por Marcos Paulino
Quase metade dos 32 anos de idade que Luiza Possi comemora no final de junho foram dedicados à sua carreira na música. Para quem surgiu como “a filha de Zizi Possi”, ela aos poucos foi ganhando seu espaço e fugindo das comparações com a mãe. Hoje, é figura fácil em programas de televisão e tem seu nome associado a produtos e projetos que vão além de discos e shows.
Apesar disso, decidiu ser econômica na produção de seu oitavo álbum, “LP”, que acaba de ser lançado. Convidou o DJ curitibano Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, para ser seu parceiro na empreitada e, juntos, gravaram tudo na sala da casa de Luiza, tendo a música eletrônica como base. “O Gorky trazia uma placa de som, um microfone bom, uma cúpula de metal que fechava as janelas, íamos gravando as vozes guias”, ela conta em entrevista ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell.
No repertório, predomina o pop: “Começou até ter uma cobrança pra que fizesse um álbum pop, porque as pessoas me acham pop”, diz Luiza. “Foi um mega desafio fazer um disco pop brasileiro, com qualidade de letra e de timbre”, completa. O repertório traz canções do Kid Abelha (“Como Eu Quero”), Pélico (“Meu Amor Mora no Rio”) e Jaloo (“Insight”), uma parceria de Luiza com Thiaguinho (“Aventura”) e uma inédita de Bruno Caliman, autor de sucessos de Munhoz & Mariano, Luan Santana e Bruno e Marrone, entre outros. Confira o papo.
Numa rápida pesquisa no Google, é possível encontrar seu nome em matérias sobre romances seus e de sua mãe, comentando desfile de moda, estrelando propaganda, enfim, numa ampla exposição nem sempre ligada à música. É um cenário bem diferente de alguns anos atrás, quando você apareceu como a filha da Zizi. Como, ao lançar seu oitavo álbum, você encara esse novo status?
[Risos] A marca do meu trabalho, seja ele qual for, no palco, na internet, no disco, é garra. É ir além, apesar de dificuldades, obstáculos, preconceito. Nunca chamei minha mãe pra nada, nunca deixei ela participar, isso é até um grande tabu na minha família. Porque ela queria, mas eu também queria descobrir quem eu era. Na verdade, são 15 anos depois. Não é que de uma hora pra outra passei a ter opinião. Isso passa por entender que a música mudou muito de lugar. Hoje em dia não adianta só cantar. Se você não se comunicar, se as pessoas não puderem se comunicar com você, saber o que você pensa, como você vive, você não fala com o mundo, sua obra não chega. O que não acho de todo bom, não. Mas é assim que está rolando. Pra mim, é fácil, porque sou pra fora, sempre tive uma personalidade aberta, mas as pessoas mais tímidas, recatadas, pra dentro, estão sofrendo muito. Porque agora não basta ter só talento, tem que ser comunicativa, engraçada.
No disco anterior, “Sobre o Amor e o Tempo”, você gravou músicas de artistas muito conhecidos, como Lulu Santos, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto e Erasmo Carlos. Agora você passou pro outro lado, apostou no simples. Como nasceu a ideia desse álbum?
A ideia foi exatamente essa. Primeiro que começaram a ficar muito díspares a minha personalidade e a música que eu estava fazendo. Ficaram muito distantes o tamanho da minha popularidade enquanto personalidade em relação à música que eu fazia. Me toquei que a música que escuto pra curtir, que me emociona ou me diverte, também estava distante do que estava cantando. Então tive que pensar numa aproximação disso. Começou até ter uma cobrança pra que fizesse um álbum pop, porque as pessoas me acham pop. Era verdade, e perdi o medo disso, de achar que só existe nos Estados Unidos. Foi um mega desafio fazer um disco pop brasileiro, com qualidade de letra e de timbre. Agora me sinto madura o suficiente pra fazer. Falei pros meus empresários se topavam fazer uma coisa que não sabia onde daria, sem receita nem endosso. Já fizemos tanto disco pensando que iria dar uma coisa e deu outra. Queria fazer um disco pra eu escutar com minhas amigas. E aí rolou.
Por que você escolheu o Rodrigo Gorky pra te ajudar a fazer esse álbum?
Pra fazer um disco pop, não iria adiantar pegar alguém do meu universo. Então fui atrás de um universo pop contemporâneo. E a gente se deu muito bem de cara. Rolou a ponto de eu não entregar o disco sem ele, porque a gravação era o momento mais feliz do dia, da semana. Viramos muito amigos, e pintou uma parceria que tem cara de ser só o começo.
Como foi a escolha do repertório, no qual predominam parcerias suas com compositores menos conhecidos do público?
Seguimos o conceito de fazer uma coisa mais sensorial, mais sentida, eletrônica, mas que ao mesmo tempo estivesse dentro do que eu já vinha fazendo. Uma curiosidade entre mim e o Gorky é que não discordamos nenhuma vez, em nada. E o lema era: “Vamos dizer sim pra tudo, não existe não”. Então fomos gravando até o que parecia loucura. A gente ficava no sofá de casa ouvindo, compondo, foi tudo muito orgânico, muito natural.
E as letras, como surgiram?
Tem composições minhas em parceria com pessoas que nem conheço pessoalmente. Fiz várias com o Arthur [Gomes, produtor do disco]. Ele me mandava algumas bases, algumas delas feitas em parceria com outras pessoas, aí vinha a ideia e eu fazia a letra, mandava a melodia por WhatsApp… Me inseri nesse universo que o Gorky trouxe.
Como foi a história de gravar todo o disco na sala da sua casa?
Tudo isso que estou te contando foi nesse contexto. Não fomos pro estúdio nenhuma vez. O Gorky trazia uma placa de som, um microfone bom, uma cúpula de metal que fechava as janelas, íamos gravando as vozes guias, pra não perder o tom, pra fazer o arranjo em cima. E ficava assim: “Quando for pro estúdio, a gente vê”. E acabou que não precisou, rolou tudo ali, daquele jeito.
Não é paradoxal que, neste momento de sua carreira, com uma grande exposição, em que poderia optar por um super estúdio, você grave um disco com a simplicidade de quem está começando?
Já fiz discos em que tinha que ser o produtor tal, e aí lutava pra estar no dia certo na cidade certa, sem dormir, e o cara tinha tido um imprevisto e não servia de nada. E tinha que fazer as datas dos músicos caberem, gravar nove vozes por dia… E aí dava graças a Deus quando acabava o disco. [Risos] Até pensamos em mandar o disco novo pra mixar em Vancouver ou Nova York, mas o Bruno [Coppini], que é meu arranjador e maestro de palco, sabe como eu gosto. Trabalha comigo há anos e vai estar perto se eu quiser mudar alguma coisa, sem pensar no ego dele. Quis fazer uma coisa que fosse só gostosa, sem pretensão.
Como será a turnê de “LP”?
Já fizemos São Paulo, Rio, Campos. Vamos pra Bahia, Goiânia, Brasília. Agora o disco lança-se no gerúndio. Vou ficar lançando o disco por um tempo. Ele tem 33 minutos. O que é muito bom, porque consigo apresentar o disco inteiro e ainda tem uma hora de show, quando canto sucessos da minha carreira, releituras que não necessariamente foram gravadas por mim, coisas de outros projetos.
Além da música, no que mais você está trabalhando?
Neste momento, estou muito focada no lançamento do disco. E tem a publicidade e o Lab [seu canal no YouTube], que também tomam bastante tempo e foco.
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.
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