por Adriano Mello Costa
“Mono”, de Júnior Ramos e Natália Lima
Viabilizado através de campanha de crowdfunding em 2015, “Mono” finalmente ganha as ruas com formato horizontal (16 x 21cm) e 80 páginas. Este é o primeiro trabalho dentro da nona arte do casal de pernambucanos Júnior Ramos e Natália Lima, proprietários de um estúdio chamado “Sapo Lendário”. A trama invade o campo da ficção científica e mostra um futuro onde todos os governantes se ajoelham perante a GateCorp, empresa que domina a essencial tecnologia do teleporte. A Esfera é uma associação formada por cientistas que luta contra o domínio da GateCorp, mas sem alcançar muito sucesso, enquanto o mundo caminha para o final. Para salvar essa terra em declínio a esperança recai sobre um robô (que empresta o nome ao título) e uma tripulação diversificada de etnias e pensamentos que parte em busca de encontrar moedas especiais – fragmentos de um ser místico antigo e poderoso que pode permitir essa salvação. “Mono” tem arte bonita, bem influenciada pelos mangás e cores que valorizam o conjunto, sendo um ótimo destaque da obra. O cuidado com a edição também merece destaque. Tudo muito bem feito, com direito a extras que servem de subsídio não somente para a trama em si, assim como para entender os caminhos que levaram a criação da hq. Por outro lado, o roteiro deixa bastante a desejar, tornando a trama confusa e um pouco sem sentido. Quando se trata de fazer ficção científica, um dos principais pontos é tentar deixar aquilo que está se contando o mais viável possível, sem apressar demais os fatos ou sobrepor ideias só pelo simples fato de as exibir. O enredo não ajuda nisso e não amarra todos os lados da história com a precisão necessária, o que acaba deixando “Mono” como uma boa ideia, bem executada visualmente, mas que não consegue atingir todo o potencial.
Nota: 6
Site dos autores: http://sapolendario.tumblr.com
“O Capuz: O Sangue que vem das Pedras”, Brian K. Vaughan, Kyle Holtz e Eric Powell
Parker Robbins não é um cara dotado das qualidades mais nobres do mundo, é preciso admitir. Some-se a isso o fato que a vida não anda lá muito fácil e a pressão está para estourar a cabeça. Muito doente, a mãe está internada em um manicômio, a namorada ficou grávida e a grana anda curta porque os golpes que o primo arruma cada vez mais resultam em nada. Até a prostituta (quase amante) resolveu lhe encher o saco. É quando em mais um golpe furado e totalmente sem querer, Parker acaba matando um ser estranho e, ao roubar dele algumas coisas, percebe que isso lhe dá alguns poderes como invisibilidade e o poder de voar. Resumindo: agora a vida vai melhorar. Ledo engano. “O Capuz: O Sangue que vem das Pedras” é um encadernado que a Panini Books lança agora no mercado (ainda que a data da identificação seja de 2015) e reúne as edições 1 a 6 de “The Hood”, publicadas originalmente entre julho e dezembro de 2002. Com 148 páginas, “The Hood” traz roteiro do ótimo Brian K. Vaughan (“Os Fugitivos”, “Ex-Machina”), desenhos de Kyle Holtz e arte final de Eric Powell. As histórias já haviam sido publicadas no país em outras revistas em meados dos anos 2000, mas agora aparecem juntas nesse arco de formação de um criminoso. É uma publicação que tem bastante mérito, mesmo sendo material antigo. A construção do personagem pelas mãos de Brian K. Vaughan e sua relação com as “responsabilidades” que vem com os poderes é factível e sem pressa, e isso ajuda a arte nem tão inspirada assim de Kyle Holtz. É sempre interessante quando as grandes editoras dedicam histórias mais detalhadas sobre o mundo dos criminosos, trazendo um novo viés para o universo a que se está acostumado. Com temática mais adulta e uma trama fluida e eficaz, “O Capuz: O Sangue que vem das Pedras” se configura em uma ótima pedida.
Nota: 8
“Hellboy no Inferno – Volume 1: Descenso”, de Mike Mignola
Mike Mignola apresentou Hellboy ao mundo em 1993 e de lá para cá o personagem viveu diversas aventuras nos quadrinhos, além de animações e dois bons filmes. Longe da prancheta de desenho da sua criação mais famosa desde 2001, o quadrinhista resolveu voltar em 2012 com o lançamento da primeira aventura do herói no inferno. A viagem de Hellboy ao inferno acontece logo após ele salvar a humanidade, quando é assassinado de modo furtivo. Mesmo tendo feitos nobres no currículo, Hellboy não foi mandado para os céus e sim para sua casa natal, o Inferno. Que grande prêmio! Essa trama foi lançada aqui no final de 2015 pela Mythos Books em luxuoso encadernado de capa dura com 194 páginas. Como é costumeiro nos lançamentos da Mythos, o trabalho editorial é primoroso, com vários extras, entrevista com o autor e introdução ambientando o leitor contextualmente. O álbum reúne as cinco primeiras edições da trama lançadas nos EUA entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013. No total serão 10 revistas, sendo que a edição mais recente lá é a de número 8. Ao descer para o inferno que não visitava desde criança, Hellboy recebe a cobrança para assumir o trono que está vago e lida com parentes nada amistosos e novos e velhos inimigos, mesmo sem saber ao certo a trama que se desenvolve por trás disso. Ver Hellboy com Mike Mignola no comando não só do roteiro, como também da arte é outra história. Com maior liberdade criativa por não ter que retratar um universo real, o autor se esbalda em novas formas e construções, sempre em tons escuros, com muito uso de sombras e as cores cirúrgicas do hábil Dave Stewart resultando numa grande aventura a altura do personagem e quadrinhos da melhor estirpe. Vale muito.
Nota: 9
Site do autor: http://www.artofmikemignola.com
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop