por Adriano Costa
“Transfixiation”, A Place to Bury Strangers (Dead Oceans)
Este trio de Nova York lançou o primeiro disco homônimo em 2007, onde se destacavam músicas como “My Weakness”. Depois vieram o ótimo “Exploding Head” (2009) e o mais comportado “Worship” (2012). “Transfixiation”, recém-lançado quarto disco, foi gravado em um estúdio do Brooklyn com produção do próprio guitarrista da banda e mostra uma mistura de shoegaze, pós-punk, noise e psicodelia tentando se equilibrar num flerte entre algo mais ameno (se é que isso é possível) e experimentalismo. O resultado é um trabalho poderoso que se iguala ao disco de 2009 em qualidade e exibe bons momentos como na dobradinha – “Supermaster” e “Straight” – que abre o álbum com o baixo em primeiro plano suportando as distorções que vão explodindo pelo caminho, ou no caos sonoro provocado por “Deeper”, que avisa: “Se você andar comigo, você vai queimar / Se você falar comigo, você vai queimar / Se você brincar comigo, você vai queimar”. Destaque ainda para a doçura deformada de “We’ve Come So Far”, a urgência de “I’m So Clean” e a barulheira de “I Wiil Die”. Preparem os ouvidos.
Melhor faixa: “Straight”
Nota: 7
“I Love You, Honeybear”, Father John Misty (Sub Pop)
Se no álbum anterior (“Fear Fun”, de 2012), Josh Tillman parecia manter alguma semelhança com sua ex-banda (Fleet Foxes), isso ocorre em uma escala bem menor agora. Com foco em sua vida pessoal, casamento e nos EUA, “I Love You, Honeybear” é, segundo o músico, um álbum conceitual, mas passa longe disso. Do início formidável com pianos, orquestração e backing vocals da faixa-título até o final com a singela “I Went To The Store One Day”, Tillman oferece um disco agradável, com boas melodias e letras que externam um humor meio cínico aliado a desilusões cotidianas. As letras exibem boas sacadas em “True Affection”, que alfineta a comunicação pessoal dos nossos dias brincando com a eletrônica, na paixão desfigurada de “Strange Encounter”, na acidez de “Holy Shit” e, principalmente, na icônica “Bored In The USA”. A sensação de evolução é aparente em “I Love You, Honeybear”, um álbum que merece atenção é mostra que Father John Misty pode encantar, como atesta a bela “When You’re Smiling And Astride Me”.
Melhor faixa: “When You’re Smiling And Astride Me”
Nota: 8,5
“Everything Ever Written”, Idlewild (Empty Words)
O ótimo grupo escocês Idlewild não lançava nada novo desde 2009, mas seus integrantes seguiram criando: o vocalista Roddy Woomble lançou dois discos estupendos (“The Impossible Song & Other Songs”, 2011, e “Listen To Keep”, 2013) enquanto o guitarrista Rod Jones lançou bons discos solo (“A Sentimental Education”, 2010, e “A Generation Innocence”, 2012) e até montou uma nova banda, The Birthday Suit. A dupla se reaproximou em 2013 e começou a gravar “Everything Ever Written”, sétimo disco do Idlewild, lançado em fevereiro de 2015. Predominantemente acústico,“Everything Ever Written” exibe um lado mais calmo que sempre esteve escondido no meio da urgência de discos como “The Remote Part” (2002) ou “Make Another World” (2007), mas agora ganha destaque com auxílio de piano, cello, trompete, saxofone, órgão e o altivo violino de Hanna Fischer, que também ajuda nos vocais. Não que as guitarras tenham sumido, pois elas marcam presença em “Collect Yourself”, “Come On Ghost” e, principalmente, em “On Another Planet”, além dos impecáveis sete minutos de “(Use It) If You Can Use It”, e se equilibram bem com um lado mais contemplativo presente em “Every Little Means Trust”, “So Many Things To Decide”, “Like A Clown” e “Utopia”, destaques do novo álbum de uma bela banda que, acredite, você pode confiar.
Melhor faixa: “(Use It) If You Can Use It”
Nota: 9
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
Leia mais:
– “Listen To Keep”, de Roddy Woomble: a missão de compor grandes canções (aqui)
– “A Sentimental Education”, de Rod Jones: folk e country-rock dos anos 60 (aqui)
– Idlewild retorna exalando barulho em “Make Another World” (aqui)
– “The Impossible Song & Other Songs”, Roddy Woomble: doses fartas de melancolia (aqui)
– “My Secret Is My Silence”, Roddy Woomble: obra prima de delicadeza (aqui)
– “The Remote Part”, Idlewild: um trator passando sobre uma formiga (aqui)
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