“Suzy, Led Zeppelin e Eu”, de Martin Millar (Editora Ideal)
por Marcelo Costa
Imagine o show mais sensacional que você viu na vida. Pensou? Que tal escrever uma longa resenha sobre ele contextualizando seu momento na época: amigos, cotidiano, paixões, vícios, etc… É mais ou menos isso que o escocês Martin Millar faz em “Suzy, Led Zeppelin and Me”, livro lançado em 2002 no Reino Unido que chega ao Brasil agora com 112 páginas e tradução de Leonardo Scriptore. Martin viu o Led Zeppelin (no auge) em Glasgow, na Escócia, em 1972, tocando (tente imaginar) as canções do recém-lançado “Led Zeppelin IV” (e inéditas que entrariam em “Houses of The Holy”, do ano seguinte.). Ele tinha apenas 14 anos, era viciado na banda e apaixonado pela Suzy do título – seu melhor amigo, Greg, também, e olha que ela namorava o Zed, o cara mais velho que inspirava a molecada na escola. Você não está errado em prever confusão, caro leitor, e ainda que a narrativa adolescente encha o saco em alguns momentos (o personagem já tem mais de 40 quando rememora o show, mas narra como se tivesse 14), a passagem da infância para a adolescência é descrita com sublime delicadeza. “Depois que mudei pra Londres, se a vida estava dura eu podia ir a um bar e tomar uma. Na escola, se as coisas estavam ruins, eu só tinha o Led Zeppelin”, conta o rapaz. Outra: “A gente não tinha definido ainda a diferença entre amor e tesão, o que era compreensível. A gente só tinha 15 anos. Muita gente nunca define essa diferença”. Por trás do jeito nonsense da narrativa há um romance interessante, que pode conquistar fãs de Nick Hornby (e do Led).
Nota: 7
Preço em média: R$ 39
“O Cão do Sul”, Charles Portis (Editora Objetiva)
por Adriano Mello Costa
O cidadão tem 26 anos e ainda está sem rumo. Já se dedicou a diversas coisas, porém, nunca foi muito longe em nenhuma delas e, apesar de inteligente, essa falta de empenho não conta muito pontos. O pior: ele não está muito preocupado com isso, pelo contrário. Até o dia em que sua mulher resolve fugir com outro. Bom, aí a coisa muda de figura e se faz necessário mexer o corpo para recuperar o amor perdido (nem tanto), o carro utilizado para a fuga (um amado Ford Torino) e os cartões de crédito. Ele é Ray Midge, personagem principal de “O Cão do Sul” (“The Dog of The South”, no original de 1979), pequeno clássico cult de Charles Portis, famoso por “Bravura Indômita” (1968), que só agora ganha edição nacional via Alfaguara, selo da Editora Objetiva, com 264 páginas e tradução de Renato Marques. Ray é um herói improvável alternando momentos de caridade e bom coração com uma tendência conservadora, racista e xenofóbica. Por mais que sua causa seja justa, seus atos nem sempre são. Ele parte atrás da amada saindo de uma pequena cidade do Arkansas, passando pelo México e terminando em Belize. Durante o trajeto, encontra uma porção de personagens desconexos e surreais, além de situações que flertam com absurdo e loucura numa fina camada de humor negro e acidez, que não perdoa quase ninguém. Todos estão perdidos na América do final dos anos 70, sem saber ao certo onde devem aplicar o tempo que lhes resta. É usando isso que o autor cria um livro não só engraçado e satírico, como também um trabalho crítico de comportamentos sociais, com muito cinismo enxertado na mistura.
Nota: 7,5
Preço em média: R$ 35
“Turma da Mônica – Lições”, de Vitor e Lu Cafaggi (Graphic MSP/Panini)
por Bruno Capelas
A coleção Graphic MSP – iniciada em 2012 pela Panini em parceria com Mauricio de Sousa para revisitar as criações do quadrinista em roupagem esperta – ganha nova força neste “Lições”, dividida novamente a quatro mãos pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Em “Laços” (publicada em 2013), o quarteto Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali partia em uma aventura na floresta em busca do cachorro Floquinho, à moda de filmes como “Goonies” e “Conta Comigo”. Agora, é hora de encarar a “vida dura” na primeira série da escola, em meio a valentões e lições de casa, em um universo que coexiste com o cinema de John Hughes e o primeiro “De Volta Para o Futuro”. No entanto, é pela delicadeza e pela releitura dos personagens que “Laços” encanta: vemos algumas das principais características da Turminha sendo questionadas (Cascão, por exemplo, faz aulas de natação, já Cebolinha vai parar numa fonoaudióloga) ao mesmo tempo em que sabemos, por exemplo, como Mônica e Magali se tornaram amigas no jardim de infância. Repare ainda na inserção bem-colocada de coadjuvantes como Marina, Dudu e Quinzinho. Tudo isso é escrito com muito respeito à identidade do quarteto, mas sem perder o frescor de originalidade e emoção que já tinha sido visto em “Laços” e também em “Valente”, tirinha feita por Vitor há anos. “Lições” é para preparar o lencinho, mas também para ficar com um sorriso bobo no rosto. E sabe qual é a melhor parte? Isso parece ser pouco perto do potencial dos irmãos Cafaggi. Fique de olho, caro leitor.
Nota: 9
Preço: R$21,90 (capa cartonada) ou R$ 31,90 (capa dura)
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
2 thoughts on “Três livros: Suzy, Led, O Cão do Sul e a Mônica”