por Paulo Pontes
Poucas foram as bandas que conquistaram o mundo, menor ainda é a quantidade delas que podem ser consideradas como precursoras de um estilo musical, e o Black Sabbath está nesta seleta lista. A banda é designada como “Criadora do Heavy Metal”, e, quer você queira ou não, esta é uma afirmação extremamente plausível.
Porém, nem só de boas recordações e momentos positivamente importantes vive uma banda desse calibre. Neste caso em específico, isso pode ser confirmado no excelente livro “Black Sabbath – A Biografia” (“Black Sabbath: Symptom of the Universe”, 2013, no original), escrito pelo jornalista britânico Mick Wall (que tem no currículo outras biografias: “Led Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra”, “Metallica – A Biografia” e “AC/DC – A Biografia”) e lançado no Brasil pela Globo Livros.
Mick, que durante anos foi assessor de imprensa do Black Sabbath, traz em seu livro relatos impressionantes e muitas vezes deprimentes de como são as coisas fora do palco, àquelas que poucos têm acesso e acabam até mesmo surpreendendo os fãs mais devotos. O leitor leva um choque ao descobrir como foram os bastidores do Sabbath.
É difícil entender como uma das figuras mais importantes da história do rock, o vocalista Ozzy Osbourne, era tratado como um palhaço, uma marionete. Também sofrível era a situação do baterista Bill Ward, tido como um verdadeiro idiota pelos seus companheiros, principalmente pelo guitarrista Tony Iommi, que muitas vezes o humilhava. Os relatos das “brincadeiras” que Iommi fazia com Bill são tão deprimentes e insanos que nos fazem pensar: “Nossa, são esses caras mudaram a história da música pesada?”. A resposta é: sim, são eles mesmos.
Além de mostrar a ascensão da banda, que se tornou referencia mundial até os dias atuais, Mick Wall transmite de forma clara como os quatro integrantes da formação clássica da banda – Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward – não tinham a menor responsabilidade e preocupação com os negócios, fator que é exemplificado na maneira com que a banda perdeu todos os direitos sobre suas criações em determinado momento da história.
Toda essa falta de responsabilidade e comprometimento com os negócios pode ser facilmente associada a um fator crucial: drogas, em específico a cocaína, e muita cocaína. Ela foi um dos pontos chave para o declínio que a banda sofreu durante os anos, e que culminou com a demissão de Ozzy após o oitavo álbum da banda, “Never Say Die!”, de 1978. Segundo os relatos do biografo, a quantidade de drogas utilizada em toda a trajetória do Sabbath é algo descomunal, quilos e mais quilos de cocaína.
Os outros integrantes que passaram pela banda também estão presentes na biografia, principalmente o vocalista Ronnie James Dio, responsável por colocar novamente o Black Sabbath no topo das paradas com “Heaven And Hell”, de 1980. Ele deixaria a banda em 1982 (após um outro grande álbum, “Mob Rules”, e um ao vivo essencial, “Live Evil”) e retornaria para uma segunda passagem em 1992, no álbum “Dehumanizer”. Sua história é contada até o momento de sua morte em 16 de maio de 2010.
Uma personagem que merece toda a atenção na história do Black Sabbath é Sharon Osbourne, esposa e empresária de Ozzy. A forma como ela guiou a carreira solo do marido após sua saída do Sabbath e a maneira com que obteve os direitos pelo nome da banda – de forma inacreditável, diga-se de passagem -, mostra toda sua habilidade e domínio com o show business.
Também merece citação a importância que Mick Wall confere a Randy Rhoads, primeiro guitarrista da banda solo de Ozzy, figura importantíssima para o sucesso do então ex-vocalista de uma banda em declínio. Randy foi descoberto por Ozzy em uma audição para sua nova banda, e gravou com o vocalista seus dois primeiros álbuns, “Blizzard of Ozz” (1980) e “Diary of a Madman” (1981), sendo eternizado em “Tribute”, ao vivo gravado em 1981 e lançado postumamente em 1987 (Randy Rhoads morreu num acidente de avião em 1982, aos 25 anos).
Recheada de histórias gloriosas, hilariantes, deprimentes, inacreditáveis e níveis estratosféricos de cocaína e Heavy Metal, “Black Sabbath – A Biografia” é leitura obrigatória não só para fãs da banda, mas também para amantes de música em geral. Um livro sensacional.
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash e assina a Kontratak Kultural
Leia também:
– Black Sabbath: os discos originais são nota 10; as reedições de luxo, 9,5 (aqui)
– “13” “supera com vantagem qualquer trabalho de um Sabbath em pelo menos 18 anos (aqui)
– “Iron Man”, biografia de Tony Iommi, arranha pouco além da superfície (aqui)
Parabéns pelo excelente trabalho!
Forte abraço,
Nelsinho.