por Pedro Salgado, de Lisboa
“Nove Canções”, Lourenço Crespo (Cafetra Records)
A estreia com nome próprio de Lourenço Crespo define-se por uma abordagem livre a temas simultaneamente divertidos e satíricos, adotando um timbre semelhante a do B Fachada e explorando a singularidade das suas histórias pessoais na companhia dos teclados. O tom animado do disco evidencia-se nas canções “Novo Par” ou “Tudo O Que Dizes”, privilegiando os jogos vocais e as batidas dançáveis, apenas contrariados pela melancolia ambiental de “Sé”. Outro aspeto importante do álbum é o apurado sentido melódico das diversas faixas, que resulta numa dinâmica sonora em conjugação com o carácter exploratório e a qualidade da mensagem artística exibida. Com a edição de “Nove Canções”, Lourenço Crespo confirmou o talento que já tinha demonstrado em várias bandas do selo Cafetra Records (Kimo Ameba, 100 Leio ou Iguanas) e assina uma coleção de pequenas pérolas pop que desperta curiosidade para os seus novos desenvolvimentos.
Nota: 8 (ouça no Bandcamp)
“Capitão Fausto Têm Os Dias Contados”, Capitão Fausto (Sony Music Portugal)
O novo disco do Capitão Fausto retrata a emancipação pessoal e os efeitos da mudança de vida nos integrantes do grupo, que se reflete em canções tranquilas, por oposição ao teor psicodélico do anterior trabalho (“Pesar O Sol”, de 2014). A influência do Belle & Sebastian e a incorporação de cordas, sopros e metais são as marcas mais evidentes da renovada sonoridade da banda, num trabalho que assume a forma de um diário com continuidade. “Capitão Fausto Têm Os Dias contados”, embora possa aparentar um caráter transitório, espelha o momento criativo do grupo de Tomás Wallenstein e a sua capacidade de desenvolver uma musicalidade cativante e universal. “Morro Na Praia” e “Amanhã Tou Melhor” representam os grandes momentos de pop barroco do álbum enquanto “Corazón” recorda o existencialismo de “Pet Sounds” e a grandiloquente “Alvalade Chama Por Mim” sintetiza o sentimento coletivo da banda lisboeta. Globalmente, o mais recente trabalho do Capitão Fausto é o seu melhor de sempre.
Nota: 9 (ouça no Spotify)
“Sirumba”, Linda Martini (Universal Music Portugal)
“Sirumba” representa um reforço da componente rítmica e harmônica das canções do Linda Martini, sem trair o caráter explosivo que define a sua sonoridade. Para além desses fatos, o disco é igualmente marcado pela melancolia e o grupo lisboeta recorre à utilização de cordas e alguns elementos da música eletrônica e do free jazz, revelando o cuidado que a banda dedicou a explorar novas correntes musicais. O single “Unicórnio de Sta. Engrácia” beneficia de um riff certeiro em sintonia com a catarse instrumental desenvolvida, “Farda Limpa” (com seção de metais) apresenta o Linda Martini num momento vibrante superior e “O Dia Em Que A Música Morreu” completa o lote das melhores faixas do álbum, pelo seu traço distintivo, gerando vários ambientes sonoros dentro da mesma canção. De um modo geral, “Sirumba” mantém o teor exploratório de “Turbo Lento” (2013), mas é mais inspirado e apresenta um conceito estruturado que ordena o caos instrumental característico do Linda Martini.
Nota: 9 (ouça no Spotify)
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui