por Pedro Salgado, de Lisboa
“Mar Morto”, Cavalheiro (PAD)
Cavalheiro, nome artístico de Tiago Ferreira, construiu a sua identidade musical na procura de explicações para as relações humanas, assentes num minimalismo sonoro inspirado em Bill Callahan que enfatiza pontualmente o seu lado romântico como autor. Embora não abdicando desses elementos primordiais, no novo trabalho o músico do Porto faz uma abordagem ao rock, apostando em temas diretos, onde sobressai a espontaneidade instrumental, mas também uma preocupação acrescida com os arranjos. “Mar Morto” inclui algumas canções interessantes como é o caso da faixa-título, marcada por um hábil jogo de palavras e uma sonoridade a lá Strokes, destacando-se igualmente o negrume indie de “Era Uma Casa” (o tema mais pungente do disco). Para além de revelar competência nas baladas e assumir com clareza o propósito urgente da sua música, “Mar Morto” apresenta uma amargura latente, que não atraiçoa a visão sincera de Cavalheiro sobre a realidade que o rodeia.
Nota: 7,5
Ouça: https://cavalheiro1.bandcamp.com/album/mar-morto
“Villa Soledade”, Sensible Soccers (Independente)
Os Sensible Soccers destacaram-se em 2013 com o single “Sofrendo por Você”, impulsionando o álbum de estreia (“8”), que confirmou a criatividade da banda e a sua habilidade para desenvolver um experimentalismo musical personalizado. À semelhança de “8”, o grupo de Vila do Conde (norte de Portugal) continua a apostar em estruturas musicais e arranjos em progressão, gerando contrastes sonoros, mas sem perder o caráter deliciosamente grudento das canções, que fluem ao sabor dos diversos estados de espírito e das influências seguidas. As novas faixas instrumentais de “Villa Soledade” (que será editado no Brasil pelo selo paulista Balaclava Records) cativam pelo teor vibrante das diferentes abordagens, destacando-se a alusão aos anos 80 (“Bolissol”), o encontro entre o afro-beat e o funk de “Nunca Mais Me Esquece” e a pulsante “Shampom”, que evoca eficazmente uma caminhada. Globalmente, “Villa Soledade” reafirma a identidade dos Sensible Soccers e premeia as boas escolhas da banda.
Nota: 8
Ouça: http://sensiblesoccers.bandcamp.com/
“Outras Histórias”, Deolinda (Universal Music Portugal)
Quando o Deolinda escolheu “Corzinha de Verão” como primeiro single do novo álbum, a suavidade a la anos 50 do tema pareceu indiciar que o grupo lisboeta adotara uma via segura em face do seu trajeto anterior. Essa impressão desvanece ao longo de um disco em que a banda assimila novas influências sonoras, como a bossa nova, o funaná ou o kuduro eletrônico sem desvirtuar a escrita humorada de Pedro da Silva Martins e a vocalização melódica de Ana Bacalhau. Em co-produção com João Bessa, revelando maior ambição e ampliando a estrutura das faixas, o Deolinda assina excelentes momentos na sátira de costumes de “Mau Acordar” (com ecos do Blur de “The Universal”), apresenta uma canção de protesto eficaz (“Bote Furado”), presta homenagem a António Variações na dançável “As Canções Que Tu Farias” e a belíssima “Dançar De Olhos Fechados” conclui o trabalho, sublimando o lado poético do conjunto. “Outras Histórias”, que conta com as participações de Manel Cruz (dos Ornatos Violeta) e Riot (do Buraka Som Sistema), representa o maior feito musical do Deolinda, conciliando a diversão com um sentido estético apurado.
Nota: 9,5
Ouça: https://itunes.apple.com/pt/album/outras-historias/id1077206209
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
Deolinda é aquelas bandas para ouvir a dois, dividindo o fone de ouvido!