por Marcelo Costa
Sucesso da cervejaria belga Moortgat, a Duvel ganhou uma versão lupulada em 2007 com um terceiro lúpulo diferente ao lado do tcheco Saaz e do esloveno Styrian Golding: em 2007 foi o lúpulo norte-americano Amarillo; em 2012, quando ela passou a ser produzida anualmente, outro lúpulo norte-americano, Citra; em 2013 foi a vez do lúpulo japonês Sorachi Ace; em 2014, a Duvel Tripel Hop chegou ao mercado acrescida do lúpulo Mosaic (EUA); e em 2015, mais um lúpulo norte-americano: Equinox. O lúpulo tem tripla função numa cerveja: é um conservante natural (seu principal atributo) tanto quanto imprime aroma e sabor (amargor incluso) no conjunto. Porém, as qualidades de aroma e amargor costumam perder força com a guarda, o que não impede testes verticais como o abaixo: três Duvel Tripel Hop safradas, 2013, 2014 e 2015. Bora.
Abrindo a sequencia vertical com a Duvel Tripel Hop 2013, que traz como lúpulo “convidado” o japonês Sorachi Ace, desenvolvido em Hokkaido, no Japão, pela Sapporo Breweries (como resultado de uma combinação dos lúpulos Brewer’s Gold e Saaz) desde o final de 1970, mas popularizado na América apenas a partir de 2006, e depois no resto do mundo. De coloração amarelo turva (diferente do dourado tradicional – e do ano anterior) com creme branco majestoso e espesso, de excelente formação e permanência “eterna”, a Duvel Tripel Hop 2013 apresenta um aroma bastante herbal, com notas que remetem a hortelã, grama, alecrim, levedura, feno e leve resina. O cítrico, perceptível na cerveja mais fresca, desapareceu nesta versão (validade 10/2015). Na boca, a textura é seca e picante. O primeiro toque exibe notas cítricas logo atropeladas por um amargor marcante tanto de lúpulo quanto de álcool e secura. A carbonatação soa mais aconchegante enquanto o conjunto sugere um chá de ervas (hortelã, capim-limão, alecriam, semente de cravo) com leve sugestão cítrica. O final é seco e herbal. No retrogosto, mais herbal e leve amargor.
Segunda da sequencia, a Duvel Tripel Hop 2014 recebeu adição do lúpulo norte-americano Mosaic, derivado do lúpulo Simcoe e desenvolvido pela Hop Breeding Company. O Mosaic é bastante valorizado por combinar notas cítricas, florais e herbais. A coloração parece manter a aparência amarelo palha levemente turva da mesma versão provada no ano passado (na verdade, a Duvel Tripel Hop 2013 mudou bastante a cor neste ano). O creme segue majestoso: excelente formação e permanência eterna. No nariz, o aroma continua brilhante, ainda que tinha perdido um pouco de sua força (o que é normal): notas herbais à frente (pinho e ervas), floral e cítrico (maracujá, lima e abacaxi) logo na sequencia e mais pêssego e mel na base. A levedura é responsável pela condimentação (pimenta do reino e cravo). Na boca, a textura é seca e picante. No primeiro toque, mais nitidez de notas herbais e acidez do que na versão 2013. O amargor vem na sequencia varrendo tudo e traz consigo… álcool, assim como na garrafa da mesma safra provada ano passado (é raro o álcool se destacar nas Duvel, mas essa Tripel Hop 2014 trouxe essa novidade). Dai em diante, herbal apaixonante e leve cítrico. O final traz herbal, secura e álcool. No retrogosto, leve pinho, álcool e… felicidade.
Fechando a vertical de Duvel Tripel Hop com a versão 2015 que recebe adição do lúpulo norte-americano Equinox, lançado em 2014 pela Hop Breeding Company e elogiado por combinar notas tropicais cítricas com floral e herbal (e pimenta verde, a Hop Breeding reforça). Na taça, a versão 2015 (bebida em 2015) foi a única a apresentar a coloração dourada tradicional da Duvel. O creme branco novamente mostrou beleza na formação, mas não teve a mesma força na retenção que os exemplares anteriores. No nariz, um aroma caprichado e delicioso que parece ser uma junção de cítrico com herbal: é possível perceber abacaxi, kiwi, limão, ervas, grama, capim-limão, toranja e feno molhado. O floral é delicado assim como a percepção de malte. O álcool, ao contrário da versão 2014, não dá as caras. Na boca, a textura parece mais viva, seca e picante. O primeiro toque traz mais herbal que cítrico e a combinação de lúpulos Saaz e Styrian Golding, estrelas da Duvel tradicional, parece “sair da casinha” nessa versão. O amargor é potente, mas não agressivo, e os 9.5% de álcool dão um rápido alô, mas muitos nem vão percebê-lo (talvez só ao levantar da mesa). No conjunto, herbal e cítrico presentes (grama, abacaxi e, ok, pimenta verde suave). O final é seco e herbal. No retrogosto, herbal, frutado (kiwi) e… não tem como: muita felicidade.
Balanço 2015 – (25/07/2015)
De 2014 para 2015, a Duvel Tripel Hop 2013 ganhou mais impacto herbal e perdeu o brilho cítrico. O álcool também parece estar mais presente na versão atual, que ainda ganhou uma turbidez extra, mas não perdeu o charme de boa cerveja. Ainda assim, a versão 2013 bebida em 2014 estava bem mais interessante. Se no ano passado houve um equilíbrio entre as versões 2013 e 2014, a Duvel Tripel Hop 2014 soou muito melhor neste ano (inclusive do que a garrafa da mesma safra bebida ano passado!). Mais equilibrada, ainda que o álcool continue lembrando o bebedor que está ali, bastante presente. Das quatro (duas do ano passado e duas deste ano, essa Duvel Tripel Hop 2014 foi a melhor). Mas tem a 2015… que me soou cheirosa (como era de se esperar), mas não tão profunda com as versões anteriores degustadas no ano de lançamento. Até é possível perceber a influência do Saaz e do Styrian Golding (os lúpulos base) na receita, quando nas versões anteriores o convidado era quem mais brilhava. Ainda assim, o mix de notas cítricas e herbais merece aplausos numa bela cerveja. Como será que ela vai se comportar no ano que vem? Vamos esperar.
Balanço 2014 – (26/10/2014)
Sou fascinado pela Duvel tradicional, e é incrível como os belgas levaram além a experiência da receita com essa versão Tripel Hop. Não experimentei a edição de 2007, com Amarillo, mas a com lúpulo Citra (2012) estava sensacional. A versão 2013 mantém o nível lá em cima com a secura da receita original combinando perfeitamente com os traços cítricos (limão) do lúpulo japonês Sorachi Ace. A memória afetiva diz que o Citra se saia um tiquinho melhor, e terei que conviver com isso (já que não tenho uma garrafa dela agora pra comparar in loco), mas a Sorachi Ace é espetacular. A versão 2014, com lúpulo norte-americano Mosaic, promove uma interessante diversidade: bebidas no mesmo dia, a versão 2013 perde no aroma, mais intenso e apaixonante na 2014, mas ganha no sabor, mais completo na 2013. O lúpulo na 2014 parece ainda bastante ativo e toma pra si muito da atenção enquanto na 2013 ele parece mais bem integrado ao conjunto.
Duvel Trupel Hop 2013, 2014 e 2015
– Produto: Belgian Golden Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 5/5
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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– Sobre todas as cervejas da Duvel Tripel Hop neste blog (aqui)