por Marcelo Costa
Andrea Agda e Daniel Arruda formaram o Banana Scrait em Fortaleza na primeira metade dos anos 90 fieis ao estilo indie rock guitarreiro da época. Não à toa, sua primeira demo tape, gravada em 1995 com 9 faixas em 11 minutos, foi distribuída pelo icônico selo Midsummer Madness, e reapareceu (inteira) como faixa bônus do primeiro álbum do duo, “Yes, We Have Bananas“, que saiu de forma independente em 1997 com Andrea nos vocais e guitarra, Daniel no baixo e um amigo na bateria.
Corta para 2015 com uma rápida parada em 2001, quando o duo lançou um EP, “Tecnotopia”, e praticamente hibernou. “Mas nunca deixamos de tocar em casa”, avisa Andrea Agda. Isso até 2013, quando o duo, acompanhado de Régis Damasceno (Cidadão Instigado) e Richard Ribeiro (Porto), gravou as bases para “Voo”, o segundo álbum do Banana Scrait, que ainda conta com participações de Rômulo Santiago (trombone), Paula Tesser e Oscar Arruda, e foi lançado no primeiro semestre de 2015.
A sonoridade urgente do primeiro álbum, lançado no cada vez mais distante século passado, é deixada de lado por canções singelas que exibem uma bem-vinda influência brasileira. “Que estranho seria se tivéssemos hoje a mesma proposta dos anos 90. Como se tivéssemos congelados no tempo”, observa Andrea. A novidade se amplia agora com o lançamento de “Giostra” (sim, 14 anos sem lançar nada e, num mesmo ano, eles lançam dois álbuns), que homenageia o maestro Alberto Nepomuceno (1864/1920).
“Giostra”, que conta com três integrantes do quinteto Astronauta Marinho (responsáveis por um dos bons álbuns de estreia de 2015), exibe quatro peças do maestro (três delas parcerias com Machado de Assis, Juvenal Galeno e Osório Duque Estrada) rearranjadas para um formato pop, folk e indie rock com pitadas de psicodelia e música clássica, surpreendendo o ouvinte. Abaixo, Andrea Agda e Daniel Arruda falam sobre o maestro, o tempo em silêncio e planos futuros. “Todo esforço vale a pena”, diz Andrea.
O “Yes, We Have Bananas” foi lançado em 1996. Ou seja, de lá pra cá são 18 anos. O que aconteceu nesse tempo? Vocês chegaram a parar com a banda, ou ela sempre acompanhou vocês?
Andrea: Em 2001 teve o “Tecnotopia”, que foi lançado de forma quase artesanal com algumas cópias. Fizemos só dois shows desse disco e demos um tempo de apresentações, mas nunca deixamos de tocar em casa.
Daniel: Em 2008 fomos morar em Recife e a partir dai, devagarzinho, retomamos com a produção… Foi lá que nasceu a canção “Voo”, que dá titulo ao álbum.
E não bastasse romper o silêncio com um álbum, vocês logo estão lançando dois: primeiro saiu o “Voo” e agora está chegando o “Giostra”. Falem um pouco sobre cada um desses discos?
Andrea: “Voo” foi gestado por um bom tempo. Gravamos as bases aqui em São Paulo em 2013, com o Richard (Ribeiro) e com o Regis Damasceno, que foi nosso parceiro na produção de “Voo”. Levamos o material para Fortaleza e depois fomos inserindo outros elementos, gravando inclusive coisas em casa, sem pressão de estúdio… “Voo teve” o processo todo… desde o início das gravações até o lançamento, durou quase dois anos. Porque dentro desse período começamos a gestar o projeto do “Giostra”, que trabalhamos quase um ano nos arranjos e gravamos tudo em quatro dias, com músicas que a gente já tinha testado em show, com o Guilherme, Felipe e Caio do Astronauta Marinho.
Daniel: Foi muito bom viajar por um universo diferente do que estávamos habituados a tocar. Nos permitindo um desafio de trabalhar com o que é essencial, a música como linguagem dentro de estéticas completamente diferentes. No final a gente criou a nossa própria argumentação musical nesse diálogo com o gênio da música que foi Alberto Nepomuceno.
Como o repertório do Alberto Nepomuceno chegou até vocês?
Andrea: Em Fortaleza nos anos 90, frequentei o curso de música que funcionava no Conservatório Alberto Nepomuceno, de alguma forma esse nome sempre foi presente, uma referência distante, mas presente. A ideia surgiu primeiro com a música “A Jangada”, que eu fiquei imaginando um riff de guitarra baseado no piano e que se repetiu durante toda música incansavelmente como as ondas do mar. Percebemos que seria possível fazer essa transição e começamos a pesquisar várias músicas, nem todas entraram no “Giostra”.
Daniel: Um dia, em 2006, numa feira de discos lá em Porto Alegre, encontramos uma caixa de vinil do Alberto Nepomuceno, e na hora bateu aquela intuição… Isso deve ser um tesouro. E era! Quando chegamos a Fortaleza, ao ouvirmos o material, foi amor à primeira audição…
O “Yes, We Have Bananas” é cantado inteiramente em inglês e mais enérgico, mas no “Voo” já há canções mais lentas e em português (e em francês!). Mudou o mundo ou vocês mudaram? 🙂
Andrea: Mudamos nós e o mundo (rs). Se alguém ouvir “Voo” (que foi lançado no primeiro semestre) e o “Giostra”, lançado agora no início do segundo semestre, já vai notar diferenças e nuances bastante significativas. Na pegada das músicas, nos timbres e na sonoridade. Acho que estranho seria se tivéssemos hoje a mesma proposta dos anos 90. Como se tivéssemos congelados no tempo. Tudo muda, mas acho que tem a essência que sempre está ali. Tem uma canção que se você reparar está em todos os discos: “Butterflies in My Mind” é a última música (de “Yes, We Have Bananas”) dentro de uma faixa com várias músicas, que é a faixa demo. Só quem escuta o disco até o fim pode perceber, já que não está como faixa. Ouvindo as três versões da mesma canção dá para sentir claramente os momentos onde são exploradas sonoridades bem diferentes e a canção está ali em cada um dos discos. Aparentemente pode soar como mudar da água para o vinho, mas, no fundo são tipos de uvas diferentes. Variações do mesmo tema.
Daniel: São andamentos, ritmos e harmonias bem diferentes, mas nunca divergentes. Gostamos de experimentar e não estamos presos a um estilo musical, se temos apenas uma vida, que seja rica em experimentar novidades. Seguir novos caminhos, sem expectativas maiores, pode ter surpresas bem prazerosas. Estamos nos divertindo ao longo do percurso.
O “Voo” e o “Giostra” conta com formações diferentes de banda e várias participações, certo? Como está a formação atual e como funciona o Banana Scrait nos shows?
Andrea: “Voo” teve a participação dos músicos Regis Damasceno (guitarra e baixo) e Richard Ribeiro (bateria). Já “Giostra’ teve a participação dos amigos Caio, Felipe e Guilherme da banda Astronauta Marinho. Também tivemos a parceria do maestro Rômulo Santiago, no trombone, em ambos os discos.
Daniel: Agora estamos tocando com Marcos Maia na bateria, que tocava com a gente na década de 90, e David Brasileiro no baixo, amigos de longa data, que reencontramos aqui em São Paulo e que estamos curtindo muito poder tocar junto num formato mais compacto. No show de lançamento do “Giostra” entra a participação do Rômulo no trombone. Eu me revezo no piano, synths e saxofone e a Andrea fica com guitarra e voz.
Vocês está em plena atividade: shows, clipes, discos! Como estão os planos futuros?
Daniel: Nestes dois últimos anos estivemos muito dedicados a produzir. Então agora o plano é divulgar esta intensa produção, levando nossa música a um maior número de pessoas, nos mais variados lugares. Estamos com várias ideias e parcerias engatilhadas para fazer mais clipes. E planejamos uma turnê pelo interior de SP, depois do lançamento do “Giostra” em Fortaleza. Tocar, tocar e tocar onde for possível.
Andrea: O Brasil é muito grande, quase um continente, e precisamos nos esforçar para fazer shows em cidades que muitas vezes estão a milhares de quilômetros de onde vivemos. Também queremos divulgar em Portugal e outros países. Todo esforço vale a pena, pois nossa vida só tem sentido com a música… e é muito legal quando temos um feedback positivo ou quando alguém se conecta com a nossa música… isso só nos dá mais energia para voar por ai, conhecer novas pessoas e novos lugares levando nosso som… mesmo que a bagagem seja um pouquinho pesada, pois temos que levar vários instrumentos… rs
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. A foto que ilustra o texto é de Amando Costa