por Pedro Salgado, de Lisboa
Originários de Coimbra e residentes em Lisboa, os Sean Riley & The Slowriders desenvolveram a sua identidade inspirando-se no folk, no rock e no blues. Num tom cordial e pragmático, que manterá ao longo da entrevista, no Clube Literário do Tivoli Fórum, Sean Riley (o alter-ego do vocalista e guitarrista Afonso Rodrigues) explica que a opção por temas cantados em inglês correspondeu a uma circunstância temporal: “Sempre escutei música portuguesa e MPB mas, no momento em que comecei a compor as minhas primeiras canções, eu estava completamente influenciado por músicos e escritores anglo-saxónicos. Por isso, foi algo instintivo e não ponderado”.
Com a edição do disco de estreia, “Farewell”, de 2007, a banda apostou numa toada folk rock, flertando com referências americanas como Bob Dylan e Leonard Cohen e apostando num classicismo honesto com bons resultados artísticos. “Realmente, o único objetivo era criar algo e a marca que eu queria deixar era concretizar a gravação de um disco. Pensei que se passasse por essa experiência seria a vitória final”, conta Sean Riley. Dois anos mais tarde, “Only Time Will Tell”, um álbum inspirado e ao nível dos melhores momentos do grupo, mereceria igual destaque e resultaria em boas atuações nos Festivais Paredes de Coura e Optimus Alive.
“Sean Riley & The Slowriders”, o mais recente trabalho do quarteto, onde se incluem Bruno Simões (baixo, guitarra, melódica e noise), Filipe Costa (órgão, piano, baixo, guitarra, bateria e harmonica) e Filipe Rocha (bateria, contrabaixo e glockenspiel), apresenta uma pegada mais roqueira, mas também momentos harmônicos. A dualidade do disco é acompanhada por uma toada épica e alguns momentos exploratórios como é o caso do blues eletrônico “Gipsy Eyes”. “O aspeto interessante dessa faixa é que a sua base (os acordes de guitarra e voz) corresponde a um tema habitual no Sean Riley & The Slowriders. Mas, se você escutar o arranjo da canção, ela só poderia entrar nesse trabalho ou nas gravações anteriores ao nosso primeiro álbum”, refere o vocalista.
A edição de dois discos na Bélgica, Holanda e Luxemburgo, pelo selo Sonic Rendezvous, e uma presença regular em shows internacionais, garantiram à formação de Coimbra a experiência para garantir uma progressão sustentada na sua carreira. Relativamente ao balanço das atividades da banda, Sean Riley prefere destacar a globalidade do processo. “Terminamos um disco depois de um pequeno tour pela Europa em que viajamos por vários países, levamos a nossa música para o exterior e isso são experiências fantásticas, mas os primeiros shows também foram mágicos e tudo o que se passa entre esses dois momentos é influenciado pelo que vem de trás e implica uma construção futura”, conclui. De Lisboa para o Brasil, Sean Riley conversou com o Scream & Yell. Confira:
O novo trabalho tem contornos épicos muito vincados, mas alia o desencanto a uma perspectiva otimista da realidade. Essa oposição de sentimentos define o conceito do disco?
Esse trabalho não tem propriamente um conceito que o sustente. Mas essas duas realidades estão bem acentuadas no disco e acabam por ser duas constantes permanentes na existência. O otimismo e o descontentamento é algo com que temos de contar e a vida é o balanço desses sentimentos. Por isso, você faz uma análise com muito sentido. E a nível sônico também existe essa dualidade no álbum: tem um lado negro, pesado e agressivo, mas também cadências mais leves e bonitas.
Porque escolheram “Dili” como primeiro single do álbum?
É sempre difícil escolher singles e eu não gosto de o fazer. Por norma, se você coloca 10 faixas num disco então é porque gosta de todos os temas e será indiferente escolher um deles em particular. Mas foi preciso fazer isso e essas são as canções que chegam primeiro ao público ou das quais se edita um clipe. No caso do Sean Riley & The Slowriders, pedimos a opinião das pessoas que estão próximas da banda como a editora, management ou alguns amigos que nos acompanham. “Dili” acabou por ser uma escolha das pessoas em redor do grupo e colocamos esse tema em votação, porque sentimos que era difícil ter uma faixa que ilustrasse todas as cores, latitudes e sentimentos diferentes que este álbum contém. Pareceu-nos uma boa opção optar por essa canção, já que fazia a transição entre o que mostramos no passado, mas ao nível do som e da produção dava uma luz sobre o que estamos fazendo em 2016.
Globalmente, “Sean Riley & The Slowriders” é um trabalho em que vocês desafiam o passado ou, pelo contrário, representa apenas o estado atual da banda?
Acaba por ser um pouco das duas coisas. Por um lado, desafia o passado porque conscientemente não queriamos repetir processos. O que tentamos fazer nos discos é levar a banda para novos caminhos e manter a sua identidade, com o objetivo de tornar a música interessante para os outros, mas também para nós. Essa é a questão que liga à representação atual do grupo e tem de ser o resultado daquilo que somos e do que pretendemos fazer hoje. Naturalmente, algo estaria errado se fossemos as mesmas pessoas, com os mesmos interesses e fazendo algo semelhante ao nosso primeiro disco.
Pretendem fazer shows nacionais e internacionais de promoção do álbum?
O objetivo é fazermos todos os shows que forem possíveis e interessantes para o grupo. Sempre tivemos uma regularidade de atuações em Portugal e no exterior e esperamos que isso aconteça neste momento. Ultimamente tocamos em Braga (norte de Portugal) e no Festival Caparica Primavera Surf Fest (margem sul de Lisboa) e proximamente anunciaremos algumas surpresas futuras. Posso garantir que em Portugal teremos muitas apresentações programadas e encaramos a parte internacional com muita tranquilidade. Gostamos de tocar lá fora, mas funcionamos ao sabor dos acontecimentos. Em breve, retomaremos alguns contatos, até porque já fizemos bons concertos no exterior.
Quais são os planos futuros dos Sean Riley & The Slowriders?
Existem várias razões para que esse processo seja circular. O fato de lançarmos o nosso disco homônimo não é por acaso. Isso significa que de alguma forma tenhamos sentido que é um novo começo, ou seja, existia um ciclo que compunha os três álbuns anteriores que foi fechado e agora estamos falando de algo diferente. Ao fazermos um novo arranque, o objetivo ficou próximo do meu propósito inicial e que era simplesmente editar um disco. Com o atual trabalho, nós queríamos passar tempo juntos, compor música e gravá-la. Para nós, esse fato e a belíssima experiência de fazer canções novamente foi uma viagem que valeu a pena.
Gostaria de deixar uma mensagem aos leitores do Scream & Yell?
Adoro música brasileira e em minha casa, através do meu pai, escutei discos de Caetano Veloso, Chico Buarque e Maria Bethânia. A única mensagem que gostaria de vos deixar é esta: nós gostamos da vossa música, mas interessem-se também pela música portuguesa e vamos tentar estabelecer o máximo de pontes e ligações possíveis. Para além disso, espero que o intercâmbio se desenvolva e não se limite a artistas brasileiros tocando em Portugal, mas que ocorram parcerias em discos com músicos dos dois países.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui