por Marcelo Costa
“Como Eu Era Antes de Você”, de Thea Sharrock (2016)
Lançado em janeiro de 2012 no Reino Unido, o romance “Me Before You” foi o oitavo livro de Jojo Moses, que nunca tinha tido um grande sucesso. “Meu marido e eu costumávamos brincar que seria o livro que mataria minha carreira, mas foi o contrário”, contou a escritora em uma entrevista cativante para a Woman & Home. Essa adaptação para o cinema custou 20 milhões de dólares e já faturou 8 vezes mais (US$ 160 milhões). Com elenco fisgado de franquias (Matthew Lewis, de “Harry Potter”; Emilia Clarke e Charles Dance, de “Game of Thrones”; Sam Claflin, de “Jogos Vorazes”; e Jenna Coleman, de “Doctor Who”), “Como Eu Era Antes de Você” é, tal qual o livro, uma comédia dramática básica que já foi escrita e reescrita centenas de milhares de vezes, mas que ganha importância por ser o primeiro filme popular a defender veementemente o direito a eutanásia. Se em “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, a decisão surge de maneira proibida, em “Como Eu Era Antes de Você” é um passo normal para Will, que ficou tetraplégico após ser atropelado por uma moto e não vê sentido em viver assim. A história se baseia na paixão que sua cuidadora sente por Will e seu consequente desejo deste amor demove-lo de seu intento. Há um interessante tratamento dos personagens (reduzidos, como era de se esperar, em relação ao livro) tanto quanto uma superexposição de cores fortes, quentes e belas paisagens num filme corretinho (até banal) como obra de cinema, mas que pode entrar para a história por expor seu tema tabu de uma forma tão veemente.
Nota: 6
“Truman”, de Cesc Gay (2015)
Lançado no final de 2015 na Espanha e na Argentina, “Truman” converteu-se em um grande sucesso de bilheteria, reconhecido (merecidamente) este ano nos Prêmios Goya, o Oscar espanhol, que concedeu ao filme cinco estatuetas (das seis a que ele concorria): Melhor Filme, Diretor (Cesc Gay), Ator (Ricardo Darín), Ator Coadjuvante (Javier Cámara) e Roteiro (dividido entre Tomàs Aragay e o diretor Cesc Gay). Truman, o personagem, é o velho cachorro de Julián (o sempre espetacular Dárin), famoso ator teatral argentino que construiu sua carreira em Madri e está seriamente doente. Um de seus melhores amigos, Tomás (o excelentemente calmo Javier Cámara, que já havia vencido o Goya por sua atuação em “Viver é Fácil Com os Olhos Fechados”, de 2013, e sido indicado outras seis vezes ao prêmio, entre elas por seu delicado trabalho em “Fale com Ela”, de 2002, uma das obras primas de Almodóvar), que passou a viver com esposa e filhos no Canadá, deixa o “Polo Norte” (como brinca Julián) para passar alguns dias com Julián em Madri. A grande sacada do roteiro é não apressar as coisas, concedendo aos personagens (e ao cão) o tempo necessário que eles necessitam para cativar a audiência. Assim, Tomás e Julián irão viver alguns dias de forma exuberantemente contida e, ao mesmo tempo, emocional. Comédia dramática delicada (Darin sugeriu a manchete para as peças de publicidade: “Se você quiser chorar, venha ver esta comédia”), “Truman” é daqueles filmes que mostram o quanto o silêncio é importante numa narrativa. Excelente.
Nota: 9
“Janis: Little Girl Blue”, de Amy Berg (2015)
Uma das vítimas do colapso do Verão do Amor e seu clímax psicodélico, Janis Lyn Joplin sofreu uma overdose fatal de heroína em outubro de 1970 entrando para o tristemente seleto grupo dos grandes artistas que morreram aos 27 anos, fato mítico que, muitas vezes, obscurece seu enorme talento. Lançado no final de 2015, este belo documentário não só consegue colocar as coisas em seu devido lugar contextualizando a história de Janis Joplin (suas origens texanas, seus desejos, seus traumas) para as novas gerações como também abre o baú de cartas da artista (lidas por Chan Marshall, uma escolha perfeita), que servem para adentrar o universo de uma jovem garota que, vítima constante de bullying tanto na escola no Texas quanto enturmada em São Francisco, ansiava por fama, amor e reconhecimento, mas não estava preparada para o show-business. Com depoimentos de irmãos de Janis, amigos de escola, músicos da Big Brother and the Holding Company (com quem Janis gravou dois discos), da Kozmic Blues Band e do Grateful Dead, do apresentador Dick Cavett mais DA Pennebaker (o trecho sobre o Festival de Monterey é excelente), Juliette Lewis, Kris Kristofferson, John e Yoko, entre outros, “Janis: Little Girl Blue” é excelente por desnudar a biografada sem soar intrusivo, mercadologicamente polêmico ou tolamente panfletário. Mais: Amy Berg conseguiu contar a história de Janis de uma forma tão leve e graciosa a ponto do filme soar mais alegre (pelo talento de Janis) do que melancólico (sua partida cedo demais). Perfeito.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne