Boteco: Labrador, 4 músicas, 4 cervejas

por Marcelo Costa

Surgida em 2011, a banda curitibana Labrador alguns batalhadores da cena roqueira paraense: Allan Yokohama (Terminal Guadalupe, Polexia, Humanish) na bateria; Lucas Borba (Terminal Guadalupe e Móbiles) na guitarra; Érico Klein, no vocal; Bruno Nogueira, na guitarra; Chico Marés, nos teclados; e Pedro Andrade no baixo. O primeiro lançamento do sexteto foi o potente single “Deserto” (2011), seguido pouco depois por “A Noite dos Nossos Dias” (2011). Três anos se passaram e o quarteto retorna com material novo: primeiro um EP de quatro faixas , “Iniciantes”, e – até o fim do ano – o lançamento do álbum de estreia, “Dia, Noite e Horas a Mais”. O EP foi lançado em formato bastante particular: cada música buscava harmonização com uma cerveja. As canções você ouve (e baixa) abaixo. Sobre as cervejas (produzidas pela Klein Bier, de Campo Largo, PR), você lê na sequencia.

A (Klein) Labrador “Iniciantes” é uma Pilsen que, segundo o rótulo, “é leve, mas encorpada”. De coloração dourada e creme branco de boa formação e média permanência, destaca no aroma uma suave presença de malte (remetendo a biscoito) e um leve toque de amanteigado (que não atrapalha o conjunto) – não há sinal de lúpulo. Na boca, a doçura do malte domina o conjunto, que mantém a sensação de amanteigado e a ausência de amargor. O final é maltado e o retrogosto reforça a sensação de cereais. A canção que abre o EP da Labrador e dá nome à cerveja é uma boa amostra do caminho que o sexteto curitibano vem buscando (principalmente após a segunda canção divulgada, ainda em 2011, “A Noite dos Nossos Dias”), com uma leve melancolia oitentista (recuperada pelo “novo rock” pós-Strokes). No geral, a música é (melhor e) bem mais encorpada que a cerveja – talvez uma Amber a representasse melhor (ainda que música e pilsen sejam para iniciantes).

A (Klein) Labrador “Logo Depois” é uma Brown Ale cuja receita utiliza cinco tipos de maltes importados e lúpulo trazido da Inglaterra. De coloração âmbar acobreada com creme bege de boa formação e média permanência, a Labrador Brown Ale destaca um aroma intensamente caramelado, com a doçura derivada dos maltes tostados praticamente dominando a atenção do bebedor – pra não dizer que é só doçura, há leve sugestão de cereais em segundo plano. O paladar repete tudo que o aroma adianta: dulçor excessivo (caramelo, leve baunilha efrutas escuras) e pouco lúpulo. O final traz caramelado e leve sugestão de castanhas, sensação que se repete no retrogosto. A canção “Logo Depois”, segunda do EP, não é tão adocicada quanto a cerveja, felizmente. Destaque do EP, “Logo Depois” é uma canção de rompimento enquanto o adocicado da cerveja parece não querer largar o paladar. Outro caso em que a música supera a cerveja.

A terceira música/cerveja é a (Klein) Labrador “Nem Tudo São Flores”, um German Weiss de nome bastante apropriado para a cerveja mais fraca do conjunto. De coloração dourada (mais pra Pilsen do que para Weiss) e creme branco de baixa formação e curta presença (outro fato contrário ao estilo), a Labrador Weiss exibe um aroma discreto que traz sugestões de trigo (pão) e condimentação (semente de cravo), quase imperceptíveis. Há leve sugestão de banana, elemento indissociável de uma boa Weiss, que acaba aparece com timidez. Na boca, doçura frutada que remete a banana no primeiro toque, e se estende pelo conjunto, pálido e pouco marcante. O final reforça com leveza a sugestão de banana e trigo, percepção mantida pelo retrogosto. No geral, fraca. A canção, por sua vez, é uma balada oitentista (característica que os teclados reforçam) com bateria marcante e arranjo comportado. Supera a cerveja com facilidade, mesmo fica no segundo grupo de canções do EP.

Fechando o quarteto de música do EP “Iniciantes”, da banda Labrador, e de cervejas da paranaense Klein com a Dry Stout da família, a melhor da seleção. De coloração marrom quase preta e creme bege de baixa formação e rápida dispersão, a Labrador Dry Stout exibe um aroma adocicado que traz sugestão de pô de chocolate em primeiro plano, mais baunilha e café na sequencia além de um toque lácteo. Na boca, falta corpo e sobra doçura derivado do malte. Há sugestão rala de café, que tenta fazer a função de amargor, sem muito sucesso, resultando em uma cerveja predominantemente adocicada. O final traz mais chocolate enquanto o retrogosto exibe um pouco de café. “Stasis”, a música escolhida para combinar com a garrafa, talvez seja a que mais se aproxime no quesito harmonização, embora, para não fugir da regra, seja melhor que a cerveja.

Balanço
A Labrador Pilsen Iniciantes é uma cerveja que valoriza o malte, mas esquece do lúpulo. A opção parece querer coloca-la em comparação de competição com as cervejas tradicionais de balcão, e nisso ela se sai um tiquinho melhor, mas poderia desejar mais. É uma cerveja maltada com amargor suavíssimo pra refrescar. Simplesinha. A Labrador Brown Ale é melhor, mas ainda peca no pouco uso do lúpulo, que simplesmente desaparece diante de uma doçura que, próxima ao final da garrafa, chega a enjoar. A Labrador Weiss é fraca. Parece uma Pilsen de balcão com aroma artificial de banana. Decepção. Fechando o quarteto, a Labrador Stout é a melhor representante do quarteto no quesito cerveja, mas ainda assim é mediana. No computo geral, a música goleia de 4 x 0 as cervejas com muita facilidade deixando a questão: como as músicas se portariam se pegassem um time de qualidade, brigando pela ponta do campeonato, como a Bodebrown (para ficar em Curitiba)? Pode fazer o teste em casa…

Labrador Pilsen
Produto: Standard American Lager
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 5%
Nota: 2,09/5

Labrador Brown Ale
Produto: Brown Ale
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 5%
Nota: 2,20/5

Labrador Weiss
Produto: Weiss
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 4,7%
Nota: 1,80/5

Labrador Stout
Produto: Dry Stout
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 5,6%
Nota: 2,25/5

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