por Marcelo Costa
Na lista abaixo selecionamos 12 filmes que colocam a música em primeiro plano. Tem desde Johnny Depp topetudo num filme do mestre trash John Waters até Renée Zellweger gatíssima muito tempo antes do botox. Tem Eddie Vedder bancando o ator num filme de Cameron Crowe e Beyoncé interpretando Etta James na história da gravadora Chess. Sem contar o filme sobre aquele bar que tinha um dos banheiros mais imundos do mundo, um tal de CBGB, e as divertidíssimas lojas Championship Vinyl, de Rob Gordon, em Chicago, e Good Vibrations, de Terri Hooley em Belfast. Diversão garantida.
“Cry Baby”, de John Waters (1990)
Em 1988, o mestre de filmes trash John Waters pariu um sucesso, “Hairspray”, e ganhou carta branca para um novo filme, mas não facilitou: bolou um romance adolescente que se passa na Baltimore (como todas as suas histórias) dos anos 50 e mostra uma gangue arruaceira liderada por Cry Baby (Johnny Depp molecão), um órfão criado pelos tios – Susan Tyrrell e Iggy Pop (ins)piradissimos – que traz nas veias o sangue do rock and roll (dos anos 50), mas se apaixona por uma garota certinha. O cineasta capricha na caricatura criando um contraponto impagável para o viés romantizado com que o cinema sempre olhou os fifties num filme docemente trash que ainda conta com Traci Lords e uma trilha sonora impecável.
“The Commitments”, de Alan Parker (1991)
Alan Parker já tinha seu nome escrito na história do cinema musical devido ao clássico “Pink Floyd – The Wall”, de 1982, mas “The Commitments – Loucos Pela Fama” merece crédito por ser um dos filmes obrigatórios – talvez o número 1 – para todo mundo que deseja ter uma banda. Contando a história da formação de um grupo de soul em Dublin (terra de U2 e Sinead O’Connor), na Irlanda, “The Commitments” é uma pequena aula sobre tudo o que acontece nos bastidores de uma banda. Estão ali o vocalista que se acha o cara mais fodão do mundo por estar à frente do grupo, o músico problema que quer seguir seus instintos, as vocalistas sedutoras, o empresário marqueteiro e muito mais. Diversão garantida.
“Singles”, de Cameron Crowe (1992)
Com o subtítulo de “Vida de Solteiro” no Brasil, “Singles” foi o terceiro roteiro de Cameron Crowe filmado, e é o que mais se apoia na música: se no primeiro, “Picardias Estudantis”, de 1982, um jovem Sean Penn contratava o Van Halen para tocar em seu aniversário, e no segundo (primeiro dirigido por Crowe), “Digam O Que Quiserem”, de 1989, o personagem de John Cusack toca “In You Eyes”, de Peter Gabriel, para a namorada em um enorme toca-fitas, “Singles” tem como pano de fundo a cena grunge de Seattle, a ponto do Pearl Jam atuar na história que versa sobre as idas e vindas de dois casais de namorados. A trilha sonora (com Pearl Jam, Mother Love Bone, Smashing Pumpkins e Alice in Chains) é clássica.
“Os Cinco Rapazes de Liverpool”, de Iain Softley (1993)
A história tem foco na luta interior de Stuart Sutcliffe (Stephen Dorff), o quinto Beatle, que tem um dom de pintar quadros e toca baixo na banda que, logo mais, viraria febre mundial e se tornaria a mais importante da história. Em 1960, Sutcliffe e seu amigo John Lennon (Ian Hart) combinam uma viagem para a Alemanha para fazer shows em bares. O filme tem parte de sua história rodada em Hamburgo, onde Stu, como é conhecido, conhece a jovem alemã Astrid Kirchherr (Sheryl Lee), por quem se apaixona e é correspondido. Dramático, divertido e passional, “Os Cinco Garotos de Liverpool” tem, como outros filmes dessa lista, atração extra na trilha sonora, que reuniu uma super banda para reviver o clima dos Beatles nos primeiros anos: Dave Pirner (Soul Asylum) cantando as partes de Paul McCartney, Greg Dulli (The Afghan Whigs) bancando o John Lennon, Thurston Moore (Sonic Youth) e Don Fleming (Gumball) nas guitarras, Mike Mills (R.E.M.) no baixo e Dave Grohl (Nirvana) na bateria. Participação especial de Henry Rollins (Black Flag) cantando “Love Me Tender”. E essa turma tocou ao vivo!!
“Empire Records”, Allan Moyle (1995)
O ponto de partida desta comédia que no Brasil recebeu o nome de “Sexo, Rock e Confusão” é interessante: uma loja de discos independente está prestes a ser comprada por uma grande rede que a transformará numa megastore asséptica e, para tentar evitar isso (e salvar o emprego dos amigos), um dos subgerentes da loja arrisca toda a economia do chefão num cassino e… perde tudo. A premissa é boa, o elenco adolescente é promissor (com uma Renée Zellweger gatíssima fase “Um Amor e Uma 45” e uma Liv Tyler encantadora pré “Beleza Roubada”), mas o filme é repleto de clichês, ainda que sua trilha com Gin Blossoms (“Til I Hear It from You”), Edwyn Collins (”A Girl Like You”) e Evan Dando (“The Ballad of El Goodo”) seja matadora. Vale como passatempo.
“The Wonders – That Thing You Do!”, de Tom Hanks (1996)
Estreia do ator Tom Hanks na direção, “The Wonders – O Sonho Não Acabou” se passa em 1964, logo após os Estados Unidos serem “tomados” pela beatlemania. Inspirados no modelo britânico surge o grupo Oneders, mais tarde rebatizados pelo empresário (Tom Hanks) como The Wonders. Às vésperas de uma apresentação musical, eles perdem seu baterista, convidando um jovem que trabalha numa loja de eletrodomésticos para assumir o posto. No show, o novo baterista faz uma nova marcação, que descontenta a banda, mas torna a canção, “That Thing You Do!”, um hit nacional. Outro belo retrato do cotidiano de uma jovem banda, “The Wonders” conseguiu tornar real o single composto pelo baixista da ótima banda Fountains of Wayne, que fez um grande sucesso nos EUA.
“High Fidelity”, de Stephen Frears (2000)
Inspirado no livro do escritor britânico Nick Hornby, “Alta Fidelidade” conta a história de Rob Gordon (John Cusack, ótimo), dono de uma loja de discos decadente em Chicago que foi recentemente chutado pela namorada, Laura. No cotidiano da loja de discos, Rob e seus funcionários, o pentelho Barry (Jack Black) e o tímido Dick (Todd Louiso), brincam de montar listas de Top 5 (melhores primeiras músicas de lados A de um disco, músicas pra você ouvir quando ela te deixar, melhores músicas pra se ouvir num funeral, etc…), e além das listas e de uma trilha sonora matadora, o filme contem algumas cenas divertidíssimas (incluindo uma que envolve “We Are The Champions”, do Queen, e outra com “Let‘s Get It On”, de Marvin Gaye). O DVD tem extras ótimos.
“Almost Famous”, de Cameron Crowe (2000)
Versão romanceada da história do próprio Cameron Crowe, um jornalista mirim que começou a colaborar com a Rolling Stone nos anos 70, período em que deuses do rock caminhavam sobre a Terra, “Quase Famosos” é… obrigatório. Primeiro por valorizar o grande jornalista Lester Bangs (em atuação magnifica de Philip Seymour Hoffman); segundo por mostrar com delicadeza um período especial da música; e terceiro por discutir também amor e jornalismo. Tente assistir a reedição definitiva em DVD, com 36 minutos a mais de cenas inéditas dentro do filme e um porção de extra imperdíveis, como a hilária cena em que o garoto jornalista tenta convencer a mãe a deixa-lo viajar com uma banda de rock. Em suas palavras: “Mãe, essa canção (que vou tocar) vai mudar a sua vida”. E solta “Stairway To Heaven”, do Led Zepellin. Como Robert Plant não liberou o uso dessa música (outras cinco canções do Led preenchem o filme), para acompanhar a animação dos personagens na cena, você vai precisar estar com o “Led Zepellin IV” do lado…
“24 Hour Party People”, Michael Winterbottom (2002)
“A Festa Nunca Termina” (titulo nacional) conta as aventuras do jornalista Tony Wilson no universo pop de Manchester, Inglaterra, entre 1976 e 1992. Melhor, “A Festa Nunca Termina” conta sobre a cena pop que se instalou em Manchester depois da passagem dos Sex Pistols (que se apresentaram para 42 pessoas na cidade, e quase todas elas montaram bandas) até o fim da Acid House, estilo que nasceu na cidade e se espalhou pelo mundo, com foco em Joy Division, New Order, Happy Mondays, Hacyenda e Factory Records (as três primeiras, bandas de Manchester; a quarta, uma casa noturna, a quinta, uma gravadora). Numa das cenas , “Deus” aparece para Tony Wilson e diz: “Você devia ter assinado com os Smiths, mas estava certo sobre Mick Hucknall, do Simply Red”. Uma joia pop.
“Cadillac Records”, de Darnell Martin (2008)
Filhos de uma família judia polonesa, Leonard e Phil Chess decidem trocar o ferro-velho que administram pelo projeto de abrir uma boate em um bairro negro de Chicago. A dica do local veio de um amigo de Leonard, Willie Dixon, e esse é o primeiro passo na história dos Chess, importante selo norte-americano que viu sua história resgatada neste filme interessante, repleto de grandes nomes: Beyoncé interpreta o papel de Etta James enquanto o rapper Mos Def incorpora Chuck Berry. O papel do chefão Leonard Chess ficou com o ótimo Adrien Brody, num filme de trilha sonora caprichada sobre um dos selos musicais que influenciaram decididamente o rock and roll (Mick Jagger e Keith Richards que o digam).
“Good Vibrations”, de Glen Leyburn e Lisa Barros D’Sa (2013)
A história da loja e selo de discos Good Vibrations começa no início dos anos 70, quando um irlandês apaixonado por música pop, Terri Hooley, tem uma visão: salvar a alma dos irlandeses espalhando o reggae pelo país. Como? Abrindo uma loja de discos. A loja sobrevive a trancos e barrancos, mas tudo muda quando Terri assiste ao show da banda Rudi, jovens punks influenciados por Sex Pistols e Buzzcocks, e decide lançar o disco deles. Seguem-se compactos do Victmin, do Outcasts, e finalmente aquele que faria a fama de Hooley: o hino punk “Teenage Kicks”, dos Undertones. Um ótimo filme, também Interessante para comparar a história de vida de Terri com a de Hilly Kristal, do CBGB, e Tony Wilson, jornalista responsável pela Factory Records, todos homens que viraram as costas para o capitalismo.
“Svengali”, de John Hardwick (2013)
Lançado no Brasil em DVD com o título de “Gigantes do Rock”, este filme focaliza o mundo das bandas e gravadoras independentes do indie-rock inglês, já numa fase pós internet, contando a história de Dixie, um sujeito fanático por música pop que, ao contrário de muita gente, não quer formar uma banda, mas sim descobrir a próxima grande sensação, e ser seu empresário. Não por acaso, seu grande ídolo não é Paul McCartney ou David Bowie, mas sim Alan McGee (criador do selo Creation, e mentor de Jesus and Mary Chain, Primal Scream, My Bloody Valentine, Oasis e Libertines, dentre outros). Ainda que ingênuo, o filme consegue satirizar as vaidades do mundo das gravadoras, da imprensa musical e das bandas, mostrando como este universo pode ser traiçoeiro.
“CBGB”, de Randall Miller (2013)
O norte-americano Hilly Kristal já contabilizava duas falências quando decidiu abrir um bar com música ao vivo numa das áreas mais barra pesadas de Manhattan. Em 33 anos de funcionamento (1973/2006), o palco da casa recebeu mais de 50 mil bandas tornando-se um dos lugares míticos da cultura rock ao dar espaço a nomes como Television, Patti Smith, Blondie, The Police, Iggy Pop e, claro, Ramones. Esta versão romanceada da história de Hilly Kristal e do CBGB peca por excessiva estilização e uma limpeza fotográfica que não valoriza a tosqueira do lugar responsável por um dos banheiros mais imundos do mundo, mas serve para dar a dimensão do tamanho da importância do lugar (sem contar boa seleção de cópias adolescentes de David Byrne, Sting, Joey Ramone, Iggy Pop e outros).