por Marcelo Costa
Em 1128, monges da Ordem de São Norberto (hoje Ordem Premonstratense) fundaram uma abadia em Grimbergen, cidade de 35 mil habitantes na região Brabante Flamenga da Bélgica, a 20 minutos de Bruxelas. Não há uma data precisa de quando os monges começaram a produzir cerveja, mas em 1958, a turma da Brouwerij Maes, uma cervejaria da cidade de Waarloos, próxima da Antuérpia, assumiu a produção da abadia. A Maes se fundiu com outra pequena cervejaria, a Alken, em 1988, e as duas foram compradas pela Scottish & Newcastle, em 2000, e vendidas para a Carlsberg & Heineken em 2007. A partir desta última fusão, em 2008, as cervejas Grimbergen passaram a ser produzidas em dois locais: para distribuição na Bélgica e nos Países Baixos, a produção é feita em Alken, Bélgica. O resto do mundo recebe a cerveja produzida pelos franceses em Carlsberg. O rótulo das quatro garrafas abaixo acusam produção belga, deixando dúvida. O melhor é aproveitar uma viagem à Europa e comparar a versão francesa e a belga. Por enquanto, ficamos com essas quatro importadas (sabe-se lá de onde).
Abrindo a sequencia de cervejas da linha Grimbergen com a Dubbel da casa, uma cerveja de coloração âmbar escura com farto creme levemente bege de longa permanência. No nariz, muita doçura maltada (caramelo e açúcar mascavo), sugestão frutada (ameixa e cereja) e uma agradável proximidade com vinho do Porto. Ainda é possível perceber leve condimentação (canela e pimenta do reino) e os 6.5% de álcool, suaves. Na boca, muita suavidade. Doçura caramelada no primeiro toque, frutado na sequencia (ameixa e frutas vermelhas), a lembrança de vinho do Porto e praticamente nada de amargor (a função de equilibrar fica com o álcool e a média carbonatação). O final é maltado, adocicado e levemente picante. No retrogosto, mais caramelo e leve sugestão de frutas vermelhas.
A Grimbergen Blonde é uma Belgian Ale de coloração dourada translucida e creme branco de ótima formação e média alta permanência. No nariz, um bom equilíbrio entre malte (pão e caramelo), levedura (cravo, condimentação e banana) e lúpulo (maçã verde, leve laranja e frutas cristalizadas) com os 6.7% de álcool presentes, mas de forma suave. Há ainda leve traço herbal e floral. Na boca, textura sedosa com primeiro toque bastante doce (caramelo). Na sequencia, o álcool toma pra si a função de amargor aquecendo a boca. O paladar não é tão versátil quanto o aroma, concentrando-se no caramelo e nas frutas cristalizadas (ainda que haja leve sugestão de cravo). O final é maltado, adocicado e levemente picante. No retrogosto, mais caramelo e leve toque cítrico (abacaxi).
A Grimbergen Tripel é uma Abbey Tripel de coloração dourada translucida e creme branco de ótima formação e média alta permanência, No nariz, os 9% de álcool chamam a atenção do bebedor adiantando cacetada num conjunto que se divide entre doçura (mel e caramelo) e condimentação (cravo) com leve presença de cítrico e herbal. Na boca, textura sedosa e aquecimento de álcool antes mesmo do primeiro toque, doce, picante e alcoólico. O conjunto privilegia o malte e o álcool (que toma para si a função de “amargar” a receita), numa parceria bastante conhecida no meio cervejeiro em que a doçura tenta amaciar (adoçar) o calor. Há leve sugestão de condimentação, cítrico e herbal. O final é maltado, picante e alcoólico. No retrogosto, caramelo, calor e cítrico.
Fechando o passeio, a Grimbergen Optimo Bruno é a Quadrupel da casa, uma cerveja potente com 10% de álcool. De coloração âmbar avermelhada com creme suavemente bege de boa formação e permanência, a Optimo Bruno apresenta o perfil aromático mais interessante da família Grimbergen, com sugestão de frutas escuras (ameixa e uva passa), doçura (caramelo e açúcar mascavo), toffee, condimentação (pimenta do reino) e percepção delicada do álcool (uma boa surpresa) sugerindo vinho do Porto. Na boca, textura sedosa e doçura rápida e melada no primeiro toque, logo seguida por sugestão frutada (ameixa). O álcool aparece de uma maneira muito suave sugestionando vinho do Porto, mas mais suave. O final traz melado, picancia, ameixa e vinho do Porto. No retrogosto, frutado, melaço e álcool. Boa surpresa!
Balanço
Abrindo o quarteto da Grimbergen com a Dubbel da casa, uma cerveja que exibe bastante doçura (há corante de caramelo na receita) e uma leve remissão de vinho do Porto. Impressiona como ela desce de forma suave. Gostei. Já a Grimbergen Blonde me soou doce demais e com o álcool se apresentando mais do que deveria, uma sensação amplificada na Grimbergen Tripel, ainda mais alcoólica e melada. Fechando o quarteto, a melhor da sessão: Grimbergen Optimo Bruno, uma Quadrupel estilosa, para beber devagar e sempre. Nenhuma das quatro é espetacular, mas tanto a Quadrupel quanto a Dubbel são pedidas interessantes para aquecer noites frias. Vale experimentar (e comparar com outras do mesmo estilo – gringas e nacionais).
Grimbergen Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,26/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 14 (330 ml)
Grimbergen Blonde
– Produto: Blonde Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 2,97/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 9,50 (330 ml)
Grimbergen Tripel
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 2,99/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 14 (330 ml)
Grimbergen Optimo Bruno
– Produto: Belgian Quadrupel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,34/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 11,40 (330 ml)
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