Vaccines, Thunderbitch, Ryan Adams

por Marcelo Costa

“English Graffiti”, The Vaccines (Sony Music)
Acontece com mais frequência do que o ouvinte costuma perceber: bandinha nova surge com álbum de estreia empolgante, mas basta um, no máximo dois discos para que as virtudes do debute revelem-se um mero acaso de época, fruto – na grande maioria das vezes – de energia adolescente canalizada para a diversão, e basta a coisa toda virar profissão para que o caldo entorne. Os ingleses do Vaccines não foram os primeiros a transformar tédio adolescente em diversão e nem serão os últimos a transformam maturidade em bocejos. Quem se empolgou com a força contagiante de “What Did You Expect from The Vaccines?” (2011) irá se frustrar com o que se transformou o Vaccines em “English Graffiti”, um pastiche de si mesmo e de trocentas outras bandas que confundem espirito adolescente com genialidade. “Handsome” e “20 / 20” tentam uma reaproximação festeira com a estreia após a tentativa de afastamento do segundo disco, o bom “Come of Age” (2012), mas soam deslocadas, forçadas, como uma roupa que não serve mais, mas mesmo assim a pessoa tenta vestir. “Dream Lover”, a segunda faixa, soa tão tediosa quanto o Kaiser Chiefs em “Off With Their Heads” (2008), o disco que revelou que eles nunca mais seriam os mesmos de “Employment” (2005), enquanto “Minimal Affection” clona um New Order sem graça. Nada se salva entre as 11 canções do álbum, e ainda assim eles lançam uma edição deluxe com mais 7 (!) bônus desinspirados, que só servem para ampliar o tédio. Envelhecer dignamente na música pop não é pra todo mundo.

Nota: 2
Preço: R$ 30 (Nacional)

Leia também:
– The Vaccines em São Paulo (2013): “Eles estão seguindo um bom caminho” (aqui)

“Thunderbitch”, Thunderbitch (Thunderbitch)
Em 2012, mesmo ano que estreava oficialmente com o Alabama Shakes (na ativa desde 2009), a vocalista e guitarrista Brittany Howard montava o projeto paralelo Thunderbitch com amigos de Nashville (integrantes das bandas Fly Golden Eagle e Clear Plastic Masks), e quem pensa que o sucesso do Alabama condenaria o Thunderbitch ao esquecimento está muito enganado: quatro meses após lançar “Sound and Colour”, do Alabama, Brittany Howard coloca na praça, sem muito alarde, o disco de estreia do Thunderbitch, cuja biografia no site oficial é direta: “Thunderbitch. Rock ‘n’ Roll. The end”. Precisa mais? “Thunderbitch”, o álbum, compila 10 canções em pouco mais de 30 minutos que podem incendiar festas. Os títulos das canções dão uma ideia de onde você, ouvinte desconfiado, irá colocar seus ouvidos sensíveis: “My Baby Is My Guitar”, “Wild Child”, “I Don’t Care” e a carta de intenções “I Just Wanna Rock N Roll” são eficazes máquinas do tempo que transportam quem ouve para os anos 50, chacoalhando nos primórdios do rock’n’roll com Elvis, Chuck Berry e Little Richard. Primeiro (e talvez único) single do disco, “Leather Jacket” avisa: “Eu quero crescer para vestir uma jaqueta de couro / E essa jaqueta de couro vai se apossar da minha alma”. O instrumental é bastante eficiente, mas é a voz de Brittany Howard, emocionalmente rasgada, que faz toda a diferença num grande disco lançado sem badalação, turnê de divulgação ou hype, mas que pode viciar o ouvinte que escuta-lo apenas uma vez. Corra o risco.

Nota: 8
Ouça no site oficial: http://www.thundabetch.com

Leia também:
– Alabama Shakes: “Sound & Color” é mais confiante e abrangente que seu antecessor (aqui)

“1989”, Ryan Adams (PAX AM)
Muita gente recebeu como galhofa a intenção do ícone alt-country Ryan Adams de regravar o álbum mais badalado da atualidade, “1989”, da estrela pop Taylor Swift, que se aproxima dos 9 milhões de cópias vendidas. Menos Taylor, que assim que leu o tuíte de Ryan manifestando o desejo, apoiou-o, não sem antes pedir um tempo pra respirar (“I’M CALM”, ela grafou, divertidamente).  O encontro de Ryan com o álbum foi meio torto: abalado pelo fim de seu casamento com Mandy Moore, Ryan dizia ter apenas uma alegria: ouvir “1989”. Dai a regravar o álbum foi um pulo. Durante o processo (de cerca de duas semanas), Ryan avisava Taylor via Twitter: “As canções são muito boas! Estou desconstruindo-as… e elas estão resistindo”. E, de fato, elas resistiram. A intenção de Ryan era chocar “Darkness on the Edge of Town”, de Bruce Springsteen, com “Meat Is Murder”, dos Smiths, e o resultado coloca sorrisos no rosto. Canções como “Style” (uma das melhores versões resultou em um rock estridente com Ryan adaptando o “You got that James Dean, daydream look in your eyes” do original para “You’ve got that Daydream Nation look in your eye”) e a versão sexy de “I Know Places” conseguem ampliar o alcance das originais enquanto a bela versão de “Blank Space” valoriza ainda mais a boa letra de Taylor. “Bad Blood” ficou incrível e a desconstrução de “Shake It Off” (outra ótima letra!) surpreende, ainda que Ryan, ao contrário do que muita gente pense, não tenha feito milagre: as versões ficaram boas porque as canções originais são boas. Aceite.

Nota: 9
Preço: US$ 10,99 (CD simples)

Leia também:
– Qual a graça da Taylor Swift? (aqui)
– Taylor Swift, a rainha do pop? (aqui)
– “Ryan Adams” (2014) é urgente, lírico e mexe com a alma (aqui)

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

5 thoughts on “Vaccines, Thunderbitch, Ryan Adams

  1. se tem um papo que me irrita é esse de “versão que salvou a música”. são boas desde a origem e ponto. =)

  2. Eu concordo com o JW. Relutei um pouco pra entender toda a mídia em cima do 1989, mas depois de ouvir algumas vezes comecei a ficar com vontade de comprar o CD e comprei rs.

    Dá pra sentir duas coisas diferentes com os dois discos, mas duas coisas igualmente boas.

  3. Esse Ryan Adams é um vigarista gente boa, um bom malandro gente boa. Seria como regravar um disco da Sandy e deixar o bagulho soando bem kkkkkkk. Tô brincando, mas o lance funcionou muito bem… Na real, curto o cara desde o Heartbreaker.

  4. Eu gostava do Ryan Adams!!! Até 2005 até discografia dele é bastante respeitável, mas esse tipo de coisa é uma demonstração de que ele n tá nem aí pra carreira.

  5. O disco da Taylor é muito ruim. O Ryan regravou e virou um disco nota 2 ou 3 dele mesmo. Mas ele tem muito crédito pois já lançou muita coisa boa de verdade. Ele é meio poser e tals mas hoje em dia todo mundo precisa ser um pouco. Ele deveria era regravar o Next Day do Bowie e excursionar pois aquelas músicas não serão tocadas ao vivo.

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