por Adriano Mello Costa
“Quadrinhos Insones”, Diego Sanchez (Editora Mino)
Terceiro lançamento do quadrinista Diego Sanchez pela Editora Mino (antes haviam sido publicados “Hermínia” e “Perpetuum Mobile”), “Quadrinhos Insones” é apresentado com acabamento em brochura, ótimo tratamento gráfico (com direito até a capa que brilha no escuro), em preto e branco e 96 páginas. Trata-se de uma coletânea que reúne trabalhos publicados online desde meados de 2012 e mostra um autor experimentando na busca por encontrar a própria linguagem e expressão, mas que já apresenta alguma consolidação nos temas que aborda nas tiras e páginas. Com um traço rabiscado e minimalista, explora diversos formatos possíveis dos quadros nas folhas, adicionando um humor cínico e autodepreciativo para invadir temas como solidão, amor, sexo, tristeza e relacionamentos. Ainda que Diego Sanchez sempre explore pequenas brechas abertas do cotidiano que não são notadas na correria diária, o principal tema exposto em “Quadrinhos Insones” e que direciona melhor esse compêndio é a solidão. Não aquela solidão espelhada e com aspecto mais tradicional, mas sim a solidão disfarçada dos dias atuais de milhares de contatos via redes sociais, mas sem aprofundamento algum. Aquela solidão que te incute a noite em casa mesmo depois de passar o dia conversando com pessoas e mais pessoas no meio da rua. Aquela solidão que faz com que tudo seja impessoal demais para valer a pena realmente. Some-se a isso o cinismo da maioria das relações dos nossos dias, tanto amorosas quanto profissionais ou rotineiras e temos montado na mesa o campo explorado com maior qualidade por Diego Sanchez. “Quadrinhos Insones” é a perfeita concepção de um trabalho underground, sem formas pré-definidas ou visualizações comuns que ganha amplitude na divulgação via internet, mas que se consolida mesmo como parte integrante desse novo e interessante momento do quadrinho nacional a partir desse lançamento.
Nota: 7
“Kings Watch: Defensores da Terra”, de Marc Laming e Jordon Boyd (Editora Mythos)
Os céus são tomados por luzes estranhas resultando em um fenômeno que, por mais que as agências governamentais procurem entender e processar, não há explicação visível. As pessoas são tomadas por pesadelos repletos de criaturas estranhas instigando o caos. Será o apocalipse surgindo? O mundo vai acabar? No meio desse cenário de incerteza e pânico é que o roteirista Jeff Parker insere a minissérie “Kings Watch: Defensores da Terra”, primeira reunião de três famosos personagens da King Features Syndicate, empresa criada há mais de 100 anos. Hoje, Flash Gordon, Fantasma e Mandrake estão com os direitos de publicação nas mãos da Dynamite Entertainment, a responsável por essa reunião. A editora já havia lançado aventuras individuais do Flash Gordon e do Fantasma, mas ao juntar o trio remete a série animada dos anos 80 que já mostrava os heróis na batalha contra o mal. Originalmente a minissérie saiu nos EUA entre setembro de 2013 e janeiro de 2014, sendo que agora a Mythos Books em um trabalho primoroso (como é de costume) faz essa compilação em um álbum de luxo, com capa dura e extras que vão de capas alternativas e esboços de personagens a trechos da criação e do roteiro. Com arte de Marc Laming e cores de Jordon Boyd, os clássicos personagens acabam se interligando meio sem querer para resolver um problema maior que o pânico indica, já que o culto armado intitulado Cobra está se armando de artefatos específicos para que Ming, o imperador do planeta Ming, invada e conquiste a Terra. “Kings Watch: Defensores da Terra” é uma aprazível e espirituosa aventura que tem como maior distinção fazer com que personagens tão antigos, que galgaram tantos e tantos para a paixão pelos quadrinhos, ainda consigam soar interessantes hoje em dia. Os criadores Lee Falk (Mandrake e Fantasma) e Alex Raymond (Flash Gordon) ficariam orgulhosos disso.
Nota: 8,5
“Patrulha do Destino: Rastejando dos Escombros”, de Grant Morrison, Richard Case e Scott Hana (Panini Comics)
A Patrulha do Destino é uma criação de Arnold Drake, Bob Haney e Bruno Premiani em meados dos anos 60, um grupo de potenciais heróis que desvirtuavam absurdamente do cenário da época. Seus membros são desajustados, renegados ou estão a um passo de cair em um precipício. Para melhorar, o chefe do time é um cientista irascível, de difícil conversa e preso a uma cadeira de rodas, o que o deixa mais bruto ainda. O grupo era o lado b da DC Comics (apesar do sucesso inicial). No entanto, nem que fosse pela estranheza ou pelo fato de não ser igual aos demais heróis da editora, a Patrulha angariou fãs e um deles foi Grant Morrison. Em 1988, ainda distante do status (merecido) de mestre que hoje lhe direcionam, Grant aceitou cuidar das edições mensais da revista, mesmo assoberbado. O primeiro arco dessas histórias a Panini Comics publicou por aqui no início de 2016 em um encadernado com 196 páginas chamado “Patrulha do Destino: Rastejando dos Escombros” contendo as edições 19 a 25 publicadas em 1989. Com arte de Richard Case e Scott Hana, Morrison conseguiu não só revitalizar a trupe como cravar uma fase que até hoje pode ser considerada como uma das melhores. Com todo o arcabouço de referências que costuma utilizar, o escocês maluco se aproveitou de uma saga da época chamada “Invasão” e pediu que vários membros fossem mortos, voltando assim basicamente aos personagens iniciais. A primeira das edições contida no encadernado se passa principalmente em alas de hospitais e aí já vemos todas as peculiaridades que irão se apresentar enquanto brigam com vilões bem diferentes do usual. Entre um homem que para não morrer teve o cérebro aprisionado em um robô e não consegue viver com isso, um jovem que é fundido a uma doutora para gerar um ser de energia, um herói que não quer ser herói e uma mulher que sofre com 64 múltiplas personalidades, não dá para se esperar histórias comuns realmente. Isso na mão de um autor como Morrison é mais que prato cheio e “Patrulha do Destino: Rastejando dos Escombros” é o tipo de quadrinho que desmonta qualquer teoria ridícula sobre a qualidade desse tipo de arte, resultando em um compêndio de histórias inteligentes e retumbantes.
P.S: Só a qualidade do papel que podia ser melhor.
P.S: A Panini já lançou dois outros volumes com a sequência dessas histórias que são tão recomendáveis quanto o primeiro.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop