Conexão Latina: Yoyo Borobia

por Leonardo Vinhas

Desde que se começou a se aventurar como artista solo, a venezuelana Yoyo Borobia já apresentou muitas mudanças na forma de encarar suas próprias canções. De um trabalho mais intimista calcado num ponto entre o folk romântico e a chanson française ao pop de aspirações multitudinais de seu disco de estreia, passaram-se apenas dois anos.

Na verdade, a história não é tão breve assim. Yoyo canta desde a infância e assumiu o cuatro, um instrumento de cordas típico da música popular de seu país, como o primeiro veículo para mostrar suas composições. Porém, desde que saiu de Caracas, Yoyo morou na Espanha, França e no Brasil, e a diversificação das propostas de suas canções reflete esse nomadismo. No álbum homônimo que lançou no finalzinho de 2015, há ecos de pop francês sessentista (“Castle In The Air”), trip hop (“Triste História”), folk andino (“No Tan Lejos Así”, que originalmente tinha título – “Pas Si Lon que Ça” – e letra em francês) e uma sincopada híbrida que acena tanto ao Brasil quanto à Colômbia (“Mundo Virtual”). São acertos que, junto com a presença constante na estrada, ajudaram a leva-la ao Glastonbury.

Artisticamente, “Yoyo Borobia”, o disco, é irregular – há momentos que remetem ao pop new age dos anos 90 (?!). Ao vivo, se nota semelhante inconstância: ela alterna apresentações carismáticas e com domínio da audiência, e outras onde parece estabelecer uma separação entre sua persona de palco e o público. Mas a evolução da sua proposta inicial para seu momento atual é inegável, e somando-a com sua disposição para encarar qualquer palco em qualquer parte do mundo, estão presentes as condições para que seu trabalho e seu nome possam ir além do circuito indie onde hoje transita.

Por isso o Scream & Yell – que já presenciou shows da moça no Brasil e no Uruguai – aproveitou para conversar com Yoyo sobre esses últimos dois anos. O papo aconteceu online, como convém (ou não?) à compositora de “Mundo Virtual”.

Seu disco ficou bem diferente da proposta mais acústica que você vinha apresentando ao vivo. O que levou a essa transformação das canções?
Eu comecei a desenvolver meu trabalho autoral num formato de quarteto, fizemos várias apresentações em São Paulo com o formato violoncelo, violão, bateria / percussão e cuatro. Posteriormente passei uma temporada no Recife, onde conheci o pessoal do Festival Brasileiro de Música de Rua, do qual vim a participar em 2015. Minha viagem a Recife foi uma viagem na qual toquei muito em formato solo, apenas cuatro e voz. Isso nada mais é que uma maneira intimista para apresentar meu repertório. Acredito que um trabalho autoral, como é o meu, permite ao artista apresentar diversos formatos, sempre guardando esse respeito à canção, que são minhas histórias, melodias e poesias. O resto é só arranjo. A transformação, no caso, do arranjo, e não das canções, foi pela minha parceria posterior com o produtor Dj Deeplick, que começou a produzir comigo e me encantou com sua sonoridade e seu jeito de trabalhar, assim decidi incorporar novos timbres, menos acústicos é mais eletrônicos ao meu trabalho.

São arranjos que mudam bastante as canções. O quanto Deeplick foi decisivo nessa transformação? Ele parece ter sido um elemento ativo no processo de composição.
Não, sempre falei de transformação do arranjo, não das canções. As canções são as mesmas: mesmas melodia, harmonia e estrutura. Como toco sozinha, é impossível tocar tudo o que soa na minha cabeça. O produtor participou comigo da colocação destas melodias que me acompanhavam na minha cabeça, ajudou a escolher timbres, procurar coisas novas, mas sempre estamos falando de arranjo, não de recompor as canções. A canção “Lotus”, essa sim fizemos em parceria. O resto são minhas composições produzidas deliciosamente pelo Deeplick, querido amigo e parceiro que soube trabalhar comigo de uma forma muito produtiva e eficiente.

Hoje você se apresenta ao vivo com trilhas pré-gravadas. Entendo que isso facilita a logística da estrada, mas não te deixa amarrada como intérprete e mesmo como musicista?
Atualmente me apresento de diversas maneiras e com diversos parceiros músicos, na América Latina e na Europa. Em função do espaço, público e proposta, seleciono o formato no qual vou me apresentar. Meu objetivo é chegar até onde o vento me levar, tentando evitar o máximo de obstáculos – isso é, se o orçamento menor de um festival só me permite ir em formato solo, isso não pressupõe uma desvantagem para mim, pois me considero uma artista completa, capaz de apresentar meu trabalho mesmo sozinha, usando meu instrumento, meus loops e cada vez mais interagindo com a minha sessão do [sequenciador] Ableton, que às vezes uso também como trilha mesmo, e em outras uso partes e interajo com os samplers. Não me sinto amarrada em nada.

Você é venezuelana, mas passou boa parte da sua vida na Espanha e também na França. E já está no Brasil há tempos. Acredita que um país tenha sido predominante na formação de sua identidade como compositora?
É difícil dizer. Comecei a tocar o cuatro, meu instrumento quando tinha sete anos, depois parei e desenvolvi minha carreira como vocalista, sem tocar no palco. Sempre vieram melodias diversas a minha cabeça, na Venezuela, na Espanha, na França, no Brasil… Eu as guardava e nunca finalizei essas canções que estava criando sem querer. Esse trabalho de começar a acabar minhas canções tem pouco mais de dois anos. Já morava no Brasil, porém sinto sim que vem muita coisa de longe, melodias que sempre estiveram comigo ao longo da minha vida e que agora finalmente estão expostas para serem ouvidas.

Como surgiu o convite para tocar em Glastonbury?
Justamente naquela temporada no Recife participei do Porto Musical, uma feira de negócios da indústria musical aonde trazem vários programadores, selos e artistas diversos para fazer esse link entre eles. Ali o pessoal do Festival Brasileiro de Música de Rua conheceu meu trabalho e também um dos produtores do Glastonbury Festival, que quando ouviu meu álbum já produzido resolveu me convidar.

Vai aproveitar a viagem para fazer outros shows na Europa? Já tem uma turnê agendada?
Sim, claro, temos umas 13 datas confirmadas. Começamos a turnê pela Espanha tocando em Madrid, Zaragoza e San Sebastián, posteriormente vamos para Glastonbury, duas datas em Londres e mais quatro datas confirmadas na Bélgica. Temos ainda mais alguns convites por confirmar. Depois, retomaremos a turnê por Portugal, tocando dia 6 de agosto na Casa da Música de Porto e muitas outras datas. Está tudo aqui.

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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