precisa enfrentar usando apenas duas serras elétricas amarradas a um pedaço de bambu. O primordial do álbum é a arte de Darrow, e esta é fenomenal. Com o auxílio das cores do premiado Dave Stewart, o autor esbanja detalhamento e humor em cenas de ação que mais parecem uma dança coreografada. Autores do porte de Frank Quitely, Mike Mignola, Walter Simonson e Sergio Aragonés são fãs confessos de Geoff Darrow e com essa publicação da Mino finalmente dá para se entender a razão disso.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop