por Marcelo Costa
A morte de Renato Ladeira, eterno Herva Doce (e também Bixo da Seda e A Bolha), fez com que muita gente se lembrasse de uma parceria sua com Cazuza, a boss(t)inha “Faz Parte do Meu Show” (perdão pelo trocadilho inspirado em Raul Seixas), grande sucesso radiofônico que encerra o melhor álbum de estúdio de Agenor de Miranda Araújo Neto, “Ideologia”, de 1988. Para mim, porém, a grande parceria de Renato Ladeira e Cazuza que vêm à mente é “Desastre Mental”, canção que apareceu primeiro no debute solo de Cazuza, de 1985, e no ano seguinte deu nome ao quarto – e último – disco do Herva Doce. No álbum de Cazuza, “Desastre Mental” era a segunda faixa do lado B de um vinil repleto de grandes canções, ainda que a produção escarrada de Nico Rezende e Ezequiel Neves não dê espaço para sutilezas.
Na época, Cazuza vivia um período de grande sucesso com o terceiro disco do Barão Vermelho, “Maior Abandonado” (1984), um hit na trilha sonora de um filme (“Bete Balanço”) e uma boa apresentação no primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985. Quando decidiu sair da banda logo depois, Cazuza levou consigo três parcerias com Frejat que entrariam no próximo disco do Barão Vermelho (as ótimas “Boa Vida” e “Rock da Descerebração” além do hino “Só as Mães São Felizes) e as gravou no álbum que foi lançado em novembro do mesmo ano. Casualmente, os dois grandes sucessos do disco foram parcerias de Cazuza com Ezequiel Neves: “Exagerado” (que ainda traz assinatura de Leoni) e “Codinome Beija Flor” (também com Arias), mas há muitas outras canções boas no álbum.
Tanto o hard rock “Medieval II” (parceria com o guitarrista Rogério Meanda, que assinaria com Cazuza “O Nosso Amor a Gente Inventa” no disco seguinte) quanto a popzinha “Cúmplice” e a ótima “Boa Vida” são boas canções esquecidas. “Mal Nenhum”, parceria soberba com Lobão, havia sido a última gravação do músico com Os Ronaldos (para a trilha do filme “Areias Escaldantes”, e ganha uma versão poderosa. Já “Rock da Descerebrarão” foi a única que o Barão regravou, em arranjo melhor, no álbum “Carnaval” (1988), ainda que a versão de Cazuza brilhe por seu vocal, que valoriza a boa letra perdida em um arranjo sofrível de teclado e guitarras. Há ainda “Balada de Um Vagabundo”, de Frejat com Waly Salomão, um pouco abaixo do nível do álbum, vitimada também pelo arranjo. Na época, “Exagerado” vendeu 15 mil cópias, e hoje já soma 750 mil discos vendidos.
O Barão voltou à baila em 1986 com “Declare Guerra”, que trazia apenas uma canção de Cazuza (“Um Dia na Vida”, parceria com Mauricio Barros), mas muitas parcerias reluzentes: “Desabrigado”, de Mauricio com Humberto F., dos Picassos Falsos; “Bagatelas”, de Frejat com Antônio Cícero; “Eu Tô Feliz”, de Frejat com Arnaldo Antunes; “Não Quero Seu Perdão”, de Frejat com Júlio e Denise Barroso (reescrita por Lobão em “Canções Dentro da Noite Escura”) e uma inédita de Renato Russo, “Bumerangue Blues”. Os sucessos, veja só, são duas parcerias com… Ezequiel Neves: “Torre de Babel”, que saiu na trilha do programa infantil da Rede Globo “A Era dos Halley” (que ainda trazia faixas inéditas de Titãs, “Planeta Morto”, e Legião Urbana, a tal versão elétrica de “A Canção do Senhor da Guerra”), e a faixa título, “Declare Guerra”.
Aqui o primeiro álbum de Cazuza, na integra:
Escrevi um texto sobre esse disco (e todos da discografia do Cazuza) no meu blog. Exagerado passa longe de ser uma obra prima, mas tem lá seus momentos…