por Marcelo Costa
Na última quinta-feira de janeiro (28/01), Rihanna disponibilizou “ANTI”, seu oitavo álbum de inéditas, no serviço Tidal, de seu “patrão” Jay Z, para download gratuito. A estratégia, na verdade, tem a ver com uma parceria da cantora com a marca Samsung, que patrocinou álbum e turnê com a bagatela de 25 milhões de dólares. A empresa comprou um pacote de um milhão de cópias digitais de “ANTI” antes mesmo de ele estar pronto, e decidiu disponibilizá-las gratuitamente para o público. Resultado: em 15 horas 1,4 milhão de downloads.
Esse número exorbitante coloca Rihanna no número 1 da Billboard, certo? Hummm, errado. “ANTI” foi certificado como disco de platina nos Estados Unidos pela Associação Americana da Indústria Fonográfica, a RIAA, mas o sistema adotado pelo ranking da Billboard tem como fonte os dados da Nielsen Music, que não considera downloads gratuitos, e sim apenas vendas físicas, digitais e streamings pagos (ou seja, tudo que envolve compra). A rigor, porém, Rihanna vendeu 1,4 milhão de downloads, mas nenhum fã pagou pelas canções, e sim a Samsung. Dá-lhe pendenga.
Para colocar mais lenha na fogueira do consumo de música no novo milênio, “ANTI” chega às lojas em versão física, de acordo com a Billboard, nesta sexta-feira, e é forte concorrente a aparecer no número 1, sendo o álbum mais vendido no fim de semana, o que poderá reabrir a velha discussão do quanto o digital influência no comercio físico (quanto o Radiohead lançou “In Rainbows” permitindo ao fã pagar o preço que ele quisesse, a estratégia não impediu que o álbum aparecesse no número 1 quando ganhou a versão física). Atualização: “ANTI” chegou ao número 1 da Billboard vendendo 124 mil cópias na semana de seu lançamento. Somando as cópias digitais na mesma semana, Rihanna alcançou o número 1 com 166 mil cópias vendidas.
Não bastasse essa confusão, “ANTI” chega ao mundo digital cercado de polêmicas. Rihanna, que assina boa parte das letras, deixou a farofada festeira e pesada dos discos anteriores de lado (até singles badalados pré-álbum como “Bitch Better Have My Money” e “American Oxygen” ficaram de fora) e optou por um repertório melódico, cool e caprichado, com direito a um cover fidelíssimo de Tame Impala: presente no terceiro disco dos australianos, “New Person, Same Old Mistakes” aparece aqui rebatizada de “Same Ol’ Mistakes”, mantendo seu clima psicodélico.
Quem disse que havia gravado uma participação no álbum, mas foi descartada, é Azealia Banks, que atacou Rihanna dizendo no Twitter que “ANTI” é uma bagunça de gêneros e não é um disco completo, crítica com teor de vingança, já que o álbum aponta uma direção, e segue essa direção até o final. Ainda assim é inegável: o fato de ter um disco com “venda antecipada” de 1 milhão de downloads permite, inegavelmente, ao artista experimentar, e Rihanna corajosamente ousou.
A crítica vem se dividindo. Os britânicos do Guardian detonaram o disco chamando “ANTI” de “malfeito”. Já os norte-americanos da Entertainment Weekly elogiaram o lançamento cravando que este é o trabalho “mais intrigante de Rihanna”. Para eles, “ANTI” é o trabalho “mais deliberadamente anticomercial da cantora”, o que em si já carrega uma ironia implícita. O Independent elogiou a voz da cantora no álbum enquanto o Telegraph diz que “ANTI” é um álbum “estranho, sem hits”, e se apoia dizendo que o fato do disco já sair pago revela sua tendência anticomercial. “É mais um exercício de mudança buscando transformar uma popstar em uma artista séria”.
“ANTI” traz 13 canções na versão oficial e 16 na edição deluxe. Entre os colaboradores estão Jeff Bhasker, Boi-1da , DJ Mustard , Hit-Boy , Brian Kennedy , Timbaland e No ID, sem contar, claro, Drake, que participa do single “Work”, e SZA, que marca presença na canção de abertura “Consideration”. Se for para definir um estilo, “ANTI” é a versão r&b de Rihanna, sensação estampada em canções como a lindíssima “Love On The Brain” (do verso polêmico: “Ele bate em mim e me deixa preta e roxa, mas fode tão bem”) e a emocional “Higher”, em que a personagem da letra, bêbada, convida o parceiro: “Vamos ficar juntos até tarde e fumar maconha”.
Rihanna, porém, parece ter se precavido. “Consideration” abre o álbum com uma marcante batida eletrônica e um vocal forte, mas não gritado, como se não quisesse assustar seus fãs de cara. Na letra, ela explica: “Eu tenho que fazer as coisas a minha maneira”. A vinhetinha r&b “James Joint”, na sequencia, introduz o ouvinte no novo território (“Eu prefiro ficar fumando maconha”, ela canta), sensação que “Kiss It Better” aprofunda. As coisas quase voltam ao “normal” com “Work”, mas, ainda que mantenha uma linha vocal tradicional, a anti-solidão “Desperado” surpreende (essa pode soar matadora ao vivo). Seguem-se as batidas lentas, mas dançantes de “Woo” (embalada por cocaína) e “Needed Me” (“Você era apenas mais um cara na lista, tentando corrigir seus problemas internos com uma garota má”).
No trecho final de “ANTI”, um monte de baladões emocionais para fechar o álbum: “Yeah, I Said It” (em que ela pede: “Me dê um pouco de amor, garoto, me dê amor até amanhecer”), a poderosa “Never Ending” (em que, assumidamente drogada e bêbada, a personagem da letra avisa: “Ele não tem que sentir tão estranho por estar apaixonado novamente”) e a dolorosa “Close To You”, que, conduzida por piano, desenha um quadro triste logo na primeira frase: “Nada além de lágrimas é o que tenho no café da manhã”.
Entre as faixas bônus de “ANTI” estão sobras totalmente desconectadas do espirito r&b do álbum. “Goodnight Gotham” é um vinheta densa dispensável que sampleia a frase título de “Only If For A Night”, de Florence + The Machine. As outras duas faixas (“Pose” e “Sex With Me”) trazem a Rihanna funkeira e desbocada que todos aprenderam a amar. Após 51 minutos, a edição deluxe de “ANTI” se encerra deixando a sensação de que após dedicar-se a um álbum bastante melódico e experimental (para uma popstar), Rihanna voltará a ser a Rihanna de sempre. Será?
Se sim ou se não, só o tempo dirá, mas não deixa de ser interessante imaginar como as canções de “ANTI” vão se comportar ao vivo. A nova turnê começa em fevereiro e já tem 67 shows agendados (só em março Rihanna fará 18 shows em 30 dias!) com uma primeira perna norte-americana até o começo de maio e uma segunda perna europeia a partir de junho. Vale ficar atento aos shows e às paradas. Grace Kim, diretora de marketing do Tidal, defende que esse (o download gratuito como reconhecimento de acesso à música por parte dos fãs) “é um novo modelo” e que em breve “todos terão que isso por esse caminho”. Esse é só mais round da batalha da indústria contra a internet.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
Interessante…
Parece não ter muitos hits, numa primeira escutada. Parece ser o melhor disco dela, quando tu escuta cinco vezes KKKKKK. Eu curti, acho que a guria fez um disco massa…
Não ouvi uma única canção boa dessa cantora e celebridade. Repetindo pois é preciso ser claro : Não ouvi UMA única canção boa dessa cantora e celebridade. Tomara que lance algum single que seja minimamente audível pois até o disco anterior isso não aconteceu.