Respostas para Natalia Albertoni (12/2014) para o Guia da Folha
Você ouviu muita coisa nova esse ano? Quais foram os destaques de 2014?
90% do que ouvi este ano é novo, e o fato de rodar vários festivais independentes me apresentou a muitas novidades. Gostei demais do Far From Alaska, de Natal, tanto em disco quanto no palco. E acho que a ficha do Boogarins finalmente caiu pra mim: é preciso vê-los em lugares minúsculos e com bom som, isso valoriza o som deles. O disco solo da Juçara Marçal é algo indescritível. A estreia da Banda do Mar, uma boa surpresa.
Tem apostas para quem vai acontecer em 2015?
Sou péssimo em apostas, mas acredito que a radicalização de bandas como Cérebro Eletrônico, Mombojó e Charme Chulo deverá se ampliar. Essas três bandas, inteligentes que são, descobriram que o mercado é do tamanho de um saco de pipoca, e que se elas fizerem um disco magnificamente pop ou um álbum absurdamente doido, vão alcançar o mesmo público. Isso dá liberdade, e quem souber lidar com a liberdade poderá construir algo especial. De resto, programas de TV vão despejar um monte de artistas ruins no mercado, mas isso acontece todo o ano.
Quais são as melhores casas para conhecer novas bandas?
Estou em um momento de paixão por festivais, então acredito que quem quer conhecer bandas novas tem que ir atrás de festivais como Se Rasgum, de Belém, DoSol, de Natal, Casarão, de Porto Velho, El Mapa de Todos, de Porto Alegre, Transborda, de Belo Horizonte, Coquetel Molotov, de Recife, e Bananada e Noise, de Goiânia. É incrível o nível de qualidade que estes festivais alcançaram, e quem tiver cabeça aberta poderá descobrir coisas especiais.
Porém, não é preciso sair de São Paulo não (a ideia de sair é também conhecer outras cidades, outras pessoas). O Espaço Puxadinho da Praça, na Vila Madalena, já alcançou a marca de mais de 500 shows autorais. 500!!! E a maioria dos paulistanos não conhece sequer 1% destas bandas. A Casa do Mancha é também outro espaço agradável para se conhecer o novo. Um local que entrou no roteiro da agenda de novos artistas é a Sensorial, na Rua Augusta, mas do lado dos Jardins. Tem muita coisa sensacional acontecendo naquele espaço. Mais três lugares para favoritar e ficar atento às agendas: Beco (e o projeto Beco Antes), Da Leoni (e o projeto Noites Café com Leche) e o Centro Cultural Rio Verde. E, acredite, há mais que isso.
Identifica algum problema nessa cena paulistana? Ou vai muito bem, obrigada?
Não vejo problema com a cena, mas com o público: há produção farta (de discos, shows, eventos), mas falta público, falta que as pessoas descubram, que a informação chegue a elas. Será que é dever do artista preparar o almoço, servir, colocar a pessoa na mesa, a colher na boca dela e, de alguma maneira (movimentando sua mandíbula?) ajuda-la a mastigar? Não sei. Há muita música boa sendo produzida em São Paulo e há pouco público. Paralelamente, o show da banda Malta, que é uma porcaria, deve estar cheio. Será possível identificar o problema?