por Marcos Paulino
Professor de filosofia e músico, Fepa conseguiu um bom destaque na mídia alguns anos atrás. Porém, numa terceira área, o teatro. Ele transformou o fim do casamento com a atriz Janaína Leite na peça “Festa da Separação”, cujo êxito, paradoxalmente, impediu que trabalhasse seu primeiro disco, “Pátio de Hospício”, que lançara pouco antes, do modo que gostaria.
“Ganhamos um edital que nos fez viajar pelo interior de São Paulo com a peça durante o ano inteiro. Como o disco já vinha se arrastando desde 2008, decidi deixá-lo pra trás e trabalhar no novo”, conta. Contudo, sua produção musical propiciou a ele a oportunidade de fazer um novo CD, o recém-lançado “Baseado em Fatos Reais” (2014 – ouça no Soundcloud).
Com pegada folk rock, foi composto por Fepa num violão de cordas de aço e conta com várias participações, entre elas a de Filipe Catto e Curumin. “Gosto de fazer disco, até mais do que de tocar”, diz Fepa. Nesta entrevista, o filósofo-músico fala, entre outras passagens, como a sala de aula enriquece suas canções e vice-versa.
O que você levou em conta na hora de conceber este disco?
Gosto de fazer disco, até mais do que de tocar. É um processo de tentar traduzir em música coisas que tenho pensado e vivido. Neste disco, deixei aparecer o violão, que é o instrumento no qual componho, e me preocupei com as letras, porque, devido à minha formação em filosofia, a questão da palavra me é cara. Nos arranjos, trabalhei para que as letras não ficassem escondidas atrás de instrumentos, como aconteceu no primeiro disco.
Seu primeiro disco parece não ter alcançado a repercussão que você imaginava. O que você mudou neste novo projeto para atingir seus objetivos?
No primeiro disco, tive o cruzamento de momentos da vida que me atrapalharam trabalhá-lo. Estava num espetáculo teatral que teve bastante êxito, então tinha uma vida profissional com ele bastante agitada. Lancei o disco no final de 2011, pensando em trabalhá-lo em 2012. Mas ganhamos um edital que nos fez viajar pelo interior de São Paulo com a peça durante o ano inteiro. Como o disco já vinha se arrastando desde 2008, decidi deixá-lo pra trás e trabalhar no novo.
Esse espetáculo tem uma história interessante, porque você passou para o teatro um momento particular, da separação de sua mulher. Como foi essa história?
Foi um momento muito importante na minha vida, pelos motivos óbvios, mas também pela transformação. Ele mostra o quanto o depoimento, o documental podem ser universais. Muita gente se identifica com nossas experiências pessoais, e é o que acontecia no espetáculo. Amplificávamos nossa experiência para uma discussão sobre o que é o amor nas relações. As pessoas se encantavam porque se identificavam, e depois voltavam pras suas próprias histórias. Neste disco, a situação é um pouco semelhante. Minhas composições são pessoais, mas servem para as pessoas na medida em que elas se identificam com aquilo.
Além de fazer música e teatro, você também dá aulas de filosofia. Você deixa que uma atividade invada a outra, levando experiências daqui pra lá e vice-versa?
Já deixei bem separada a sala de aula da minha vida artística. No momento em que entendi que elas poderiam se aproximar, acho que me tornei um artista melhor e um professor melhor. Não imagino deixar de dar aula, porque alimenta minha cabeça e minha produção artística. E o fato de eu fazer e pensar arte também vai parar dentro da minha sala de aula. Hoje elas se retroalimentam completamente.
Você é então um artista multimídia?
Me enxergo mais como artista multimídia do que como músico. Também tenho uma relação forte com audiovisual, dirijo meus clipes. Tenho um espetáculo que mistura música, teatro e aula de filosofia. Acho que esse é o momento em que sou mais representado.
O mercado fonográfico hoje é restrito até mesmo para grandes nomes. Quando você lança um disco, pensa em resultado comercial ou é mais uma maneira de imortalizar suas ideias?
Concordo plenamente que viver do trabalho artístico é extremamente difícil, não só pra música, mas também pro teatro, cinema. Todo mundo rala muito pra fazer arte principalmente quando ela é autoral. Não faço arte pra pagar minhas contas, as aulas de filosofia podem me ajudar nisso. Preciso fazer minha música porque quero dialogar com as pessoas pra além da sala de aula. Mas se minha produção artística me levar a pagar contas a ponto de poder me dedicar cada vez mais a ela, claro que gostaria de ter essa experiência.
Tem um circuito em que você possa apresentar shows desse novo disco, que, digamos, é alternativo?
Hoje em dia os espaços para se apresentar, mesmo para os shows mais convencionais, são uma das partes difíceis da música. Estamos aguardando datas pra fazer o show de lançamento em São Paulo. Mas a ideia é alternar o show convencional, tocando o disco no palco, com o espetáculo multimídia. Gostaria de ter um espaço pra ficar em cartaz, que é mais difícil, mas vamos tentar viabilizar.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.