por Adriano Costa
“Planeta dos Macacos: O Confronto” (Dawn of the Planet of the Apes, 2014) traz destacado em seu título nacional o foco principal da franquia envolto em nuances secundárias. Depois da surpresa positiva que foi “O Planeta dos Macacos: A Origem” (2011), dirigido por Rupert Wyatt, a expectativa sobre o novo trabalho era bem grande, e nem a mudança de diretor alterou isso. Com a entrada de Matt Reeves (de “Cloverfield – Monstro”) na chefia, o que vemos na telona é que a expectativa não foi gerada em vão.
O roteiro escrito por Mark Bomback (“Wolverine: Imortal”), Rick Jaffa (do filme anterior dos macacos) e Amanda Silver (também do filme anterior) é bem arquitetado, embora abuse um pouco de passagens sentimentalistas, que poderiam muito bem ser reduzidas dentro dos 130 minutos do filme. No enredo encontramos César (Andy Serkis novamente envolto a muita tecnologia) alguns anos após conseguir fugir. César se embrenhou no meio do mato junto com os demais que libertou, procriando e construindo uma comunidade funcional, evoluindo ainda mais em funções diversas como a fala.
Já os humanos não se deram tão bem assim. Após a gripe símia criada em laboratório se espalhar pelo globo, uma parcela ínfima sobreviveu, sendo que um grupo de sobreviventes se encontra próximo de César e de seus iguais. Estes remanescentes descobrem uma usina hidrelétrica na região em que os símios se encontram e uma pequena expedição encabeçada por Malcolm (Jason Clarke de “A Hora Mais Escura”A) parte atrás de reativar essa fonte de energia, que daria mais chance para os seres humanos resistirem. É a deixa para o encontro das duas espécies, e o mote para que o filme se desenvolva.
A parte visual do trabalho tem grande amplitude no resultado final. A direção de arte conta com profissionais como Naaman Marshall (de “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”) e os efeitos visuais com Gerardo Aguilera (“O Hobbit” e “Jogos Vorazes: Em Chamas”), entre outros. Com isso, as cenas de batalha e de apresentação dos personagens é extremamente eficiente, como também as explosões e a utilização da mata. O roteiro amarra bem a história com o longa anterior (James Franco aparece em uma imagem gravada) e assim justifica algumas deliberações realizadas.
O filme atual se situa historicamente antes dos eventos da pífia refilmagem de “O Planeta dos Macacos”, de 2001 (logo como também do original de 1968) e 10 anos depois do filme de 2011 (esqueça os quatro filmes dos anos 70). No mundo das referências, duas coisas merecem menção. Primeiro, quando Alexander (Kodi Smit-McPhee) entrega um livro para Maurice (Karin Konoval): trata-se da ótima história em quadrinhos “Black Hole”, de Charles Burns, que tem muito a ver com uma das ideias exploradas na trama. E a segunda é a inserção certeira da formidável “The Weight”, clássico da The Band, na trilha sonora em um momento especial.
“Planeta dos Macacos: O Confronto” aborda questões atemporais que continuam vivas dentro dos nossos dias, infelizmente. Mesmo com leves deslizes e um pouco extenso demais, o roteiro abrange bem aquilo a que se propõe equilibrando ação e drama de modo satisfatório. Uma das grandes virtudes é não impor ao telespectador heróis ou vilões, buscando trabalhar a ambiguidade dos personagens. Mesmo aqueles com melhor coração podem ter pensamentos controversos com a sobrevivência em jogo e isso é um mérito importante de um filme que diverte, mas que também traz um pouco de reflexão.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) assina o blog de cultura Coisa Pop
Leia também:
– “Planeta dos Macacos: A Origem” tropeça feio no moralismo de botequim de esquina (aqui)