por Marcelo Costa
“Enquanto Somos Jovens”, de Noah Baumbach (2014)
Em seu primeiro filme após o (seu segundo) sucesso indie com “Frances Ha” (2012), o cineasta Noah Baumbach parece repetir o descaso cinematográfico flagrado após chamar a atenção com o elogiado “A Lula e a Baleia” (2005), que, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, foi seguido do fraquinho “Margot e o Casamento” (2007), que desperdiçava um elenco estrelado (Nicole Kidman, Jennifer Jason Leigh, Jack Black e John Turturro). Assim como em “Margot e o Casamento”, o elenco não é o maior problema de “Enquanto Somos Jovens” (“While We’re Young”): a parte adolescente da trama está ótima (Adam Driver, da série “Girls”, e Amanda Seyfried, são bons destaques) e o casting “maduro” convence (Naomi Watts e Ben Stiller – ele já havia trabalhado num papel dramático com Baumbach, o razoável “Greenberg”, de 2010, e, ainda que mantenha alguns tiques cômicos dispensáveis, cumpre a função aqui muito bem), mas o roteiro tem pequenos tropeços ao tentar discutir os desejos de cada geração no embate entre um documentarista quarentão (Stiller) com um esperto jovem iniciante (Driver), e parte do problema surge do apoio incansável da trama em estereótipos que soam extremamente rasos e caricatos (o hipster de gosto amplo que ouve vinis e iPods, o tiozão genial em crise, a mulher que quer ter filhos e vê a areia da ampulheta minguar e por ai vai). Mesmo assim, há momentos interessantes (mais sugestionados do que aprofundados) neste embate entre (três) gerações num filme que deseja mais do que entrega.
Nota: 5
“Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros”, de Colin Trevorrow (2015)
Um mea culpa antes de começar: eu nunca tinha visto um filme da franquia antes de assistir este “Jurassic World”, e até por isso acho necessário escrever em primeira pessoa (ainda que, hoje em dia, seja alérgico ao estilo), porque parte da enorme decepção com “Jurassic World ” surge também da (maldita) expectativa criada antes de adentrar a sala de cinema, afinal, com o nome de Steven Spielberg envolvido (ele é o produtor), certo equilíbrio era esperado entre aventura, suspense e comédia, e ainda que estes elementos sejam distribuídos aqui e ali no filme, eles são tão hipersupermegamaximizados que perdem totalmente sua identidade, transformando-se em um rascunho vagabundo de si mesmos, fruto deste momento da história em que é preciso turbinar os adjetivos para chamar a atenção de alguém. É preciso gritar cada vez mais alto. O resultado, neste caso, é um pastelão indigesto turbinado por efeitos especiais que está mais para “Top Gang” e “Corra Que a Polícia Vem Ai” (desprovido da auto ironia destes) do que para “Indiana Jones”. Varrendo o cinema pra debaixo do tapete, o roteiro (inócuo) condena cientistas que “brincam” de deuses e pinta um quadro do período paleolítico: o macho (Chris Pratt) que precisa proteger sua fêmea (Bryce Dallas Howard), indefesa. De diversas maneiras, “Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros” é um retrocesso, mas o capitalismo sem freio sorri com a quebra de recordes de bilheteria semana após semana. Não se engane: “Jurassic World” é fezes com cobertura de chocolate.
Nota: 0
“Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência”, de Roy Andersson (2014)
Filme de título quilométrico que encerra a trilogia sobre a humanidade do cineasta sueco Roy Andersson, aberta com “Canções do Segundo Andar” (2000) e seguida com “Vocês, Os Vivos”, (2007), “En Duva Satt På En Gren Och Funderade På Tillvaron” (no original) propõe uma imersão no vazio do cotidiano e da vida através de um conjunto de esquetes delicadamente enquadradas num cenário (Gotemburgo) abastecido por tons pastel, planos fixos e nada de closes, território em que personagens sem vida se movimentam vagarosamente, a espera do juízo final. Dito desta forma, “Um Pombo” parece tender ao dramalhão, mas o que Roy Andersson busca é trazer à tona a comicidade e a fragilidade da existência, e, em meio a esse momento de leveza abastecida de humor negro e absurdo, destilar momentos críticos e filosóficos. O resultado conquistou o júri do Festival de Veneza, que concedeu ao filme o Leão de Ouro, e vem dividindo a crítica, porque o que soa deliciosamente cômico no início da fita, acaba por cansar o espectador conforme a trama avança e as situações se repetem de forma monótona (como dias da semana). Há tanto momentos divertidos (como o do homem que morre logo após ter pagado sua refeição; ou a cientista conversando no telefone e, ainda, a ótima esquete das pessoas no ponto de ônibus) quanto duras críticas sociais (à guerra, ao capitalismo, à mineradora Boliden AB) em um filme que faz o público rir e bocejar de sua própria desgraça. Eis a vida, e não dá pra dizer que Roy Andersson não alcançou seu objetivo.
Nota: 6.5
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
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O Leão de Ouro é entregue no Festival de Veneza.