por Marcos Paulino
Em seus 45 anos de carreira, Odair José sempre brigou com a alcunha de cantor brega. Acha que o rótulo diminui sua obra. Nos últimos anos, ele vem tendo sucesso nessa luta. Ganhou até um disco-tributo no qual várias bandas pop interpretam seus sucessos.
Aos 66 anos, Odair mais do que nunca quer ser roqueiro, como demonstra em seu novo CD, “Dia 16”, recém-lançado. São 11 canções com as quais ele pretende conquistar de vez o público jovem. Nesse trabalho, percebe-se a especial predileção do artista pelo som das guitarras, como ele admite nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Odair também participou do projeto gráfico do álbum, que relembra vários fatos acontecidos em um dia 16, a exemplo do aniversário do cantor, nascido em agosto de 1948, e avisa que “essa coisa de guitarra me diverte”. Confira o bate papo abaixo:
“Dia 16” é o seu segundo disco de inéditas em três anos. Você anda bastante produtivo, não?
Olha, realmente ando bem à vontade para compor, nada em série, pois não é a maneira certa. Mas acho que estou de novo em sintonia com minhas observações, bem focado e de um jeito bem disciplinado.
Você cita várias referências para algumas faixas do disco novo: AC/DC (“Dia 16”), Roy Orbison (“Sem Compromisso”) e McCartney (“Começar do zero”). E a crítica comprou de bom gosto um Odair José rock’n’roll. Você esperava por isso?
Sempre acreditei que, se eu fizesse um projeto sem a interferência na produção, seguindo a minha intuição, eu poderia conseguir um bom resultado. Mas “Dia 16” me surpreendeu positivamente, e tentar lembrar o trabalho dessas pessoas, no meu caso, sempre ajuda.
Negar o rótulo de brega sempre foi recorrente em sua carreira. Frase sua: “Agora, estão vendo meu trabalho de forma mais respeitosa, não preconceituosa”. Parece que, finalmente, você conseguiu convencer que estava certo. Confere?
Como alguém pode gostar de ver seu trabalho sendo tratado de maneira tão menor, quando se tem a certeza de má intenção ou pura desinformação? Ainda bem que aos poucos isso está mudando.
Outra frase sua: “Mesmo que as rádios não o toquem, é um disco radiofônico”. Você acha que Odair José deveria tocar mais na rádio?
Acho que sim, mas se pra isso acontecer eu tiver que fazer investimentos extras, não vai rolar! Gostaria que os profissionais da mídia radiofônica percebessem a qualidade do produto e executassem. No meu entender, melhoraria e muito o nível musical no Brasil se os programadores agissem sempre dentro desse conceito.
É público e notório que você sempre gostou de temas polêmicos. Cantou prostitutas, amores entre classes, a vida de um Jesus heterodoxo… Agora provoca com um caso entre um velho e uma moça. Foi só pra não perder o costume?
Não, a razão que me leva a tocar em determinados temas é porque, no meu entender, ajudo a desmistificar tabus. São verdades claras que ficam escondidas por conta da hipocrisia das pessoas, e “A moça e o Velho” é mais uma reportagem contra o preconceito.
O que aconteceu de tão especial no Morro do Vidigal pra merecer uma música?
Nada de muito especial, apenas boas lembranças de momentos vividos por mim ali, num estúdio no ano de 1976, onde ensaiei por seis meses o meu primeiro projeto de uma banda de garagem, para “O Filho de José e Maria”.
A divulgação do disco dá conta de que você optou por gravá-lo “da forma mais analógica possível”. O que isso realmente quer dizer?
Isso quer dizer que, junto com mais três músicos, em um espaço com elementos analógicos, ligamos os amplificadores e saímos tocando, com disciplina, mas de forma totalmente despojada. Nos divertimos e realizamos um bom trabalho, o “Dia 16”.
Você foi descoberto pelos jovens – talvez por “Vou Tirar Você Desse Lugar”, tributo de bandas pop ao seu trabalho, de 2006 – e parece estar adorando. E o seu público antigo, como fica nessa história? É permitido pedir hits como “Uma Vida Só”, aquele do refrão “pare de tomar a pílula”, no seu show?
Olha, é preciso ter cuidado com essa história de exclusão. O público jovem sempre curtiu o meu trabalho. Agora, se a pessoa envelhece e assume postura conservadora, realmente fica difícil manter uma afinidade. Realmente, o tributo foi um projeto importante, pois de certa maneira mostrou que meu trabalho musical é atemporal.
O que você está planejando pro futuro?
Penso que na minha idade o futuro é sempre o presente. Vamos levando, mas já estou idealizando um novo CD pra 2016, e a minha intenção é seguir nessa pegada do “Dia 16”. É o que tem a ver comigo. Essa coisa de guitarra me diverte.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.
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‘O público jovem sempre curtiu o meu trabalho. Agora, se a pessoa envelhece e assume postura conservadora, realmente fica difícil manter uma afinidade’, resume o Brasil em 2015 =(