por Marcelo Costa
“Esperando Acordada”, de Marie Belhomme (2015)
Perrine toca violino e é quase uma musicista profissional, profissão que a ajuda a ganhar uns trocados animando aniversários infantis e festas em lares de idosos, sempre com fantasias esdrúxulas. Sua rotina é aparentemente tediosa, mas ela leva a vida de uma maneira leve, ainda que desastrada. Em casa, sofre com a visita constante de um rato, que ela quer capturar sem fazê-lo sofrer. No “trabalho”, sempre se mete em alguma enrascada. E é na correria entre um bico e outro que Perrine acaba se envolvendo num acidente aparentemente fatal: perdida, ela para em um local e ao pedir, desastradamente, informação a um homem, o derruba em um posto de reciclagem, ele bate a cabeça e fica desacordado, aparentemente morto. Ela liga para um hospital, mas não pode esperar a ambulância porque precisa trabalhar, o que a deixa sem saber o que aconteceu. Na sequencia da trama, Perrine descobre que o tal homem está em coma e, culpada, começa a visita-lo, “invadindo” sua vida. Com o título original de “Les Chaises Musicales”, “Esperando Acordada” é uma comédia romântica descompromissada e previsível que ganha pontos com a atuação radiante de Isabelle Carré (Carmen Maura fica em segundo plano, eficiente) e soa interessante pela maneira com que Perrine se envolve com a vida do homem em coma numa premissa que poderia ser aproveitada de maneira mais profunda, mas que o roteiro, superficial, apenas utiliza como trampolim para uma narrativa que busca sorrisos e leveza. O resultado final é um filme bobinho e esquecível.
Nota: 5
“Café Society”, de Woody Allen (2016)
São 80 anos de idade, 50 deles dedicados ao cinema em mais de 60 filmes (50 deles assinando o roteiro – 16 indicados ao Oscar –, 40 e tantos dirigindo e outros 40 e tantos atuando), alguns deles obras primas da sétima arte, por isso não é a toa que todo novo filme de Woody sofra de expectativa e comparação. Porém, o cineasta vive uma boa fase em sua sexta década filmando – o último tropeço feio é o desastroso “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, de 2010, e mesmo “Magia ao Luar” (2014), que soa bobinho, tem sua graça. “Café Society” não tem a força de “Blue Jasmine” (2013), mas figura entre os melhores da filmografia recente do homem, que aqui reúne um apanhado de referências de outras histórias que já filmou alcançando um resultado eficiente. Woody transporta a trama para os anos 30, época em que o jovem Bobby (Jesse Eisenberg) decide mudar-se de Nova York para Los Angeles sonhando trabalhar com cinema. Há resquícios do genial “Tiros na Broadway”, de 1994, via gângsteres, de “A Era do Rádio”, de 1987, na (boa) subtrama do tio comunista, do triangulo amoroso de “Vicky Cristina Barcelona“, do ar intelectual de “Meia Noite em Paris” e um número impagável de piadas de judeus que rememora “Annie Hall” (1977), tudo isso para bater sutilmente (como praxe, para o bem e para o mal) na tecla de que vivemos sobre um castelo de cartas de aparências, fama e glamour, e que por trás da beleza das grandes cidades há muita sujeira, temas que ele circunda há umas cinco décadas, e que reforça sua desilusão para com o mundo. Assim, Woody novamente mais acaricia a ferida do que enfia o dedo, situação que frustra, mas não impede que “Café Society” soe acima da média.
Nota: 7.5
“Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert (2016)
Partindo de uma analogia musical, se o brilhante e delicadamente imponente “Que Horas Ela Volta?” pode ser considerado o “Nevermind” de Anna Muylaert, este subsequente “Mãe Só Há Uma” é nada mais que seu “In Utero”. Para quem não é lá muito aprofundado na discografia do Nirvana, “Nevermind” era o álbum pop punk inteligente perfeito que vendeu milhões de cópias, uma surpresa mesmo para seu idealizador, Kurt Cobain, que optou pela sujeira rock and roll no disco seguinte, “In Utero”, de propósito. Não que Anna (tal qual Kurt) esteja usando “Mãe Só Há Uma” para afastar os fãs de “Que Horas Ela Volta?”, muito pelo contrário, mas o contraste dos filmes lembra bastante este momento marcante da música pop dos anos 90. No caso de “Mãe Só Há Uma”, porém, o que Anna parece fazer é atender de forma atenciosa as necessidades do filme, e o resultado é outra obra brilhante e imponente. Na trama, a vida do adolescente Pierre vira do avesso quando se descobre que ele foi roubado ainda bebê na maternidade, e cresceu sob os cuidados de uma mulher que se apresentava como sua mãe, sem ser. O excelente roteiro, porém, não está interessado em reencontros movidos a trilha melosa buscando lágrimas fáceis, mas sim no choque de expectativas de uma família que foi roubada na maternidade, e agora ensaia roubar a vida de seu próprio filho. Tão profundo e repleto de temas quanto “Que Horas Ela Volta?”, “Mãe Só Há Uma” discute de forma sublime a (in)adequação da classe média, perdida em suas próprias conquistas, e merece a mesma atenção de seu antecessor mostrando o excelente momento cinematográfico de Anna Muylaert.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Eita, sério q vc acha o filme de 2010 do W. Allen desastroso? Achei tão legalzinho.
Eu não vi desastre em “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, embora ele não seja páreo para “Matchpoint” ou para “Blue Jasmine”, meus Allens recentes favoritos. Por outro lado, em “Meia Noite em Paris” e “Para Roma Com Amor” a coisa desandou bem mais para os lados do desastre…
pra começo de conversa: woody nunca fez um filme desastroso. e segundo: in utero é o disco mais foda dos 90 e disparado o melhor da discografia do nirvana.
Interessante.
vi ontem Café Society e não gostei.
geralmente, os atores são bem escalados para seus filmes, mas o que a Stewart estava fazendo num papel que exigia uma atriz com sex appeal (Scarlett estava com agenda cheia?) para conquistar 2 homens tão distintos? Ela está desconfortável em todas as cenas.
Carrell, Judy Davis e Black Lively (surpreendentemente) são os únicos que fizeram um bom trabalho. Há excessos de personagens descartáveis (Parker Posey pra quê?). E a sub-trama do Stoll não funcionou para mim, com as piadas de gângsters e de judeu virar católico por causa da morte.
Aliás, única cena engraçada é com a prostituta, o resto do filme é um romance sem-graça.
consertando, nome da atriz que achei boa que interpretou a mãe do protagonista é Jeannie Berlin