Texto e foto por Marcelo Costa
Um ano após lançar o álbum duplo “Crucificados Pelo Sistema Bruto” (2014), o Charme Chulo finalmente baixou em São Paulo para um show no Sesc Belenzinho trazendo consigo chapéus de palha, camisas xadrez, o repertório do disco que faz seu primeiro aniversário e uma baita tempestade. “Quando quiserem que chova em São Paulo é só chamar o Charme Chulo para tocar”, brincou em certo momento Leandro Delmonico, que durante a noite iria se alternar entre guitarra e a já tradicional viola caipira de 10 cordas.
No mesmo momento em que cerca de 100 corajosos fãs atravessaram a cidade em meio à chuva para ver o Charme Chulo, um bravo defensor do rock caipira, um mega festival “sertanejo” reunia alguns dos maiores artistas de sucesso da atualidade no Jockey Club de São Paulo, e ainda que Leandro, em conversa pós show, diga que o Charme Chulo “é rock” e que o som da banda tem pouco a ver com o festival, seria inegavelmente interessante vê-los ao lado de Fernando & Sorocaba e Gusttavo Lima – e que cada um separe o joio do trigo.
Importante dizer que o “interessante” do parágrafo acima nada tem a ver com exotismo ou outro adjetivo vulgar que desmereça a grande carreira que o Charme Chulo vem construindo. Tem mais relação com a possibilidade de diálogo real com um público maior sem necessidade de adequação já que os signos com que trabalham Igor (vocalista), Hudson (baixo), Douglas (bateria) e Leandro são tão próximos de Wilco, The Jayhawks e Alison Krauss quanto de Renato Teixeira, Chitãozinho & Xororó e, sim, Victor & Leo. Deixa a vida levar… um pouquinho?
Não a toa, ali pelo meio da noite no palco Sesc Belenzinho, Leandro confessou, sorrindo: “Eu sempre quis escrever uma música meio Gian & Giovani… com T.Rex”. O resultado foi “Palhaço de Rodeio”, a grande música que abre “Crucificados Pelo Sistema Bruto”, dicotomia perfeita entre o desejo do público e o destino do palhaço. Do mesmo álbum ainda vieram a ótima “Fuzarca”, a instrumental “Vinho de Mesa” (um tributo comovente à música caipira de raiz) mais “Ninguém Mandou Nascer Jacu” e “Dia de Matar Porco”, acrescida de metais.
Outras duas novas marcaram presença na noite: a poderosa suíte “Meu Peito é um Caminhão Desgovernado”, que conta a história de Gilson, que acusa o rock de “andar frouxo demais” enquanto atesta, lindamente: “Sou imortal e não tenho onde cair morto”; e a chicletuda “Coisas Desesperadoras do Rock’n Roll”, que cresceu absurdos com o acréscimo suingante do trio de metais do Bixiga 70. Trajando uma camiseta que homenageava Inezita Barroso (“A Patti Smith brasileira”, grifo de Leandro), Igor cativou novamente a plateia.
Clássicos indies do rock caipira não ficaram de fora: “Piada Cruel” e “Polaca Azeda” (pedida em coro pela plateia) do primeiro EP, “Você Sabe Muito Bem Onde Eu Estou” (2004), “Mazzaropi Incriminado”, “Solito a Reinar”, “Barretos” e “Amor de Boteco” (com o ex-baterista Rony, emocionado, nas baquetas), do álbum de estreia (2007), e “Fala Comigo, Barnabé” e oportuníssima “Brasil Sacanagem”, e a faixa título do excelente “Nova Onda Caipira” (2009), marcaram presença num dos melhores shows do quarteto curitibano na capital paulista.
Que venham muitos outros.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
Essa banda é demais! Tomara que retornem a Brasília para “lançar” o Crucificados pelo Sistema Bruto.
Eles são muito foda. Consegui perder os três shows que eles fizeram esse ano em Curitiba, mas vai ter mais um, com o Escambau, e não quero perder! O novo disco é um discão,em todos os sentidos.
Sou fã deles faz tempo. Pra mim, é a melhor banda brasileira em atividade. Será que virão a Porto Alegre em breve?