Boteco: da República Tcheca, cinco Primátor

por Marcelo Costa

Fundada em 1872 em Náchod, cidade de pouco mais de 20 mil habitantes (a cerca de duas horas da capital Praga) no vale do rio Metuje, a Pivovar Náchod é tão importante para a cidade que foi propriedade do próprio município até fevereiro de 2009, quando as autoridades locais concordaram em vender a cervejaria ao Fundo de Investimento em Liberec (LIF) por mais de 5 milhões de euros. A linha Primátor foi produzida pela primeira vez em 1935, e hoje se divide em linha Clássica (com seis rótulos destacando a Premium Dark, primeira cerveja da casa a receber o nome Primátor), Alta Fermentação (com quatro rótulos: English Pale Ale, Stout, Weizenbier e IPA), Especial (com quatro rótulos da linha Exkluziv que traz variações no extrato primitivo começando em 16%!) e Chipper (uma Radler com adição de grapefruit). Abaixo falo sobre duas cervejas da linha Clássica e três da linha de Alta Fermentação.

Da linha clássica da cervejaria, a Primátor Premium é uma Bohemian Pilsener tradicionalíssima que já conquistou 26 prêmios e cuja receita une água, levedura, cevada e lúpulo Saaz – e não precisa mais que isso para fazer uma bela cerveja. De coloração amarelo escura com leve turbidez e creme branco de boa formação e permanência, a Primátor Premium apresenta um aroma com predomínio de notas derivadas da malteação (muita percepção de cereais e doçura caramelada remetendo a pão e biscoito) enquanto a lupulagem fica na retaguarda exibindo leve toque herbal. Na boca, suavidade na textura e doçura caramelada no primeiro toque, logo encoberta por amargor pontual, que abre caminho para um conjunto refrescante que destaca percepção de cereais (pão e biscoito), herbal (mais forte que no aroma) e doçura de caramelo. O final é melado e herbal. No retrogosto, caramelo e herbal suaves mais refrescancia. Ótima.

Primeira cerveja da Pivovar Náchod a receber o nome Primator, a Premium Dark é uma das estrelas da casa numa receita que une quatro maltes, açúcar e lúpulo Saaz (é muito popular na Escandinávia, principalmente na Suécia). Também tem 26 prêmios no currículo. De coloração entre o marrom e o avermelhado com creme bege de boa formação e ótima permanência, a Premium Dark apresenta bastante doçura no aroma (açúcar queimado, caramelo e leve baunilha) sem esconder os cereais (pão) e acrescentando uma leve sugestão frutada (ameixa em caldas). Na boca, textura suave e doçura caramelada com acento frutado logo no primeiro toque. O amargor cumpre sua função rapidamente, mas doçura se sobrepõe em um conjunto que ainda traz frutado (ameixa) e cereais. O final aposta ainda na doçura com uma leve presença de café (novidade até então). No retrogosto, caramelo e café. Boa no que se propõe.

Com seis prêmios no currículo, a Primátor Stout é fruto de uma receita que une quatro tipos de malte mais cevada torrada e aveia. Os lúpulos são ingleses, de Kent, e as leveduras também são britânicas. De coloração marrom escura com creme bege de boa formação e permanência, a Primátor Stout apresenta um aroma com notas (clássicas do estilo) derivadas da cevada torrada remetendo a café em primeiro plano, mais chocolate e caramelo na retaguarda. Na boca, a textura é suave. O primeiro toque traz doçura achocolatada com leve presença de café, que se intensifica na sequencia, auxiliando os lúpulos ingleses na função de amargor e limpando o palato para um conjunto elegante que finca força nos derivados da torra (café em primeiro plano), mas abre suavemente para a percepção de chocolate e caramelo. O final é mais adocicado que torrado. No retrogosto, doçura caramelada numa boa Stout tcheca.

A Primátor Weizenbier é a cerveja de trigo bávara da turma de Náchod. Na receita, trigo, cevada, lúpulo Saaz, levedura própria e água da montanha resultando em um cerveja que já venceu 16 concursos. Na taça, um líquido de coloração amarela turva exibe um creme branco de boa formação e permanência. No nariz, tudo que uma boa cerveja do estilo de Munique tem: notas frutadas inconfundivelmente remetendo a banana, presença marcante de tutti-frutti e suave percepção de cravo. Na boca, a textura é levemente picante. O primeiro toque traz doçura frutada (banana, banana e banana) com leve acidez de levedura e condimentação (cravo) aumentando o amargor, que, ainda assim, é bem suave. No conjunto, muito frutado (banana), leve acidez condimentada e tutti-frutti. O final é maltado (trigo) e levemente ácido. No retrogosto, tutti-frutti, banana e leve cravo. Belo exemplar de cerveja bávara.

Fechando o quinteto com a Primátor English Pale Ale, uma ESB (English Special Bitter) que, claro, utiliza lúpulos ingleses (“mais intensos se comparados ao Saaz”, avisa o site oficial) e já levou nove prêmios pra República Tcheca. De coloração âmbar avermelhada com creme branco de boa formação e média alta permanência, a Primátor English Pale Ale apresenta um aroma suave que valoriza as características herbais do lúpulo britânico em contraste com a doçura caramelada do malte. Há ainda leve sugestão de tosta na retaguarda. Na boca, textura levemente fristante com bastante doçura caramelada no primeiro toque. O amargor herbal é pontual e assertivo, honrando o nome ESB e limpando o caminho para um conjunto de matiz maltada (caramelo) e herbal, com leve acidez marcando o trecho final, seco. No retrogosto, mais herbal que caramelo (e até uma leve sugestão defumada derivada da tosta). Bem boa.

Balanço
Em se falando de belas Bohemian Pilseners tchecas, a Primátor Premium tem seu lugar ao sol junto às clássicas 1795, Czechvar e Pilsner Urquell, e, ainda que traga mais doçura que as três, merece respeito. A Premium Dark é a primeira cerveja da casa a carregar o nome Primator, e a galera lá tem um baita orgulho disso. Tirando a parte histórica, é uma cerveja bem agradável, mas um pouco mais doce do que eu gosto. Um pouco mais de café faria bem a ela. E se o assunto é café, a Primátor Stout honra o pedido no aroma e no amargor, mas fica devendo um tiquinho no paladar e no final, mais adocicados do que de costume. Ainda assim, agradável. A Primátor Weizenbier não bate as melhores cervejas de trigo bávaras, mas é um belo exemplar do estilo. Fechando o quinteto, a Primátor English Pale Ale se provou uma boa ESB, com muito herbal, malte na medida e acidez interessante.

Primátor Premium
– Produto: Bohemian Pilsener
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,15/5
– Preço no Brasil: R$ 13,90 – 500 ml

Primátor Premium Dark
– Produto: Dark Lager
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,03/5
– Preço no Brasil: R$ 13,90 – 500 ml

Primátor Stout
– Produto: Stout
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,15/5
– Preço no Brasil: R$ 13,90 – 500 ml

Primátor Weizenbier
– Produto: German Hefeweizen
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,15/5
– Preço no Brasil: R$ 13,90 – 500 ml

Primátor English Pale Ale
– Produto: English Special Bitter
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,11/5
– Preço no Brasil: R$ 13,90 – 500 ml

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)
– Leia sobre outras cervejas da Primator (aqui)

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