por Marcelo Costa
Vencedora do 5º Concurso Mestre Cervejeiro, realizado em 2014 pela Eisenbahn, que reuniu mais de 1000 amostras, a Ventura é uma Belgian Blond Ale com receita do cervejeiro caseiro Anderson Faller. De coloração dourada com creme branco de boa formação e baixa duração, a Eisenbahn Ventura (de tiragem limitada: 3 mil litros) apresenta um aroma que valoriza acidez e condimentação, bastante presentes. Ainda é possível perceber doçura maltada remetendo a mel e rapadura (há adição de açúcar Demerara na receita), frutado e cereais. Na boca, textura picante e doçura caramelada envolta em acidez condimentada de levedura no primeiro toque seguida de amargor pontual (são só 18 de IBU, ainda que pareça mais). O conjunto, agradável, traz doçura (mel, caramelo e rapadura), condimentação (cravo e pimenta do reino), frutado e acidez além de leve percepção dos 6.9% de álcool. O final traz doçura frutada e condimentado. No retrogosto, caramelo, cravo, acético de levedura e alegria. Bem boa.
Lançada em julho de 2014 em São Roque, cidade de 80 mil habitantes a cerca de uma hora de São Paulo, a Badra & Badra Pilsen junta água do aquífero Guarani com malte, levedura e lúpulo (Hallertau) alemães. De coloração dourada cristalina com creme branco de boa formação e (muito boa) média alta permanência, a Badra & Badra Pilsen traz ao nariz notas de cereais (trigo, pão, feno e biscoito), suave doçura maltada e algo que remete a papel molhado. Na boca, secura na textura e suave doçura maltada no primeiro toque acompanhada na sequencia por derivados de malte e amargor pontual, limpando o palato para um conjunto refrescante, que reforça a sugestão de cereais (trigo, pão, feno e biscoito), sem muita profundidade. O final junta maltado, cereais e leve doçura enquanto o retrogosto oferece refrescancia. Bem boa para o estilo com um custo benefício interessante.
Fechando o trio com a parceria inovadora da cervejaria curitibana Bodebrown, através do mestre cervejeiro Samuel Cavalcanti, que assina a receita, com a cervejaria britânica Adnams (casa da Ghost Ship, da Broadisde e da Tally-Ho), que, sob a responsabilidade do mestre cervejeiro Fergus Fitzgerald (também conhecido por seu trabalho na respeitada Fuller’s), produziu em Southwood mais 25 mil litros da Curitiba Pale Ale exclusivamente para o mercado brasileiro (70% em garrafas de 330 e 500 ml mais 30% em barris) – a primeira “fornada”, de 45 mil litros, foi feita especialmente para a Copa do Mundo e abasteceu mais de 900 pubs na terra da Rainha Elisabeth, sendo que alguns barris vieram para o Brasil na época, e logo esvaziaram. Essa segunda produção é voltada ao Brasil, tanto que a rotulagem é toda em português, e já está disponível em pubs, bares e empórios.
Para desenvolver a receita, Samuel se baseou na Adnams Mosaic Pale Ale, mas alterou a lupulagem (sai Mosaic e entra Eldorado, Centennial e Amarillo) e adicionou pimenta rosa. O resultado é uma cerveja de coloração âmbar de creme branco de ótima formação e longa permanência. No nariz, o perfil aromático exibe um bom equilibro entre doçura maltada e cativante lupulagem cítrica (maracujá e leve acerola), com predomínio do segundo – a pimenta rosa não aparece de forma destacada no aroma. Na boca, a textura é frisante. O primeiro toque traz, praticamente juntos, doçura caramelada e amargor cítrico, com o segundo se sobrepondo na sequencia e abrindo caminho para um conjunto suavemente amargo e frutado (maracujá e acerola). O final é cítrico e levemente picante (a pimenta rosa marcando presença de forma delicada). No retrogosto, mais cítrico (acerola e maracujá) e refrescancia. Saborosa.
Balanço
Mantendo o padrão de qualidade das premiadas do concurso Mestre Cervejeiro, a Eisenbahn Ventura é uma boa Belgian Blond Ale, que lembra um pouco uma Leffe Blonde bastante condimentada. Porém, das cinco premiadas no concurso até este ano, essa foi a que menos me chamou a atenção. A Badra & Badra chegou de presente de um amigo. O pai dele estava viajando pelo interior de São Paulo, se deparou com essa cerveja e, na curiosidade, comprou uma caixa. O amigo separou uma e me trouxe, de presente, e achei interessante conhece-la, ainda que seja uma Pilsen tradicional que acrescenta um pouco de sabor onde as demais oferecem água. Dependendo do preço, vale a investida. Já a Curitiba Pale Ale é a segunda parceria de uma cervejaria brasileira com uma gringa que acaba rendendo uma cerveja produzida lá fora – a primeira foi a 2Cabeças com a Brewdog, que rendeu a Hello, My Name Is Zé. E, de cara, já entra na briga pra ser uma das melhores American Pale Ale nacionais, descontando o fato de que ela é produzida na Inglaterra (com desejo de ser norte-americana). Senti falta da pimenta rosa, que aparece com muita suavidade apenas no trecho final – alguns não vão nem perceber. Ainda assim, ótima cerveja.
Eisenbahn Ventura
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,9%
– Nota: 3,29/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 19 – 500 ml
Brada & Brada
– Estilo: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 2,29/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 8 – 600 ml
Curitiba Pale Ale
– Estilo: American Pale ALe
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,45/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 18 – 500 ml
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)