Uma nova paixão: Maryn Jones

por Gabriel Innocentini

Estou apaixonado.

Você lembra como é? Qual foi a última vez em que revirou a internet, o Soulseek (ainda existe) e a deep web em busca de informações, do último show, do primeiro show, de gravações caseiras, de demos?

Hoje é mais fácil. Artistas nascem na internet e vão crescendo, largando as carcaças pelo caminho. Quem lembra do Myspace? O Bandcamp também nasceu condenado. E ainda não inventaram nada melhor do que o Soundcloud pra ouvir a música e ler os comentários em tempo real. Nem o Twitter. Vamos descobrir isso quando for tarde demais, naqueles textos nostálgicos e elegíacos. Mas nostalgia é algo de que nem o Tony Soprano gosta, e elegia é só pro que não tem volta.

Estou apaixonado e o nome dela é Maryn Jones. Faz meses. Ainda fazia calor. Agora faz calor de novo, mas vivo no frio. E lá estava uma garota de madeixas verdes tocando essa canção assustadora – com direito a citação de Fleetwood Mac – e sorrindo tímida no final.

E logo em seguida veio o disco “The Offer“, em que ela assina como Yowler: esse é o disco mais Elliott Smith pós-Elliott Smith que já houve, se o próprio Elliott Smith seguisse à risca o plano de ser Elliott Smith (o que infelizmente não foi possível por vários motivos que não cabem ser comentados agora). Pros fetichistas é um prazer, dá pra ouvir ela deslizando os dedos pelas cordas de aço do violão. Use fones de ouvido. Na época, mal tendo ouvido metade do álbum, disse a um amigo: vai ser o disco do ano. Estamos em dezembro e ainda não ouvi nada melhor.

Mas antes tem o All Dogs, a banda da Maryn Jones. Nos últimos anos a lista de grupos liderados por garotas e mulheres que não aliviam tem crescido: Speedy Ortiz, Waxahatchee, Lynn Saga, Bully, Aldous Harding, Sharon Van Etten, Jessica Pratt, Girlpool, Savages, Chastity Belt, Julien Baker etc.

Nenhuma como Maryn Jones. O que ela tem que as outras não têm?

Quando perguntado sobre o tipo específico de prazer que a poesia dava, o Nobel T. S. Eliot respondeu: é o prazer que só a poesia dá…

Quando perguntado por que amava tanto seu amigo La Boétie, Montaigne respondeu: porque era ele, porque era eu…(resposta que Chico Buarque glosou ao se referir à amizade com Tom Jobim.)

Maryn Jones. Há cantoras melhores, há guitarristas melhores, há garotas com instagrams mais demenciais (tem a Du Blonde, mas não é hora de falar dela aqui), talvez haja até compositoras melhores. Mas quem está fazendo canções como essa “Skin”?

Quem fez um cover melhor do que esse de Cranberries na adolescência?

Quem senta no banquinho indiferente ao burburinho e manda na lata aquela que o Graham Nash compôs pra Judy Collins?

Ou então essa banda chamada Saintseneca, na qual ela toca banjo:

Você está obcecado, me diz um amigo, que só agora descobriu que Maryn Jones, Yowler e All Dogs envolvem a mesma pessoa. O que só a Maryn Jones tem?

Só a Maryn Jones tem um fã como eu.

Então, Maryn Jones, apareça na cidade qualquer dia. Vou estar na grade pra te ver de perto e cantar junto e aplaudir. Venha com banda, com banjo, sozinha. So lay it down and let me know and I’ll be around.

– Gabriel Innocentini (@eduardomarciano) é jornalista e dissecou a discografia completa de Bob Dylan no Scream & Yell. Confira aqui.

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