Entrevista: Wry

por Bruno Leonel

A banda sorocabana Wry voltou à ativa. Uma das mais clássicas formações do rock alternativo brasileiro da virada dos anos 90/2000, o Wry debutou em 1994, quando tocou em festivais como o Juntatribo II, em Campinas/SP, ainda sem disco oficial. Influenciados pelo rock britânico e cantando em inglês, o grupo carregava referências de bandas como Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine, Legião Urbana e U2. Em 1995 gravaram a primeira demo-tape, “Morangoland”, e desde então seguiram tocando por várias cidades do país, e também fora, como durante os 8 anos que viveram na Inglaterra (entre 2001 e 2009). De volta ao Brasil, baseados novamente na cidade de Sorocaba, lançaram o trabalho ”She Science” (2009) e pouco tempo depois entraram em hiato.

De lá pra cá, os membros se envolveram em projetos pessoais (como a inauguração do Asteroid Bar, em Sorocaba) e, mais recentemente, após um celebrado ‘show de retorno’ em 2014, decidiram cair na estrada novamente. A nova turnê parece ter ‘reacendido’ a chama e o grupo inclusive já se prepara para gravar um novo disco de inéditas. Enquanto o trabalho não chega, fãs podem conferir o vinil “Whales, Sharks and Dreams” (Sonovibe), edição especial remasterizada dos EPs “Deeper in a Dream”, lançado originalmente em 2014 e “Whales and Sharks”, lançado na Inglaterra em 2007 pelo selo Club AC30. Com 10 faixas o disco conta com a inédita “Million Stars”.

A formação atual traz Luciano Marcello (guitarra), Ítalo Ribeiro (bateria), William Leonotti (baixo) e o vocalista e guitarrista Mario Bross que adianta, no papo abaixo, que haverá “menos paredes de guitarras, mais espaço pra arranjos diferentes” no novo disco. Ele conta que a banda já tem oito músicas prontas e garante que esse novo álbum já é seu favorito. Dividido entre a banda e o  Asteroid Bar, em Sorocaba, Mario relembra o período europeu do Wry (e de “conversar várias vezes com Kevin Shields”), conta que já tropeçou em discos de ouro do Strokes e lista algumas bandas favoritas do momento. Arrependimentos? “Não mudaria nada”, ele diz. Confira o papo!

Depois de alguns anos sem tocar, vocês fizeram um show de ‘volta’ em 2014 que foi recebido com entusiasmo pelo público. Como foi esse retorno para o Wry? O entusiasmo pra mais shows voltou ali, ou, já tinham planos de prolongar isso?
Depois que paramos em 2010, devido ao Asteroid, que tomava bastante nosso tempo, não pensávamos em voltar, pois o bar alimentava nosso vicio por produção musical. Acontece, porém, que houve um encaixe de datas, onde todos os membros estariam na mesma cidade, na mesma época que celebraríamos a formação do WRY. Foi depois desse show comemorativo que a chama reacendeu de vez e muito mais forte.

Como tem sido a rotina da banda hoje? Com o Asteroid deve ter ficado mais corrido pra todo mundo…
O Asteroid tem uma equipe boa que trabalha com a gente, o pessoal é muito profissional e sabe o que faz. É corrido porque estamos no meio de shows, mas conseguimos tirar de letra e a rotina está muito boa. Lógico que não nos desligados do bar, que é algo que amamos igualmente.

Vi algo sobre o ‘próximo disco’ de vocês ser planejado para soar como um trabalho um pouco diferente. Diferente em quais aspectos? O que dá pra adiantar sobre ele?
Menos paredes de guitarras, mais espaço pra arranjos diferentes nos vários aspectos da canção, e com bastante oxigênio. Eu diria que mais livre, saindo dos limites que um gênero mais exclusivo pode traçar.

Em que passo ele anda aliás? Tem muitas faixas prontas já?
Estamos trabalhando com 8 músicas no momentos e outros ideias surgindo. A gente grava, mas é uma pré-produção, só entraremos em estúdio em definitivo por volta de outubro.

A banda surgiu em uma época onde havia muitas revistas/rádios de rock. Havia todo um ‘aparato’ que contribuía. Hoje os tempos são outros e o rock tem menos espaço na mídia. Esse tipo de coisa pesa para o Wry de 2016?
Hoje é diferente, mas acho que nesse exato momento está surgindo uma nova vida pra música independente, sentimos que está se engrenando apesar de muitos defeitos ainda. Desde a volta já fizemos uns 50-60 shows e dá pra notar uma melhora, uma preocupação maior daqueles que estão organizando. Ainda não chega a ser plausível, mas só o fato de começarem a entender o motor do negócio, é um passo muito legal!

A banda se mudou para Inglaterra em meados de 2000, em uma época onde poucas bandas nacionais arriscavam esse tipo de coisa. Qual foi o balanço dessa temporada? Você faria tudo de novo?
Não mudaria nada, gosto do jeito que foi, até hoje, e (gosto de) onde estamos. É claro que se tivesse mais dinheiro voltaria mais vezes pro Brasil na época gringa. É muito difícil o mundo do “se…”, na verdade. De qualquer forma, nossa época na Inglaterra foi fantástica, anos incríveis, de muito aprendizado. Pontos altos foram os shows grandes que fizemos com Ash, The Subways e The Rakes, o lançamento com o selo londrino Club AC30 e a presença do My Bloody Valentine em um dos nossos shows, que eles amaram, e depois, na minha vida particular, conversar várias vezes com Kevin Shields, um ídolo musical para mim.

Daria pra citar duas bandas nacionais (e duas estrangeiras) da atualidade que vocês gostem do trabalho?
Tame Impala e M83, das internacionais e das nacionais fica difícil, curtimos várias, Lava Divers, Justine Never Knew The Rules, INKY e Thiago Pethit.

Anda rolando um revival de bandas que foram medianamente populares nos anos 90, mas que hoje, de volta aos palcos, percebem que possuem um público ainda maior do que naquela época (como o My Bloody Valentine e o Slowdive) Embora vocês estivessem na ativa por mais tempo (até 2011), você acha que o Wry já tem esse status de banda clássica?
Dentro do alternativo nacional eu diria que sim, apesar de termos vivido aqui até 2001 e depois voltado só em 2009. Depois de 2001 só tocamos no Brasil em três turnês, todas com datas de 15 a 18 shows. Acho que, de certa forma, tem muita gente para conhecer o WRY ainda. Nesses shows de agora tem músicas de todos os trabalhos. Fazemos de 12 a 13 músicas no show num espaço de 60 minutos. Tá bem divertido!

Até aqui, qual você considera o melhor trabalho do Wry? Tem alguma história curiosa dos bastidores da gravação?
Olha, eu achava que era o EP inglês “Whales and Sharks” (que está dentro do LP “Whales, Sharks and Dreams”, lançado em 2016), mas, agora com o novo trabalho que estamos fazendo, posso dizer com clareza e firmeza: o nosso próximo disco é o meu preferido! Alguma curiosidade? Já tropecei em disco de ouro (ou platina) do “Is This It?”, dos Strokes, na época da gravação do “Flames in the Head” (2006), porque gravávamos com o Gordon Raphael, que produziu os dois primeiros deles. E ter Tim Wheeler, do Ash, fazendo backing vocals pra você nas gravações de “In the Hell of My Head” é maravilhoso, né?

– Bruno Leonel (https://www.facebook.com/silva.leonel.900) edita o site RubroSom

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