por Adriano Costa
A vida de Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, desembarcou no teatro em outubro do ano passado. Além do livro e do filme, um musical também serve agora para contar a trajetória de um dos maiores artistas dos anos 80, através de suas icônicas canções. “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” tem texto de Aloísio de Abreu e direção de João Fonseca, o mesmo do musical sobre Tim Maia.
Cazuza faleceu em 1990 aos 32 anos e beirou o extraordinário durante a sua vida artística. Com o grupo Barão Vermelho gravou três discos que, juntos, somam mais de 1 milhão de cópias vendidas (“Barão Vermelho”, 1982; “Barão Vermelho 2”, 1983; e “Maior Abandonado”, 1984). Deixou a banda durante as gravações do que seria o quarto disco do grupo e se jogou em elogiada carreira solo, lançando cinco álbuns cuja vendagem praticamente dobrou após a sua morte, chegando a um total de 5 milhões de discos – “Ideologia”, de 1988, bateu a marca dos 2 milhões de cópias vendidas; o ao vivo “O Tempo Não Para” alcançou 1 milhão e 800 mil.
A vida toda de Cazuza aparece no musical. Do início, com a percepção que ele não era como os demais; até o final provocado pela AIDS, tudo está presente. A paixão pela poesia e pelos sambas, os tempos de Barão Vermelho, os amores e dissabores, o desbunde total do Rio de Janeiro dos anos 80, a carreira solo, os discursos, a revolta em perder seu estilo de vida por conta de uma doença e o fim trágico e esperado. A cenografia de Nello Marrese é simples e funciona de modo prático e os figurinos concebidos por Carol Lobato se adequam bem aos tempos retratados.
A grande virtude do musical é a maneira que trata livremente do estilo de vida de Cazuza, com as drogas, o álcool e o sexo não sendo escondidos, como no (bom) filme de 2004. O ator e cantor Emílio Dantas tem um timbre muito parecido com o do homenageado, o que ajuda bastante. A sua composição visual de gestos e performance, mesmo que soe caricata e excessiva vez ou outra, convence bem, o mesmo ocorrendo para as interpretações de André Dias (como Ezequiel Neves) e Fabiano Medeiros (como Ney Matogrosso).
Há de se questionar sempre toda a loucura e porra louquice, pois se apoiava financeiramente no colo do pai famoso (João Araújo, presidente da gravadora Som Livre na época), mas isso é outra história. Se o tom libertário e atrevido era porque havia uma rede de segurança em volta, é impossível afirmar. O que se pode concluir é que como artista foi fundamental para uma geração se conhecer e botar pra fora alguns demônios pessoais e comportamentais em forma de música.
“Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” recria, além da história, canções poderosas como “Blues da Piedade”, “Ideologia”, “Preciso Dizer Que Te Amo” e “Por Que a Gente é Assim?”, além de outras não gravadas por ele – como “Poema” e “Mais Feliz”. Os atores, apesar do tom demasiadamente forçado em algumas passagens, exibem um trabalho adequado. É um musical digno, uma homenagem que, se não é perfeita, não desonra aquilo que se direciona a contar.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
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