texto por Pedro Salgado, de Lisboa
fotos por Rita Sousa Vieira / Sapo on The Hop
Integrado no evento Bloco, uma coprodução da agência lisboeta Arruada com a casa Musicbox, que também incluirá apresentações de outros valores da música brasileira contemporânea como Mahmundi e Tatá Aeroplano (dias 8 e 15 de Abril respectivamente), o show de Wado em Lisboa no dia 01 de abril serviu para apresentar seu mais recente álbum, “1977”, no qual surgiu acompanhado pelos músicos portugueses Sérgio Nascimento (bateria) e Alexandre Bernardo (guitarra) mais o parceiro Pedro Ivo Euzébio (teclados e programações). “Tudo bom? Prazer em estar aqui com vocês”, dirigiu-se Wado cordialmente a um público interessado, mas que não preenchia metade do recinto da Musicbox.
Wado abriu a noite focando-se no repertório do álbum “Vazio Tropical” (2013), primeiro com uma versão de “Rosa” (regravada no álbum “Projeto Visto 2” pelo músico português O Martim) a meio gás, seguindo com “Primavera Árabe”, marcada pela percussão, e “Cidade Grande”, numa toada hipnótica que parecia indicar um regresso à calmaria inicial. Quando cantou o original de Momo, “Flores do Bem” (também presente em “Vazio Tropical”), a estrofe “Eu aprendi com as flores” ganhou um significado especial e definiu a primeira fase do show, onde Wado sentiu e viveu a música interpretada, encarnando o espírito associado à faixa. Depois, duas canções de “Samba 808” (2011) – “Si Próprio” e “Com A Ponta Dos Dedos” – criaram o primeiro grande momento de comunhão entre músico e público em função do pop contagiante e de alguns virtuosismos instrumentais da banda.
Um bloco de canções do recém-lançado “1977” veio a seguir começando por “Lar”, numa versão mais roqueira do que a original. Samuel Úria foi chamado ao palco e, de forma descontraída, contou: “Introduzi o Wado ao bagaço (pinga) português”, provocando o riso do músico e do público. Em dueto, cantaram e dançaram animadamente a pop “Deita”, muito aplaudida, e a comovente “Galo”, que serviu como contraponto à agitação reinante. No ponto de mudança do show, interpretando “Tarja Preta” (presente no disco “A Farsa do Samba Nublado”, de 2004), Wado pediu ao público da Musicbox para se aproximar do palco e dançar, coincidindo com a fase em que exibia maior confiança e a sua música fluía de uma forma vibrante e prazerosa.
Adotando a pegada samba pop em “Surdos De Escola De Samba”, enveredando no pop dançável de “Reforma Agrária Do Ar” ou passando pelo “Rap Guerra Do Iraque”, Wado tinha o público na mão e, infelizmente, o show aproximava-se do fim. “A última canção é de amor e cheia de palavrões”, anunciou com humor, seguindo-se uma rendição apoteótica de “Teta” (do álbum “Terceiro Mundo Festivo”, de 2008), finda a qual o músico radicado em Alagoas se despediu: “Adeus Lisboa, amo vocês”. Ecoaram gritos de “Só mais uma!” na Musicbox e Wado regressou imediatamente para o encore repetindo “Deita”, em parceria com Samuel Úria. Concluía-se em festa um ótimo show, onde Wado conquistou a audiência com a sua musicalidade inata, mas a animação no palco merecia uma afluência maior de público.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
– Rita Sousa Vieira (siga @minimoia) é fotografa, reside em Lisboa, mantém o Minimoia e colabora com o sitio de cultura pop Sapo on The Hop
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Grande Wado, esse é o cara.