Entrevista: Henrique Cunha

por Bruno Lisboa

Henrique Cunha é conhecido pelo seu trabalho como guitarrista na Câmera, banda responsável pelo elogiado “Mountain Tops”, álbum que figurou na lista de melhores discos do Scream & Yell em 2014. Porém, desde o ano passado, Henrique tem dividido as atenções com a sua carreia solo. E no final de 2015 ele lançou seu primeiro álbum, “My Way Out of Sin”.

Gravado e produzido por Léo Marques (Transmissor), em “My Way Out of Sin” (disponível para download gratuito aqui e em formato físico pelo Facebook do próprio músico) Henrique se distancia das distorções sonoras promovidas pela sua banda principal em prol de tons mais lúgubres, experimentais e com cara de trilha sonora de filmes.

Em entrevista concedida por e-mail, Henrique fala sobre o processo descompromissado e espontâneo de gravação do disco, a participação no documentário ”Guitar Days” e o legado desta geração de bandas que cantam em inglês, suas influências (“Beatles e Radiohead, desde sempre”) e os planos para 2016 com o Câmera (“Estamos ansiosos para trabalhar com músicas novas”) e solo. Com vocês, Henrique Cunha!

Diferente do formato indie rock adotado pelo Câmera, em “My Way Out of Sin” você opta por uma caminho mais silencioso e experimental? Como se deu o processo de criação do álbum?
O álbum começou a nascer em Uberlândia, que é a cidade que trabalho durante a semana, há cerca de três anos atrás. Eu não tinha nem a intenção de gravar na época. Era mais um descarrego das turbulências pessoais. Aí, cerca de um ano depois, eu decidi gravar duas musicas e procurei o Leo Marques. A primeira coisa que falei pra ele foi que eu queria que o processo fosse bem calmo, assim sem pressa e sem muito planejamento. A intenção era dar corpo as músicas no estúdio mesmo – das sete músicas do disco, só três já existiam, as outras quatro nasceram na hora mesmo, completamente espontâneas. Por isso que tem esse ar experimental, porque o Leo embarcou nessa comigo e a gente passou várias tardes de sexta “testando” cada coisa nova que ele comprava. Já o lado mais silencioso e calmo vem de várias influências de música desse tipo que me acompanharam a vida toda.

A sonoridade se assemelha a uma bucólica trilha sonora. Foi intencional?
Quando comecei a fazer as músicas, não era intencional, nasceram assim mesmo. Talvez pela grande influência que o cinema exerce na minha vida e eu acho mágico quando a música cria quase um lugar físico, sabe? Realmente te transporta pra um lugar. Quando percebi que algumas músicas tinham essa característica, decidi mantê-las, não colocar voz, mas criar um ambiente bucólico. Sempre tive vontade de fazer trilhas para filmes, e trabalhar com isso, inclusive lançar trabalhos sonoros vinculados aos visuais, igual o Sigur Ros fez com o “Valtari” (2012). Aquilo é lindo demais e sem dúvida uma inspiração.

Recentemente a banda participou do documentário “Guitar Days” (a ser lançado em breve), que conta a história do cenário musical brasileiro independente. Como você o mercado nacional hoje?
Eu tenho muito orgulho da cena independente nacional hoje. Vejo tanta coisa boa por aí, e de diversos lugares. Por outro lado fico triste por estes artistas e amigos que admiro tanto não terem a visibilidade que eles merecem. O negócio é correria mesmo, pra fazer acontecer tem que correr atrás, mas ao mesmo tempo acho que cada vez mais têm aparecido pessoas interessadas nesse mercado, mais festivais surgindo e mais público. Já o “Guitar Days” foi legal demais de participar. O Caio é um cara louco pelo Rock n Roll e quis compartilhar a história de diversas bandas que cantam em Inglês para mostrar que faz tempo que essa cena tá ai. Gente que toca pelo simples prazer de fazer música, e sendo fiel a ela, sem grandes pretensões comerciais.

De fato a cena musical brasileira tem vivido um grande momento. Quais as bandas novas você tem ouvido e recomenda?
Nossa, tem tanta coisa boa! Tomara que eu não esqueça alguém, mas as que mais tenho escutado são: Terno Rei, Carne Doce, Ava Rocha, Quarto Negro, Leonardo Marques, The Soundscapes, Firefriend, Invisível, The Junkie Dogs e Teach me Tiger, Young Lights, Pequeno Céu, o último disco do John Candy tá muito bom também, assim como o da Sara Não Tem Nome!

Como parte da campanha de financiamento do “Guitar Days” vocês irão realizar uma apresentação ao lado de bandas veteranas como Killing Chainsaw, Valv e Second Come. De certa forma você acredita que bandas como o Câmera dão continuidade ao legado dessa primeira geração?
Acho que essas bandas influenciaram uma geração, né? Com certeza inspiraram a gente, principalmente o Valv, por que o Alessandro é tio do André. Mas a maior conexão nossa com essas bandas é a maneira de fazer música, sem preocupar a quem a agradar, ou ser em português. (Fazemos) música pra nós mesmos, então de certa forma acho que sim.

Já que você fez menção, quais são influências?
Cara, acho que o filme que mais me marcou foi o “Cinema Paradiso” (1988), do Giuseppe Tornatore, que tem a trilha composta pelo gênio Ennio Moriconne, assim como o “A Lenda do Pianista do Mar” (1998), que repete a mesma dupla, mas a lista de filmes é extensa. Gosto muito do Wes Anderson, Wim Wenders, Gondry , Linklater, Terrence Malick e tenho tentado aprofundar no Bergman, que pra mim é dos maiores de todos os tempos. Na parte musical tem algumas coisas que me acompanham há muito tempo e estão sempre lá: Nick Drake, o próprio Ennio, Sparklehorse, Elliot Smith, Fleet Foxes, Wilco,Pink Floyd, entre outras, mas minhas duas bandas favoritas sem dúvida são Beatles e Radiohead, desde sempre.

Quais são os planos para 2016, seja com o Câmera ou solo?
O Câmera está trabalhando para lançar algo novo esse ano, ainda não sabemos quantas músicas, mas vai sair. Estamos ansiosos para trabalhar com músicas novas! Eu pretendo continuar a lançar coisas minhas esse ano também. Já comecei a gravar com o Leo e temos uma música praticamente pronta. Vários dos vocais vão ficar por conta da Danuza Paz, minha namorada. O EP deve chamar “The Lonely Sea”, mas não temos certeza ainda.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão

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