por Marcos Paulino
Guitarrista, compositor, regente, cantor, produtor musical, arranjador, letrista, professor e palestrante, Rafael Bittencourt vive e respira música. Fundador e guitarrista da banda Angra, hoje com 20 anos de estrada e mais de um milhão de cópias vendidas pelo mundo, Rafael embarcou em uma série de shows pelo projeto Sociedade da Cerveja com o seu Bittencourt Project, no qual assume os vocais e a guitarra da banda que o acompanha. A primeira apresentação aconteceu no dia 1º de outubro, no Na Mata Café, em São Paulo.
A Sociedade da Cerveja conta com mais de 20 artistas, que se revezam em shows por bares e casas noturnas da capital paulista. “A gente mistura música brasileira e um rock mais clássico com algumas coisas mais modernas. É uma mistureba de ideias”, ele conta. Presenciar Rafael como vocalista é fato inédito para alguns fãs do power metal do Angra, que neste momento está finalizando mais um álbum de inéditas, a ser lançado no Brasil em janeiro. Sobre este momento da carreira, Rafael deu a entrevista a seguir ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Como você formatou esse show para o projeto Sociedade da Cerveja?
Reuni alguns músicos que fazem parte de outros grupos. Tem o Felipe (Andreoli), que também é do Angra, o Amon Lima e o Marcel Cardoso, que são da Família Lima, e o Nei Medeiros, que faz shows com o Padre Marcelo. Cada um tem um trabalho principal super distinto e a ideia é se reunir para fazer músicas juntos. São composições minhas, de um disco de 2008, que agora estou retomando com a Sociedade da Cerveja. A gente mistura música brasileira e um rock mais clássico com algumas coisas mais modernas. É uma mistureba de ideias.
Interessante nesse seu projeto solo é que você, além de tocar, também canta. Como você se sente como cantor?
Me sinto realizado, porque gosto muito de cantar. É uma terapia, algo que faço com muito menos compromisso comercial. O Angra envolve um monte de gente, mas nesse projeto tenho muito mais liberdade, mais autonomia. É muito mais uma realização pessoal, um projeto onde posso colocar meu álter ego.
Quando você compõe, já pensa se aquela música vai pro Angra ou pro seu projeto solo?
Existe sim um ponto comum entre o Angra e o Bittencourt Project, algumas músicas se encaixam nos dois, mas outras são bem diferentes. Há inclusive músicas do projeto solo que mostrei pros caras do Angra e eles não se interessaram. Então também é uma oportunidade de gravar músicas que foram descartadas pelo Angra. E tem algumas características específicas do Angra que não cabem no Bittencourt Project. No Angra, as músicas são sempre muito velozes, tem sempre bumbo duplo, vocais mais agudos, mais virtuoses, solos de guitarra complicados…
A exemplo do Kiko Loureiro, seu colega no Angra, você também tem uma agenda bem cheia fora da banda, com projetos paralelos, aulas, workshops e outros compromissos. Como faz para administrar tudo isso?
O Angra é a atividade principal, então fazemos um planejamento para o ano, de quando serão ensaios, gravações, turnês etc. Fora disso, a gente pode se dedicar a qualquer outra coisa, seja descansar, viajar, ou investir, trabalhar em outras coisas que também trazem realização e felicidade.
Você tem um canal no Youtube, o “Injeção na Testa”, em que abre espaço para qualquer assunto, de culinária à música. Como está indo esse projeto?
Começou como um hobby, mas tenho a pretensão de transformá-lo num canal de comunicação com o público, até com o desenvolvimento de cursos. Mas ainda é feito totalmente na base da paixão, então não é prioridade, e às vezes deixo parado, por conta de outros compromissos.
O Angra está em processo de gravação do novo disco. O que os fãs podem esperar?
O disco sairá em dezembro no Japão e em janeiro no Brasil. É um projeto que retrata bem o momento que a banda está vivendo, com um novo vocalista, o Fábio Lione, um novo baterista, o Bruno Valverde, e uma empolgação que há muito tempo não tínhamos. Conseguimos recuperar a motivação que é muito importante no momento de fazer as músicas. Fizemos o CD na Suécia, mostrando um comprometimento com a banda, com fazer o nosso melhor, que há muito tempo os fãs não ouviam. Acho que vamos surpreender. Temos algumas músicas com uma linguagem que nunca usamos. Deve agradar os fãs mais tradicionais e também aqueles que gostam de novidades.
Em 2013, o Angra comemorou os 20 anos do primeiro disco, o “Angels Cry”. Para uma banda há tanto tempo na estrada, como anda a renovação dos fãs?
Temos visto muitos fãs adolescentes nos shows, e isso é um ótimo sinal. O nosso baterista tem 23 anos, é um moleque. Acho que sim, que o público vem se reciclando. O que acontece hoje em dia, com a revolução da informação trazida pela internet, é que o público ficou segmentado, as pessoas são separadas por interesses e afinidades. Então você pode criar um nicho de pessoas interessadas no seu som e com isso reciclar o público sempre.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.
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