Texto e fotos por Marcelo Costa
Com a experiência de quem vem sacudindo e arrebatando uma multidão de gente ano após ano no disputado carnaval de Salvador, a BaianaSystem baixou em São Paulo para apresentar seu segundo álbum, “Duas Cidades”, em duas noites extremamente concorridas no final de maio no Sesc Pompeia, com os 800 ingressos da choperia esgotados há dias e muita gente na porta do local esperando um convite milagroso sobrar para adentrar a festa baiana. Quem conseguiu deu sorte: viu um dos grandes shows do ano na capital paulista.
O palco é montado de forma alegórica: entre uma carranca e um Cavalo do Cão (“Figuras que dão proteção, mas para isso elas assustam”, explicou ao Noisey Filipe Cartaxo, responsável por toda a identidade visual do BaianaSystem), o palco é dividido em dois com uma imensa mesa de DJ abrigando as pancadas eletrônicas e humanas de Seko Bass, Japa System, João Meirelles e Mahal Pitta. À frente, Juninho Costa divide as atenções com o fundador da banda e mestre da guitarra baiana Roberto Barreto e o mestre de cerimônias Russo Passapusso.
Casa lotada e ânimos bastante exaltados. A sensação é de uma rave politizada, carga climática que o novo disco, produzido por Daniel Ganjaman, amplia. Na frente do palco, um punhado de máscaras com a marca registrada do grupo estão disponíveis para o público, que vai passando de mão em mão. Aos poucos, a frente do palco está toda “fantasiada”. O show começa com o suingue suave de “Jah Jah Revolta 2”, que traz Russo Passapusso cantando “Já não estou entendendo, não devo mais nada”. Mais à frente, o coro responde: “Aqui se faz, aqui se paga”.
“Duas Cidades”, o disco, é fruto da rachadura social provocada pelo relevo de Salvador, com a abastada Cidade Alta e a sofrida Cidade Baixa, e todas as nuances que essa “separação” causa. “Bala na Agulha” acelera a festa e, dai pra frente, será impossível ficar parado. Mesmo. Uma roda é aberta no centro da pista, e a galera dança como se estivesse em uma festa punk num terreiro. Em algum momento, um encontrão arremessa os óculos de um festeiro na pista, e a roda, amiga, trava em busca do objeto. Assim que é recolhido, a festa começa a todo pique.
De rabeca em punho, Siba surge acompanhado de Mestre Nico e mantém o tom politizado com “Quem é Ninguém”, de seu ótimo álbum “De Baile Solto” (2015), além de encorpar com a guitarra a faixa “Cigano”. O show melhora a cada segundo. A poderosa “Lucro” incendeia o lugar, mas é o discurso de Russo em “Playsom” que arremessa palitos de fósforos nos galões de gasolina: “Vamos soltar toda a energia que temos aqui. Você é dono do seu corpo. Levanta o braço, porra”. Os próximos cinco minutos são os momentos mais ensandecidos e delirantes da noite. E inesquecíveis.
Momentos de calma, como “Terapia” e “Afoxoque”, se alternam com os beats porradas de “Forasteiro” (com Russo gritando “Fascistas não passarão” e incendiando a galera) e “Duas Cidades”, a canção do refrão poderoso: “Divi dividir Salvador / Diz em que cidade que você se encaixa / Cidade Alta, Cidade Baixa / Diz em que cidade que você/ Oh oh oh Bagdá…”. Na volta para o bis, um coro intenso de #ForaTemer toma conta do ambiente. Assim que pisa no palco, Russo provoca: “O que vocês estavam cantando mesmo?” E o coro retorna ainda mais forte, emocionando, com muita gente terminando a noite abraçada. Novamente: inesquecível.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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