por Marcelo Costa
O lúpulo é uma liana (aka trepadeira) que, descobriu-se no século XV, tinha características excelentes de conservante natural além de agregar aromas cítricos, florais e herbais, dependendo do terroir em que foi plantado, ao conjunto final de uma cerveja. O projeto Single Hop da cervejaria curitibana Way, que chega ao segundo volume, é uma maneira de explorar a alteração que diferentes lúpulos causam em uma receita de mesma base, no caso a Way American Pale Ale, eleita em 2012 pela revista Maxim como a melhor Pale Ale brasileira. O primeiro conjunto Single Hop da Way trazia três APAs da casa, cada uma com um lúpulo norte-americano diferente: Cascade, Amarillo e Citra. Este segundo pacote traz dois lúpulos norte-americanos (HBC 342 e Mosaic), um australiano (Topaz) e um neozelandês (Motueka). O resultado você lê abaixo:
Abrindo o segundo lote do projeto Single Hop da curitibana Way com a American Pale Ale que recebe o lúpulo australiano Topaz na receita, um lúpulo interessantíssimo que se aproxima das notas terrosas características dos lúpulos ingleses (destacados nas bitters da terra da rainha). De coloração entre o dourado e o âmbar e creme branco de excelente formação e media permanência, a Way American Pale Ale Single Hop Topaz destaca um aroma que valoriza tanto o caramelo do malte quanto as deliciosas notas frutadas advindas da lupulagem (laranja e lichia dominando) e ainda traz sugestão floral e herbal (leve pinho). Na boca, o início é rapidamente maltado e caramelado; na sequência, o amargor pontual (que remete a bitters inglesas) equilibra o conjunto e se desmembra em notas que remetem a lichia e maracujá. O final traz amargor cítrico (que se acumula levemente) e mel enquanto o retrogosto exibe leve adstringência cítrica (limão) e refrescancia.
A próxima é a Way American Pale Ale Single HBC 342, um lúpulo criado pela mesma empresa norte-americana responsável pelos lúpulos Citra e Simcoe (entre outros). A coloração e a formação e permanência do creme se mantém idênticas a anterior, mas no nariz a coisa muda de figura, porque essa HBC 342 não se destaca no perfil aromático com as anteriores, e muito menos acrescenta intensidade ao malte (como a anterior). Há leve sugestão herbal (grama e capim), um toque cítrico que remete a limão e só. Na boca, novamente a Way APA exibe uma entrada adocicada e caramelada de malte, e logo na sequencia recebe uma pancada de amargor, que não é agressiva e serve para equilibrar o conjunto, que parece não sentir tanta influência do lúpulo HBC 342 no sabor como nas versões anteriores do projeto single hop da Way. Há um leve frutado (maracujá e melão) que não se destaca. O final é amargo (com leve acumulo) e caramelado enquanto o retrogosto traz melão, mel e leve amargor.
A terceira é a Way American Pale Ale Single Hop Mosaic, com outro lúpulo norte-americano da Breeding Company (responsável também pelo Citra, Simcoe e pelo HBC 342). Nesta versão da Way APA com lúpulo Mosaic, novamente coloração, formação e permanência de creme se mantiveram no padrão das anteriores. Já o aroma foi uma deliciosa surpresa: notas cítricas em primeiro plano (maracujá, manga e abacaxi), percepção herbal (grama e feno) e floral mais adocicado caramelado de malte. O acerto na combinação se estende ao paladar, e na boca a Way APA Single Hop Mosaic faz a tradicional entre caramelo e mel de suas irmãs de receita, mas mantém o adocicado um pouco mais tempo, já que o amargor não é tão intenso aqui quanto nas outras, permitindo aprofundar a percepção em doces notas cítricas (laranja lima e maracujá), mel, caramelo e notas herbais. O final é o mais suave de todas as Single Hop, com amargor contido (mas presente) e caramelo enquanto o retrogosto traz notas herbais, florais, cítricas e até lembrança de trigo. Delícia.
Fechando o quarteto single hop #2 da Way com a American Pale Ale Single Motueka, um lúpulo neozelandês que surge do cruzamento de uma variedade local com o tcheco Saaz. Coloração, formação e permanência seguem no padrão da linha APA da Way. No nariz, boa dispersão aromática em notas cítricas levemente adocicadas (laranja lima e limão), caramelo e mel de malte, percepção herbal (grama e feno) e leve resina. Na boca, a característica entrada adocicada (mel e caramelo) não é tão alongada quanto na versão com o Mosaic (ainda que o amargor seja levemente mais pronunciado) e nem tão curta quanto nas versões com Topaz e HBC 342, ficando no meio do caminho, mas permitindo saborear com distinção as notas cítricas (reforço de laranja lima e limão com uma percepção de melão). O final começa com intensidade cítrica e termina com domínio de amargor, ainda que suave. No retrogosto, notas cítricas (lima e melão), leve caramelado e suave adstringência de amargor.
Balanço
A primeira Single Hop do segundo projeto da Way a ser retirada da caixa foi a Topaz, e o lúpulo australiano combina bem com a receita premiada da Way APA. O destaque é a simplicidade do amargor, que se diferencia das três experiências da primeira caixa (Amarillo, Cascade e Citra) por ser menos intensa, mas ainda assim muito boa. Já a versão com o lúpulo norte-americano HBC 342 se mostrou uma enorme decepção, pouco acrescentando ao conjunto. O mesmo não pode ser dito da versão com lúpulo Mosaic, uma das mais prazerosas do conjunto, acrescentando toques cítricos, florais e herbais sem esconder o malte numa mistura simplesmente deliciosa. A versão com o lúpulo Motueka mantém a qualidade do conjunto em alta, e embora não arranhe o brilho da versão com Mosaic, permite saborear as notas cítricas derivadas da lupulagem e o caramelado do malte com gosto. Muito boa.
Way American Pale Ale Single Hop Topaz
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,22/5
Way American Pale Ale Single Hop HBC342
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 2,86/5
Way American Pale Ale Single Hop Mosaic
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,30/5
Way American Pale Ale Single Hop Motueka
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,27/5
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)