Boteco: seis cervejas Therezópolis

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por Marcelo Costa

“No ano bissexto de 1912, enquanto os cariocas torciam animados no primeiro Fla x Flu e festejavam a inauguração do Bondinho do Pão de Açúcar, Alfredo Claussen, neto de imigrantes dinamarqueses que povoaram a cidade de Teresópolis durante o séc. XIX, fundou a primeira cervejaria (e também a primeira indústria) do município da Região Serrana do Rio de Janeiro”, conta o site oficial. A cerveja Therezópolis circulou apenas até 1922, pois, devido à dificuldade de importação de matérias prima (após o Brasil ter rompido relações com o bloco germânico pós Primeira Guerra Mundial) ficou difícil produzi-la. Em 2006, Vinícius Claussen, descendente do fundador da cervejaria, reativou o empreendimento lançando uma (boa) linha de cervejas Sankt Gallen, a Therezópolis Gold e, também, a Sul-Americana, conhecida como a “Cerveja Preferida do Imperador Dom Pedro II”. Abaixo fala sobre a linha Therezópolis.

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Segundo o site oficial, a Theresópolis Gold “é uma refrescante Premium Lager de receita dinamarquesa”. De coloração dourada cristalina com creme branco de boa formação e média permanência, a Theresópolis Gold apresenta um aroma até caprichado para cervejas do estilo, com muita sugestão de cereais com acréscimo de leve percepção floral e herbal. Na boca, a textura é suave enquanto o primeiro toque traz suave doçura maltada, sem profundidade, mas perceptível. O amargor não é nada amarguinho (são apenas 10 de IBU) abrindo as portas para um conjunto simples que junta uma pitadinha de cereais e outra de lúpulo floral, sem tirar a atenção do bebedor para o que importa no estilo: o sol, o calor, o salgado do churrasco, a hidratação. O final reforça a sugestão de cereais, delicadamente, enquanto o retrogosto traz refrescancia.

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A Therezópolis Ebenholz (ébano, em alemão), é a Munich Dunkel da casa, cuja receita, avisa o site oficial, une quatro tipos de maltes. É uma cerveja de coloração marrom escuro com creme na fronteira do branco e do bege, de boa formação e permanência. No nariz, notas cumprindo o que o estilo propõe: derivação de malte torrado sugerindo café em primeiro plano, seguido de doçura achocolatada (não tão doce, felizmente) e toffee. No paladar, a textura é suave. O primeiro toque traz rápida doçura achocolatada seguida de amargor de café, o que intensifica a percepção (afinal são apenas 16 de IBU) equilibrando a doçura e não deixando o conjunto com um tom enjoativo. Há doçura caramelada no ponto, chocolate levemente amargo, café, baunilha e suave presença de baunilha. O final termina suavemente com melaço e amargor enquanto o retrogosto traz suaves caramelo e café. Boa.

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A Therezópolis Elfenbein é a Weiss da casa, uma cerveja de coloração amarelo palha, com turbidez mais leve do que as Weiss alemãs (o que sugere que deve passar por uma leve filtragem) e creme branco de boa formação e permanência. No nariz, notas clássicas do estilo repetidas com fidelidade: bastante frutado (remetendo a banana), leve tutti-frutti, cereais (e algo de feno) além de percepção intensa de condimentação (cravo). Na boca, textura suave enquanto o primeiro toque reforça a sugestão frutada (banana) acompanhada de leve doçura. O amargor é pontual abrindo o caminho para um conjunto que valoriza as características do estilo, então dá-lhe sugestão de banana e percepção condimentada (cravo) além de reforço de cereais (pão e feno). O trecho final exibe leve acidez e frutado enquanto o retrogosto traz adstringência, banana, tutti-frutti e cravo. Boa também.

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Lançada em outubro de 2011, a Therezópolis Rubine exibe uma receita composta por maltes tostados do tipo Munich e Carared – e tem estofo para ocupar o espaço deixado vago com a aposentadoria da Kaiser Bock. De coloração âmbar avermelhada com creme bege de boa formação e média permanência, a Therezópolis Rubine apresenta um aroma em que a doçura se sobrepõe remetendo a caramelo, açúcar mascavo (intenso) e toffee. Há suave sugestão frutada (ameixa) e percepção (também suave) de álcool (6.5%) conforme aquece na taça. Na boca, a textura é suave. O primeiro toque mantém o padrão de doçura em destaque, com amargor pontual e álcool na sequencia tentando fazer um contraponto – sem muito sucesso. O conjunto reforça a ideia de doçura caramelada e frutada (ameixa) enquanto o retrogosto traz leve tostado de açúcar mascavo. No retrogosto, ameixa, caramelo e toffee. Boa.

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No segundo semestre de 2014, a cervejaria fluminense colocou no mercado uma cerveja de trigo inspirada na escola belga, ou seja, uma witbier, com direito a adição de casca de laranja e especiarias. Com o nome de Or Blanc, a cerveja apresenta uma coloração amarelo palha (que tenta lembrar um pouco a Hoegaarden, benchmarking do estilo) com creme branco de baixa formação e rápida dispersão. No nariz, decepção: um aroma artificial de laranja se destaca no conjunto sobrepondo-se as especiarias, que, aparentemente, ficam na retaguarda. Há leve acidez derivada da levedura e também uma leve sugestão de limão. Na boca, textura picante e frutado cítrico artificial no primeiro toque. O amargor é leve enquanto o conjunto aposta na refrescancia eremete a uma dessas H2O Citrus. O final é adocicado e cítrico. No retrogosto, sensação de refrigerante, cítrico e leve acidez. Decepção.

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Aproveitando o boom de cervejas artesanais do país, a Cervejaria fluminense Sankt Gallen decidiu arriscar em uma receita de American IPA (com três lúpulos norte-americanos, um deles no dry-hopping) para a linha da Therezópolis, e o resultado surpreende. De coloração âmbar com creme branco de boa formação e permanência, a Jade apresenta um aroma com notas cítricas transbordando (muito maracujá mais abacaxi e laranja made in USA), leve maltado na base e percepção resinosa. No paladar, textura levemente frisante. No primeiro toque, doçura caramelada rápida rapidamente atropelada por um caminhão de amargor (são 50 de IBU) cítrico e resinoso, que não facilita para o bebedor (essa é a ideia!). No conjunto, muito frutado cítrico (maracujá), malte bem suave fazendo a cama e resinoso intenso marcando (bem) o trecho final. No retrogosto, mais cítrico, mais resina e um suspiro. Bela American IPA.

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Balanço
Abrindo o quinteto da Theresópolis com a Gold, uma Premium American Lager que bate as nacionais tradicionais, mas perde para as importadas. Ou seja, no quesito custo / beneficio é mais vantajoso pegar duas Heineken de 355 ml, duas Stella Artois de 275 ml ou duas Estrelas Galicia de 330 ml saem mais em conta, e são melhores. A Therezópolis Ebenholz é a Dunkel da casa, e cumpre a função com capricho e, mais importante, sem ceder à doçura: malte torrado perceptível em uma boa cerveja custo / benefício. A Therezópolis Elfenbein é a Weiss da casa, uma cerveja abaixo da média que acrescenta pouco a um estilo que apresenta algumas alemãs com preços próximos nas prateleiras brasileiras, dai vale o investimento na qualidade. Já a Therezópolis Rubine é a bela Bock da casa, uma cerveja que tem potencial para ocupar o espaço vago deixado pela aposentada Kaiser Bock no coração de seus fãs. É bem doce (um pouco mais do que eu desejaria), mas com um toque interessante de frutas escuras (ameixa). Quinta cerveja da casa, a Theresópolis Or Blanc foi uma grande decepção, pois além de lembrar muito pouco o charmoso estilo Witbier, parece um refrigerante do tipo H2O Citrus vendido com cerveja. A Wäls já não tem a pior Wit do mercado brasileiro. Belíssima aposta da Sankt Gallen, a Therezópolis Jade é uma American IPA mais resinosa e amarga do que eu, particularmente, gosto, mas é um excelente cartão de visitas para se conhecer a escola norte-americana por um imperdível custo/beneficio. Eu mesmo tenho vontade de ter uma caixa dela sempre gelada pra servir visitas. Ou seja, um cardápio com três cervejas muito boas na questão custo / benefício: Ebenholz, Rubine e, principalmente, Jade.

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Therezópolis Gold
– Estilo: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,40/5
– Preço no Brasil: R$ 9,90 – 600 ml

Therezópolis Ebenholz
– Estilo: Munique Dunkel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 2,79/5
– Preço no Brasil: R$ 10,90 – 600 ml

Therezopolis Elfenbein
– Estilo: GermanWeizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 2,49/5
– Preço no Brasil: R$ 9,90 – 600 ml

Therezópolis Rubine
– Estilo: Traditional Bock
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 2,82/5
– Preço no Brasil: R$ 9,90 – 600 ml

Therezópolis Or Blanc
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 2,08/5
– Preço no Brasil: R$ 13,30 – 600 ml

Therezópolis Jade
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,25/5
– Preço no Brasil: R$ 9,90 – 600 ml

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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