por Marcelo Costa
Uma das boas bandas nacionais que honram o barulho acima de tudo, a paulistana Herod decidiu investir em um projeto arriscado recriando canções do histórico combo germânico Kraftwerk em versões noise. “A ideia descompromissada para um b-side acabou evoluindo pra um show e disco inteiros”, conta Elson Barbosa, baixista da banda e um dos responsáveis pelo selo Sinewave. “As adaptações foram trabalhosas, porque procuramos ser fieis nos mínimos detalhes de arranjos e estruturas”, explica.
Surgido em 2006, a Herod (agora um quarteto com Sacha e Ribeiro nas guitarras, Bruno na bateria e Elson no baixo) carrega uma discografia com três álbuns – “In Between Dust Conditions”, de 2008; “Absentia”, de 2010; e “Umbra”, de 2013 – e vários EPs, o mais recente lançado em julho de 2016 juntando três peças de 1 minuto cada com o tema “vida” e “morte”, além de shows em diversos festivais e uma histórica abertura para o The Cure em sua turnê brasileira (e dois belos shows no Prata da Casa, do Sesc Pompeia).
Abaixo, Elson reflete sobre a evolução do post rock no país, fala sobre a Sinewave Label e fala sobre como foi adaptar Kraftwerk para o noise!
Como surgiu a ideia de recriar as músicas do Kraftwerk? E como foi a prática para adaptar tudo?
Surgiu meio por acaso, quando eu estava re-ouvindo o “Autobahn”, um dos meus discos favoritos do Kraftwerk, e na “Kometenmelodie 1” comecei a brisar o quanto seria legal se uma banda fizesse uma versão dessa música de forma orgânica, com uma plataforma de guitarras na linha do Sunn O))). Até me dar conta que a própria Herod poderia fazer isso. A ideia descompromissada para um b-side acabou evoluindo pra um show e disco inteiros, convertendo os synths originais em guitarras, baixo, bateria, peso e barulho. As adaptações foram trabalhosas, porque procuramos ser fieis nos mínimos detalhes de arranjos e estruturas, recriando os timbres com instrumentos e pedais de efeitos, e depois cobrindo tudo com uma camada de peso e noise pra deixar tudo mais divertido. É um show essencialmente da Herod, com toneladas de guitarras fazendo o papel dos synths. Esperamos não chocar muito os puristas.
São 10 anos de banda! Como você a evolução do cenário não só de post rock e música instrumental, mas de sons pesados no país entre 2006 e 2016?
Sempre que eu assisto a algum show de bandas como ruído/mm, Huey, Testemolde, Kalouv, Mais Valia, Cadu Tenório etc, eu reforço uma convicção particular de que o Brasil tem uma das melhores cenas subterrâneas do mundo, nós só não sabemos disso. Talvez só nos falte o marketing… Mas eu tenho muito orgulho em tirar uma foto hoje e ver que bastante coisa embaixo dessas tags post-rock, instrumental etc tem alguns links com a Sinewave. Acho que o cenário está crescendo bastante, várias bandas ocupando espaços, e ainda mantendo uma aura marginal e subversiva que eu acho fundamental ter.
E como anda a Sinewave Label? Como tá o fluxo de lançamentos e o que vem por ai?
Esse ano está sendo o mais movimentado da história do selo. Já lançamos 19 trabalhos até agora (nossa média é 10, 12), e tem mais material vindo aí até o final do ano. Também fizemos o Palco Sinewave no Dia da Música, montando um palco do zero no Largo da Batata, e acabou sendo nosso projeto mais bacana até hoje. Estamos nesse momento investindo mais em streamings nas grandes plataformas (Spotify, Deezer), graças a uma parceria de distribuição com a Tratore, e esperamos publicar a maior parte do catálogo por lá. E queremos fazer mais, lançar mais bandas, fazer mais shows. Fazemos parte de um cenário que se retro-alimenta de barulho, então quanto mais, melhor.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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Elson Barbosa (2011): “Ninguém sobrevive de música nesse contexto semi-independente” (aqui)