por Marcelo Costa
“2015 está sendo um ano de colocar a casa em ordem em todas as instâncias”, conta Dulce Quental, que verá seus três primeiros discos, lançados pela EMI nos anos 80, remasterizados para as plataformas digitais, prepara um vinil de inéditas e dispersas para o segundo semestre e também o lançamento de seu primeiro romance, “Memória Inventada”, via processo de crowdfunding (conheça as recompensas).
Entre 2005 e 2008, Dulce Quental assinou no Scream & Yell mais de 40 textos na coluna “Caleidoscópicas”. Depois a coluna virou blog no iG, e ela seguiu seu caminho pelas ruas da internet. Boa parte dessas colunas (e algumas extras) entraram no livro “Caleidoscópicas” (2012), meio que um embrião de “Memória Inventada”: “Foi a partir da experiência de escrever toda semana, ou quinzenalmente, que descobri o prazer da ficção”, ela conta.
No terreno musical, Dulce estreou com a banda Sempre Livre lançando o álbum “Avião de Combate” (de sucessos como “Esse Seu Jeito Sexy de Ser” e “Eu Sou Free”) em 1984. Depois saiu em carreira solo lançando “Délica” (1988), “Voz Azul” (1987), “Dulce Quental” (1988) e “Beleza Roubada” (2004) cravando sucessos como “Natureza Humana”, “Caleidoscópio”, “Viver” e uma versão para “Terra de Gigantes”, dos Engenheiros do Hawaii (conheça os discos).
Na conversa abaixo, por e-mail, Dulce conta sobre seus novos projetos, fala das dificuldades de realizar um projeto de crowdfunding e diz que voltará aos palcos para divulgar o álbum “Música e Maresia” em setembro. “Espero que o livro esteja pronto até lá. E aí, seguir em frente. A voz está voltando com toda força. Voz narrativa, autoral e sonora”, ela avisa. Fala Dulce.
Você já havia escrito várias crônicas, muitas delas para o Scream & Yell, inclusive. Como surgiu a ideia de escrever um romance? Era algo que sempre esteve por perto e agora se materializou ou é uma descoberta recente?
É interessante que estejamos de novo conversando porque tudo começou um pouco por causa das Caleidoscópicas (a coluna no Scream & Yell). Foi a partir da experiência de escrever toda semana, ou quinzenalmente, que descobri o prazer da ficção. As crônicas me ajudaram a revelar a voz autoral. Os fatos diversos que envolvem esse tipo de narrativa pouco a pouco foram dando lugar às pequenas ficções. Foi então a hora de parar e mergulhar num projeto mais ambicioso. De longo prazo. Eu estava também interessada na obra do escritor pernambucano Raimundo Carrero. A identificação com a voz narrativa de um dos seus personagens despertou em mim a ideia de que talvez eu tivesse uma historia para contar a partir do ponto de vista de um narrador que poderia ser, talvez, a irmã do personagem de Carrero.
Essa é a primeira vez que você está trabalhando com crowdfunding, um modelo que vem sendo bastante usado para viabilizar projetos. Como está sendo a experiência?
A experiência com o crowdfunding está me mostrando o quanto é difícil mobilizar as pessoas. E o quanto é fantasiosa a relação que temos com a internet e as redes sociais. Você se acostuma a falar todos os dias com milhares de pessoas que não conhece direito, conversando sobre os mais variados temas e cria a ilusão que elas se interessam, de fato, por você ou pelo que você tem a dizer. Mas na maioria das vezes é uma enganação. Quando você coloca isso a prova, como, no caso de um projeto como esse, é que vê como funciona. As pessoas vão lá. Curtem. Mas não apoiam. Então a sensação que fica é a de que vivemos uma enorme ficção coletiva. Um delírio narcísico. Ninguém apoia ninguém de verdade. Mas finge que apoia. Tudo é um enorme teatro virtual. Quem apoiou até agora o projeto foram meus amigos e familiares. Amigos virtuais foram muito poucos. E tem muita coisa de fantasiosa também a nossa própria relação com a plataforma. Eles são apenas um aplicativo. Um instrumento para ser usado. Eles não entram na campanha a não ser que atinja certa visibilidade. Todo o trabalho tem que ser feito pelo artista. E aí é que o bicho pega. Se fôssemos profissionais de marketing não seríamos artistas. Ao mesmo tempo, temos que aprender a usar as ferramentas que existem. Não existe nada fora do mercado. Tudo é mercadoria. Ingenuidade pensar o contrário. Só se combate a técnica com a técnica.
A Universal vai enfim disponibilizar em formato digital os três discos que você gravou na EMI nos anos 80?
2015 está sendo um ano de colocar a casa em ordem em todas as instâncias. Arrumando os armários e o passado. Esses discos (“Délica”, de 1988; “Voz Azul”, de 1987; e “Dulce Quental”, de 1988) vão sair agora pela Universal, masterizados para esse formato, já que nunca saíram em CD. E em setembro estou lançando “Música e Maresia”, um vinil de gravações Inéditas e Dispersas. Coisas que gravei nos anos 90 e quem nunca saíram. Vai ser uma edição caprichosa com capa dupla. Para comemorar esses lançamentos vou voltar aos shows. Já temos uma data agendada em São Paulo, no SESC Belenzinho, dia 26 de setembro. Espero que o livro esteja pronto também até lá. E aí, seguir em frente. A voz está voltando com toda força. Voz narrativa, autoral e sonora.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– Quatro discos: “Délica”, “Voz Azul”, “Dulce Quental” e “Beleza Roubada” (aqui)
– Entrevista: Dulce Quental (2004) (aqui)
– Dulce Quental reúne crônicas de internet no livro “Caleidoscópicas” (aqui)
– Dulce Quental: “Cazuza, amigo e inspiração” (aqui)
– Caleidoscópicas: leia algumas crônicas de Dulce Quental no Scream & Yell (aqui)
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