Boteco: Cinco cervejas Weihenstephan

por Marcelo Costa

Cervejaria mais antiga do mundo, a Weihenstephan Brewery foi licenciada oficialmente por monges beneditinos em 1040, mas antigos documentos fazem referência à plantação de lúpulo por volta do ano 768. Há outra abadia, Weltenburg, também na Baviera, que alega fundação por volta de 620, mas faltam documentos oficiais, o que coloca a Weihenstephan como a primeira cervejaria do mundo. Não é pouco. Quase mil anos de tradição cervejeira e história não podem ser ignorados. Durante o passar dos séculos, o mosteiro sobreviveu a invasões, saques e incêndios, até que em 1803 a abadia foi dissolvida pelo governo e a cervejaria estatizada e transformada em patrimônio da Bavária. Em 1919 (em um processo iniciado lentamente em 1852) a Weihenstephan Brewery passou a integrar a Universidade de Agricultura e Cervejaria de Munique, com um centro de produção que também forma mestres cervejeiros.

Abrindo o passeio pelo cardápio mítico dessa cervejaria escola com um de seus maiores hits, a Weihenstephaner Hefe Weissbier, praticamente a benchmarking do estilo, com sua taça alta exibindo um líquido de coloração amarelo turva (devido a não filtragem) e um creme branco espesso de ótima formação e longa retenção. No nariz, predomínio da levedura sugerindo as clássicas notas frutadas (banana, banana e banana) e condimentadas (cravo) além de suave floral e percepção de tutti-frutti. Na boca, a textura é picante (levedura novamente mostrando as suas garras). O primeiro toque apresenta rápida doçura entrecortada por acidez, picância e notas frutadas. O amargor praticamente não existe deixando a função para a acidez derivada da levedura, que abre as portas para um conjunto leve, saboroso e apaixonante. O final traz leve sugestão de banana. No retrogosto, leve adstringência, banana, tutti-frutti e cravo. <3

A segunda é a Weihenstephaner Hefe Weissbier Dunkel, a versão da Hefe tradicional, mas com maltes tostados. Na taça surge uma cerveja de coloração âmbar caramelada turva com creme bege claro de ótima formação e longa retenção. No nariz, inevitavelmente em primeiro plano, as notas clássicas derivadas da levedura sugerindo intenso frutado (banana, banana e banana) e condimentado (cravo). O malte tostado, porém, acrescenta caramelo na base, que seu une ao tutti-frutti aumentando a doçura… um poquinho. Na boca, a textura é mais cremosa do que picante (primeira grande influência do malte tostado). No primeiro toque, doçura caramelada seguida de frutado tradicional (banana) e leve cravo. O amargor novamente é baixo, e aqui a acidez é mais comportada tornando o conjunto mais suave, entre doce de banana e melado de caramelo. O final traz banana, cravo e caramelo. No retrogosto, a mesma sequencia. Boa.

Para uma cervejaria natural da região que transformou uma festa de casamento em outubro de 1810 num evento anual dedicado à paixão pela cerveja, a Weihenstephaner necessitava de uma Festbier em seu cardápio, e cá está ela, uma Marzen de coloração dourada cristalina com creme branco de média formação e longa retenção. No nariz, um aroma encantador sugerindo cereais, trigo, pão, mel e caramelo, como manda o figurino do estilo. Na boca, textura suave com leve picância. O primeiro toque oferece doçura maltada em notas que remetem a mel e caramelo seguida de presença de cereais. O amargor é baixo, mas bastante eficiente, abrindo as portas para uma cerveja com doçura caramelada um tiquinho acima do necessário, mas, ainda assim, refrescante e bastante saborosa. O final é suavemente amargo com leve traço de doçura. No retrogosto, adstringência leve, cereias, caramelo e amargor suave. Delicinha.

A próxima Weihenstephaner da fila é a Korbinian, a Doppelbock da casa – o estilo double bock é uma versão mais forte da tradicional bock nascida em Munique. Na versão Weihenstephan, a cerveja âmbar escura translucida com creme bege de ótima formação e longa retenção. No nariz, a Korbinian referenda o poder dos maltes tostados, que sugerem caramelo, chocolate e frutas escuras (nozes, uva passa e calda de ameixa). Há uma suave percepção de aveia e café distantes. Na boca, a textura é suave. O primeiro toque oferece doçura apaixonante com leve remissão a chocolate. O amargor é médio (32 de IBU) e mais de álcool (7.4%) do que de lúpulo. Dai pra frente, uma cerveja exemplar, que assim como a Dunkel soa um pouco mais doce do que deveria, mas nada que atrapalhe a paixão por uma cerveja bastante especial. O final traz doce de chocolate e caramelo e leve amargor. No retrogosto, chocolate, caramelo e ameixa. Bela.


Fechando o quinteto disponível no mercado brasileiro com a maravilhosa Weihenstephaner Vitus, uma German Weizenbock que passa por uma maturação extra nas caves da cervejaria e já conquista corações há muitos anos. Apesar de ser uma Bock, apresenta coloração amarelo turva, pois é elaborada com malte de trigo e cevada. O creme espesso branco é de excelente formação e longa retenção. No nariz, uma versão acentuada das notas exibidas na tradicional Hefe Weissbier com banana e cravo bastante perceptíveis, mas também caramelo, bubblegum e frutas secas. Na boca, a textura é cremosa e levemente picante. O primeiro toque oferece doçura frutada (caramelo e banana) condimentação (cravo) e álcool (7.7%), perceptível, mas nada agressivo. Dai em diante, uma cerveja excelente com frutado, condimentação, doçura e álcool combinando perfeitamente. O filme é doce e picante. No retrogosto, suave acidez, frutado e doçura.

Balanço
Um clássico é a maneira perfeita para definir a Weihenstephaner Hefe Weissbier. Outra boa definição seria dizer que essa é a melhor Hefe do mundo, ao menos para mim. Ou seja, se você tem que beber apenas uma Hefe na vida, vá de Weihenstephaner. Várias vezes. Já a versão Dunkel amacia o arisco da versão tradicional oferecendo caramelo e diminuindo a acidez. O resultado é outra grande cerveja, mais macia e menos provocante que a estrela da casa. A Weihenstephaner Festbier é a Marzen da casa, e é uma delicinha que poderia ser um tiquinho menos caramelada, mas nunca vou recusa-la se a colocarem na minha taça. A Korbinian é uma Doppelbock muito boa e ainda que não tire o posto da favorita da casa, a Ayinger Celebrator, merece atenção. Para fechar o quinteto, minha favorita da casa, Weihenstephaner Vitus, uma Weizenbock clara absolutamente deliciosa (e alcoólica). Apaixonado.

Weihenstephaner Hefe Weissbier
– Produto: Hefe Weissbier
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,99/5

Weihenstephaner Hefe Weissbier Dunkel
– Produto: Hefe Weissbier Dunkel
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 3,59/5

Weihenstephaner Festbier
– Produto: Marzen / Oktoberfest
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,21/5

Weihenstephaner Korbinian
– Produto: Dopplebock
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7,8%
– Nota: 3,76/5

Weihenstephaner Vitus
– Produto: German Weizenbock
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7,7%
– Nota: 4,00/5

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