por Juliana Torres
Quando o assunto é hardcore e punk rock, Rick Froberg (ex-Drive Like Jehu e Hot Snakes) e Sohrab Habibion (ex-Edsel) são autoridade. Os veteranos da cena independente de San Diego e Washington D.C. do começo dos anos 90 se reencontraram em 2006 em Nova York e – com Scott Gursky e Alexis Fleisig – formaram o Obits, quarteto de “garage, punk, surf, surf-punk, e garage-punk (mas não surf-garage)” – como são definidos pela Sub Pop, que assinou com o grupo em 2009. Um ano antes, lançaram seu primeiro single, “One Cross Apiece” / “Put It in Writing”, distribuído pelo selo próprio Stint Records.
O primeiro disco da banda, “I Blame You”, foi lançado pela Sub Pop em 2009, após o Obits se apresentar pela primeira vez na Cake Shop, casa de show em Manhattan. Um bootleg desse show foi gravado e rodou a Internet pelo MySpace da banda e acabou chamando a atenção de Chris Jacobs, representante do selo. No mesmo ano a banda foi convidada para se apresentar no festival que comemoraria 20 anos da Sub Pop e assinaria um contrato que renderia mais dois álbuns.
No Saltlands Studio, no Brooklyn – mesmo estúdio onde Wilco mixou seu DVD “Ashes of American Flags” – a banda gravou seu segundo disco “Moody, Standard and Poor”. Misturando testes de ensaios, jams sessions e outras 40 diferentes gravações da banda, o disco produzido por Eli Janney foi bem recebido e foi o último da banda com o baterista Scott Gursky. A saída de Scott abriu espaço para Alexis Fleisig, baterista da banda Girls Against Boys (que agora se divide entre as duas bandas), com quem gravaram o mais recente disco, “Beds & Bugs” (2013).
É com esse disco que esta nova banda de músicos veteranos vem ao Brasil para o Sub Pop Festival. O Obits vem à América do Sul pela primeira vez para uma série de apresentações que contará também com a madura Mudhoney, em sua sexta passagem pelo Brasil, e com o trio canadense METZ. A tour passa por Santiago (10/05) e Buenos Aires (11/05) antes de chegar ao Brasil, com passagem por São Paulo (15/05) e Goiânia (16/05).
Em conversa com o Scream & Yell, o guitarrista Sohrab Habibion fala sobre o processo de gravação do último disco, o design gráfico da banda, a vida em Brooklyn e qual a expectativa de tocar no Brasil pela primeira vez.
Seu disco mais recente, “Bed & Bugs”, foi gravado em Virgínia, e não no Brooklyn como os demais. Qual foi a principal diferença entre os discos e a produção deles?
Além das próprias canções serem diferentes, a principal mudança é que o baterista é outro. Nosso antigo baterista, Scott, saiu da banda logo depois do segundo álbum. Nós tivemos uma ótima turnê pela Europa antes de ele decidir se separar do rock’n roll. Mas quem pode culpá-lo? Estar em uma banda é um absurdo. De qualquer forma, conheço o Alexis desde os nossos 15 anos, quando estávamos no ensino médio. Nossas bandas punk tocavam juntas e o Rick e o Greg também o conhecem há anos, então tê-lo no Obits não foi muito difícil. Mas o estilo dele é diferente do estilo do Scott, então nós tivemos algumas novas opções de set para trabalhar com ele. Além disso, escrever as canções para o “Bed & Bugs” nos permitiu descobrir o que funciona melhor nessa nova formação.
Bem no meio do disco o ouvinte é levado para outra dimensão com a música “Besetchet”. O que você tem a dizer sobre ela?
É um cover da Orchestra Ethiopia (banda etíope que lançou dois discos entre 1969 e 1974) que está presente no disco “Ethiopiques, Vol. 23” (uma série apenas com relançamentos de compactos etíopes que chegou às lojas em 2007). Originalmente nós pensamos que seria divertido aprender a tocar essa música e depois escrever algo inspirado por ela. Mas depois que aprendemos e fizemos algumas gravações com essa referência durante nossos ensaios, nós gostamos da canção e decidimos que gostaríamos de usá-la no disco. Mas, no geral, nós sempre procuramos criatividade e motivação ao redor do mundo, seja de Mali, Zambia, Indonésia ou… Brasil, claro!
Essa não é a primeira banda de vocês. Como foi a transição de San Diego para Nova York e como isso influenciou vocês?
Eu não posso responder pelo Rick, mas posso te falar que ele prefere o clima da Califórnia ao de Nova York. Mas quanto ao Jehu ou a Hot Snake ou qualquer outra banda, acredito que as pessoas do nosso pequeno mundo musical estão nas bandas que deveriam estar, na hora que deveriam estar. Não precisa ser exatamente uma preocupação ou nem precisamos prestar atenção nisso como uma progressão ou regressão. É o que é com qualquer grupo de pessoas com quem você esteja tocando. Isso dito, gosto de acreditar que com essa banda, o Rick têm mais espaço para cantar. Gosto da sua voz e ele escreve letras interessantes, então fico feliz de poder ouvi-lo mais.
Existem muitas bandas saindo do Brooklyn ultimamente. Vocês recomendam alguma em especial?
Considerando quão rapidamente as informações viajam pela Internet, existe uma grande chance de você saber mais bandas de Brooklyn do que eu. No próximo sábado, dia 3, nós estaremos fazendo um show com duas bandas locais que eu gosto muito: The Men e Nude Beach.
Nós conseguimos enxergar muitas influências quando ouvimos os discos do Obits. Vocês conseguem ir do surf music para o punk rock e ainda exibir algumas referências africanas na percussão para baladas como “Machines”. Como funciona o processo criativo?
Cada música é diferente na forma como é realizada. Às vezes alguém aparece com a música já escrita, às vezes vai começar com um riff durante nosso ensaio, às vezes é só uma jam que nós editamos e tocamos centenas de vezes e continuamos editando até sentirmos que vale a pena ser mantida. Tentamos não ter nenhuma regra quando fazemos esse tipo de coisa. O principal objetivo é fazer música que gostaríamos de ouvir.
Como vocês se relacionam com a música depois de tanto tempo? Quais são as principais diferenças entre lançar um disco hoje ou há 20 anos, quando vocês começaram a tocar?
Existem tantas diferenças, mas a maioria delas são mudanças tecnológicas. Quando nós começamos não havia MP3, nem blogs e todas as outras coisas que nós sequer valorizamos agora. E eu tenho certeza que daqui 20 anos também será diferente. O que dura é a música. A forma como eu me sinto quando ouço algum álbum agora é poderosa, como sempre foi. Ninguém pode tirar esse sentimento da música de verdade, e é por isso que todos os argumentos sobre download, streaming e qualquer outra coisa que venha a seguir está perdendo o valor conforme o tempo passa. Essa mudança é loucura de empresários, engenheiros e colecionadores fetichistas. A música perdura.
Rick faz o design gráfico da banda, certo? A carreira de vocês como artistas anda de mãos dadas com a de músicos?
Rick faz a maioria das coisas óbvias, mas nós somos designers, então algumas camisetas, posters ou buttons podem vir do cérebro do Alexis, Greg ou até mesmo eu. E, sim, acho que tudo está junto. Música e design permitem estruturar informações criativamente e nos dão escolhas de como comunicar ideias e emoções, e nós podemos decidir o quão diretos ou abstratos queremos ser quando nos apresentamos. As duas coisas oferecem as ferramentas de criar e resolver problemas, o que mantém a vida um pouquinho mais interessantes do que podem ser normalmente.
Rick é conhecido por ser “tecnofóbico”, ter terror de novas tecnologias. É muito difícil ser artista e não estar ligado a um computador?
Eu não tenho certeza de como o Rick responderia isso, mas como um cara que tem uma banda com ele, eu ficaria muito feliz ele se ele checasse seus e-mails mais regularmente. Principalmente quando seu celular não está funcionando (risos). Mas o Rick sabe o que fazer com as partes do computador que ele precisa para transferir uma arte ou desenhar com um tablet etc. E ele parece saber se virar, então não deve ser um problema pra ele.
Vocês estarão tocando com o Mudhoney – uma banda veterana que já tocou no Brasil incontáveis vezes, e com o METZ, que também tocará pela primeira vez no país. Quais são as expectativas?
Nenhuma expectativa, na verdade. Nós só estamos muito ansiosos para saber como vai ser. E nós estamos muito ansiosos também para encontrar o METZ e o Mudhoney, nossos parceiros da Sub Pop, um lugar que nunca achamos que seria possível. Além disso, a não ser que algo estranho aconteça, deverá ser um grande momento.
– Juliana Torres (@jukiddo) é jornalista e assina o http://jukiddo.tumblr.com/
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