por Marcos Paulino
“Existe Alguém Aí?” é o oitavo disco solo de Wander Wildner e, segundo o próprio, seu primeiro conceitual. Entre as 10 faixas inéditas do novo álbum, histórias de personagens com os quais esbarramos diariamente nas grandes cidades. Eles falam de solidão, de decepção, de tristeza, de incompreensão, de injustiça. Mas também de amor e de libertação. São, enfim, novos dos tantos personagens já incorporados por Wander, do punk-brega ao trovador latino, numa metamorfose constante que se renova a cada trabalho.
Lançado em março, o álbum vem sendo apresentado ao vivo numa extensa agenda (que passou por São Paulo em julho numa noite memorável). Ainda assim é interessante observar como os shows se concentram, principalmente, no Sul do país, Porto Alegre em especial, além de São Paulo e de uma incursão pela Bahia prevista para setembro. Mas, para o gaúcho Wander, a capital do Rio Grande do Sul representa muito pouco além de trabalho: “Porto Alegre não significa mais nada como cidade para mim”, diz ao PLUG Music, parceiro do Scream & Yell.
Disponibilizado em CD e pencard em seu site oficial e MP3 via Bandcamp, “Existe Alguém Aí?” foi gravado em Porto Alegre, editado no Rio e mixado em Nova York, e marca a entrada de novos Comancheros: os irmãos Gustavo e Mauricio Chaise, que estão acompanhando Wander na nova tour (Mauricio ainda toca com a Cidadão Quem e com Nenung & Projeto Dragão) mais Cesar Castro (o velho parceiro Jimi Joe completa o time ao vivo). Abaixo, Wander fala sobre o novo disco, pessimismo, rótulos e pergunta: Existe alguém aí dentro de você?
“Existe Alguém Aí?” é um disco conceitual, o seu primeiro. O tema central é Porto Alegre, com cada personagem protagonizando uma canção. O que te levou a seguir essa linha?
Na verdade, o disco é uma crítica à sociedade consumista brasileira, uma crítica à forma como estão crescendo as grandes cidades. Porto Alegre é só mais uma.
Ter morado em Lisboa te fez mudar sua visão sobre Porto Alegre?
Não! Tanto que não considero que moro em Porto Alegre. Tenho um lugar na cidade onde vivo e trabalho a maior parte do tempo, mas fora a minha herança cultural e os amigos, Porto Alegre não significa mais nada como cidade para mim.
A faixa “Naquela Noite Ela Chorou”, que você explicou como sendo inspirada na derrota de Olívio Dutra para Lasier Martins na votação para o Senado, em 2014, foi a que talvez tenha suscitado mais polêmica. Uma disputa para o Senado, em tempos de descrédito total na classe política, pode realmente fazer alguém chorar?
Você não deve conhecer o Olívio. Fora ter sido meu professor, e de eu ter trabalhado numa das campanhas dele para governador, acompanhando ele nas viagens ao interior, ele é um dos poucos políticos realmente 100% maravilhosos. Confiável, honesto e admirado por quase todos, até pelos rivais. Sim, naquele domingo, muita gente chorou!
Apesar de certo clima de pessimismo, os personagens das canções do novo disco acabam quase sempre, afinal, dando a volta por cima. Era o recado de que há esperança que você quis passar?
Não exatamente. O pessimismo é com a maioria das pessoas que aceitaram essa sociedade. Mas existe muita gente que procura criar novos pequenos mundos, e os personagens das músicas fazem parte desse grupo.
Punk-brega, trovador folk… Aos 55 anos, três décadas de carreira, você vem se reinventando a cada disco. Você planeja esses personagens ou eles simplesmente incorporam em você? Ou tudo não passa da necessidade de se rotular a todos?
Nunca me rotulei. No release do primeiro disco, disse apenas que “o disco” era punk brega. Eu sou apenas um homem.
Você ainda guarda a camiseta escrita Eu Te Amo?
Se perdeu.
Entre o Wander de hoje e aquele que detonava o surfista calhorda com os Replicantes, quais os principais pontos de interseção e quais as principais diferenças, artisticamente falando?
Vim do teatro. Nos Replicantes, era um trabalho em grupo e meu papel era apenas interpretar as canções que eles compunham. Na minha carreira solo, tenho que criar tudo através da minha visão do mundo.
Aliás, você tem mandado algumas canções dos Replicantes nos seus shows. É decisão sua ou exigência do público?
Faço os shows para o público, procuro tocar as músicas que eles mais gostam. Mas também faço certos shows onde toco só o que quero. Varia de acordo com a situação.
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (plugmusic.zip.net), da Gazeta de Limeira.
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