Entrevista: Supercombo

por Marcos Paulino

Afinal, quem é Rogério? Foi essa pergunta que os fãs se fizeram quando o Supercombo anunciou que esse seria o título do quarto disco da banda, recém-lançado. Surgida por acaso, a ideia de dar nome de gente ao CD se mostrou uma boa sacada, como contam o vocalista e guitarrista Pedro Ramos, a baixista Carol Navarro e o tecladista Paulo Vaz nesta entrevista ao Plug, parceiro do Scream & Yell.

Pedro, Carol e Paulo junto ao guitarrista e vocalista Leo Ramos e ao baterista Raul de Paula, formam o quinteto que ganhou projeção em 2015, ao ficar no top 12 do Superstar, concurso de bandas da TV Globo. Surgido em 2007 na capital capixaba, Vitória, o grupo apresenta um novo disco com uma arte gráfica caprichada, com direito a uma brincadeira com uma lente vermelha, que acompanha o encarte, criação de Juarez Tanure.

“Rogerio” (ouça no Spotify) traz 12 faixas em que o Supercombo reafirma a sua mistura de rock com outros ritmos e, com letras bem urbanas, fala de assuntos difíceis, como a eutanásia, de maneira até leve, a exemplo do que fez com o suicídio no álbum anterior, “Amianto” (2014). Lucas Silveira, da Fresno, Sergio Britto, dos Titãs, Negra Li e amigos das bandas Far From Alaska, Scalene, Oficina G3 e Medulla participam como convidados. Confira a entrevista.

De um ano pra cá, muita água passou embaixo da ponte do Supercombo. Em 2015, a banda estava começando a colher os frutos da participação no Superstar. Agora, já tem no currículo shows no país todo, inclusive em festivais como Lollapalooza e Planeta Atlântida. Como vocês se sentem neste novo status?
Paulo – A gente está muito feliz com tudo isso, era o que vínhamos buscando há nove anos. Houve uma evolução em todos os aspectos, primeiro de público e segundo de conhecimento das pessoas que escutam nossa música. Viajamos o Brasil inteiro e conseguimos ter um contato com as pessoas, conversar com elas, entender por que elas gostam do nosso som, da maneira que a gente se porta, das coisas que a gente fala. Atingimos um patamar de conseguir tocar em lugares melhores, e assim conseguimos levar nossa mensagem de uma maneira mais ampla e bem clara. Subimos um degrau de cada vez, e subimos aquele que nos permite falar pra muito mais pessoas. Essa foi a maior evolução que a gente teve.

Que mudanças vocês enxergam na sonoridade e nas letras da banda se comparados o disco novo com “Amianto” e com os mais antigos?
Paulo – Aconteceu um amadurecimento de todos da banda. Particularmente, gosto dos quatro discos, mas acho que “Rogerio” é o disco mais maduro, porque houve uma transição muito grande entre o “Sal Grosso” (2011) e o “Amianto” (2014), tanto de público quanto de sonoridade. “Rogerio” (2016) é o disco mais complexo musicalmente falando, mas entrega a mensagem verbal mais fácil. A gente veio aprendendo, com os três últimos discos, a ter uma linguagem musical. Somos uma banda de rock que mistura vários elementos de vários estilos musicais. E fomos aprendendo como chegar diretamente com as letras na vida das pessoas. A coisa em que a gente mais trabalha é retratar o cotidiano. O “Amianto” foi o disco que transformou nossa cabeça em relação a como falar com um público com idades mais diversificadas. Nele, falamos com pessoas de 15 a 20 anos, mas também com os pais delas. Nos shows, os pais vinham falar com a gente, e ficamos muito surpresos com isso. As mensagens que iam pros jovens estavam servindo pra todo mundo. O “Rogerio” também consegue falar com pessoas de mais idade. Nosso público-foco vai de 15 a 30, 35 anos, mas a linguagem ficou mais madura. Continuando a tratar de assuntos que fazem diferença na vida das pessoas e das nossas também, ele é o ponto de virada, até pela idade de todos da banda. Nesse disco, conseguimos enxergar realmente como devemos falar com as pessoas que querem ouvir nosso som.

Vocês acreditam que o público do Supercombo está mais maduro porque amadureceu junto com a banda ou justamente porque vocês conseguem falar melhor com pessoas mais velhas?
Paulo – Faz todo sentido essa pergunta. Na verdade, a gente tomou muito cuidado com o público que vem amadurecendo com a banda, pra que ele não tomasse um choque, já que o “Rogerio” é um disco mais aprofundado em vários assuntos. Então a gente se preocupou com os fãs da banda que vêm nos acompanhando há muitos anos e também em falar de assuntos como a eutanásia para um público que não tinha acesso a esses temas musicados. Assim como em “Amianto” contamos a história de alguém que queria tirar sua própria vida. A gente acabou pegando um momento de transição do público, que queria ouvir sobre esses assuntos, e também de transição da nossa geração.

Carol – Estou com 30 anos, e as questões não param de acontecer na nossa cabeça. O que acontece é que o adolescente é mais questionador, é curioso, quer entender mais do mundo. Conforme você vai vivendo, vê que certas coisas continuam sendo problema, que enxergará o mundo de um jeito ou de outro. Isso é uma questão de vida, e não de idade. Acho que a gente agrega mais o público jovem por essa estão da vida e do mundo.

No encarte, o Teco Fuchs, produtor do disco, escreve uma mensagem afirmando que “a Supercombo hoje está em algum lugar entre o ‘Rubber Soul’ e o ‘Revolver’, e com certeza rumando para o seu ‘Sgt.t Pepper’s’”. O que vocês acham disso?
Carol – O Teco é um viciado em Beatles, as citações dele são só baseadas nisso aí. Mas eu não sou profunda conhecedora dos Beatles. [Risos]

Paulo – Todos da banda conhecemos o Teco há vários anos. Entendo que ele quis dizer que “Rogerio” foi um disco muito complexo pra ser criado, porque pegamos elementos que normalmente não seriam usados da maneira que usamos. Por exemplo, fizemos um reggae, que normalmente tem uma divisão quatro por quatro, em uma divisão três por quatro, que é uma levada de valsa. Conseguimos montar canções que chamaram a atenção pra outra vertente. Ele quis dizer que conseguimos ousar nos arranjos e nas letras pra falar sobre assuntos que a gente achava que tinha que falar.

Vocês capricharam no projeto gráfico do disco, o que é cada vez mais raro, porque muitas pessoas acabam conseguindo as músicas na internet. A ideia foi realmente motivar os fãs a terem o CD?
Carol – Essa preocupação veio porque estamos numa era digital, em que as pessoas não compram mais o disco, e tudo está sendo voltado pra que ele seja lançado digitalmente. A preocupação que tivemos em fazer o disco físico foi justamente que a parte gráfica estivesse inserida no contexto musical.

Pedro – O lance do disco hoje em dia é mais como um souvenir. A galera que acompanha a gente compra porque quer que a gente assine, quer colocar o pôster na parede. Apesar de vivermos nessa era digital e sermos muito modernos, a gente é meio velho também. [Risos] Estamos ligados no gosto de ter o disco na mão. A brincadeirinha da lente foi uma sacada muito legal do Juarez, vamos usar até nos shows. Ele tem muito apreço por esse lado gráfico e desde o “Amianto” ele tem feito isso pra gente.

Inevitável falar do Rogério, que foi uma sacada e virou buchicho entre os fãs, com várias teorias sobre quem é esse personagem. Vocês estão se divertindo com isso?
Pedro – O engraçado é que o nome surgiu antes da história. No meio da turnê do “Amianto”, todo mundo perguntava o nome do disco novo. Em alguma entrevista, de brincadeira, o Leo disse que seria Rogerio. E todos acharam muito ruim esse nome. [Risos] Quando começaram a surgir as letras, veio a concepção de criar esse personagem, que é tipo o alter ego ruim das coisas, aquele lado ruim que todo mundo tem dentro de si. E aí fez sentido colocar um nome ruim, mas que tinha uma explicação muito boa por trás, e o disco inteiro foi temático em cima disso. O resultado foi muito massa, gosto muito das letras e do modo como elas encaixam o Rogério.

Algum Rogério já reclamou disso?
Pedro – Não, não. [Risos] Uma galera veio agradecer por divulgar o nome deles.

Carol – Se sentiram homenageados. [Risos]

Vocês conseguiram reunir no disco vários convidados, representantes de diversos gêneros musicais. Como foi essa seleção?
Pedro – Foi natural. Temos muitos amigos músicos e talentosos e temos que aproveitar disso. [Risos] Então tem o pessoal da cena, que está sempre com a gente. Tem o Gustavo, da Scalene, a Emily, do Far From Alaska, o Keops e o Raony, da Medulla, o Mauro Henrique, da Oficina G3, o Lucas, da Fresno. E tem o Sergio Britto, que não é tão próximo, mas foi uma parada super legal que aconteceu por causa do Superstar. A gente fez um cover de uma música que ele compôs pros Titãs e a galera gostou muito. Surgiu a oportunidade de trocar uma ideia com ele, que topou participar. Pô, a gente cresceu ouvindo Titãs, é muito legal ter um cara desse patamar fazendo parte de um disco nosso.

Carol – Agregar a galera faz parte do pensamento que estamos construindo de levantar a cena e movimentar essa galera nova que está tocando.

Pedro – Uma galera que se preocupa com a qualidade, desde a arte do disco até como vai ser o show e o atendimento dos fãs. Tem muita banda legal no Brasil com essa preocupação em comum. E algumas que não têm, estamos tentando trazer isso à tona e fazer com que a cena cresça e mais bandas de rock possam aparecer no mainstream.

Quais os planos em relação a shows?
Pedro – Já fechamos várias datas para lançamento do disco novo, que é o nosso principal foco. São músicas difíceis de tocar e estamos ansiosos pra fazer isso ao vivo.

Carol – Estamos preocupados não só em soar bem musicalmente, mas também em como fazer o show ser um espetáculo visual.
Pedro – Isso é uma novidade pra gente, porque somos uma banda meio crua, o que a gente faz é muito visceral. Nunca tivemos muita preocupação com o espetáculo.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.

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4 thoughts on “Entrevista: Supercombo

  1. Quando ouvi a música dessa banda na 89 FM “Eu queria sorrir mais, abraçar meus pais, viajar o mundo e socializar” achei que era uma banda de adolescentes. Mas pela matéria agora descobri que não, é só as letras mesmo.

    1. Meu primeiro impacto com a banda foi o mesmo. Uma amiga me indicou, mas ouvindo com pouca atenção me pareceu uma banda adolescente e sem mais.
      Porém, passei a escutar com outros ouvidos depois de assistir o lyric videos de Amianto. Então percebi que além dos refrões estão a profundidade psicológica e reflexões contundentes. Ainda não consegui dar muita atenção a outros álbuns além de Amianto, mas vou ouvir Rogério agora mesmo!

      1. No exato momento que leio seu texto, ouço Rogério. Tenho a mesma impressão e ouvi Amianto loucamente.

    2. Acho que você precisa ouvir as letras com mais atenção, não apenas a que toca na “forçada” Rádio Rock.

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