por Pedro Salgado, de Lisboa
“A Bunch Of Meninos”, Dead Combo (Universal Music Portugal)
Na visualização do magnífico clipe da faixa-título somos levados a crer que a pegada roqueira do guitarrista Tó Trips poderá dominar grande parte do novo álbum dos Dead Combo, mas as primeiras impressões são facilmente ultrapassadas quando canção após canção, num registo direto e envolvente, o duo lisboeta cruza diferentes linguagens musicais acompanhados pontualmente pelo baterista Alexandre Frazão e o percussionista António Serginho. Consequentemente, “A Bunch Of Meninos” é um disco que percorre as várias influências do grupo, não renegando novas abordagens à sua sonoridade e fazendo jus aos melhores aspetos criativos do conjunto. O tex-mex imaginativo de “Miúdas E Motas” e o rock n’roll engenhosamente sinuoso de “Waits” (uma homenagem ao velho bardo americano) são dois bons exemplos da capacidade de mutação do Dead Combo, cabendo à africana “B.Leza” o papel de recordar o anterior trabalho, “Lisboa Mulata”. A contagiante “Dona Emília”, um encontro festivo entre a música de baile portuguesa e o gênero mariachi, completa o lote de faixas memoráveis da nova viagem musical de Pedro Gonçalves e Tó Trips.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 8
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“Corrente”, Clã (Warner)
Quando uma banda comemora 22 anos de carreira, a tentação de continuar a aventura em piloto automático e repetir soluções ganhadoras é óbvia. Em “Corrente”, pelo contrário, os Clã desafiam o seu legado recuperando os bons momentos do seu passado, mas apontando também novos caminhos para o pop característico do grupo portuense. “A Paz Não Te Cai Bem”, uma faixa a meio gás, escrita por John Ulhoa, promovendo o contraste entre o desencontro amoroso temático com um fundo musical leve, insere-se na categoria mais assimilável da banda. Mas “Corrente” vive também do regresso ao rock mais desbragado de “Lustro” (2000), como é o caso de “Rompe O Cerco” ou “Basta” (com letra de Arnaldo Antunes), nos quais a mensagem do conjunto de Manuela Azevedo combina agressividade, desespero e esperança. O pop inteligente de “Zeitgeist” e a simplicidade desarmante de “Canção De Água Doce” celebram o encontro da música dos Clã com as letras de Samuel Úria. E a magistral “A Conta De Subtraír”, uma torrente crispada de guitarras, encontra Manuela Azevedo no seu registro mais agreste desde sempre. Um clássico absoluto.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 8,5
“True”, The Legendary Tigerman (Metropolitana/Sony Music Portugal)
O que mais impressiona no novo trabalho de Paulo Furtado é a forma como o músico soube transportar a crueza dos seus registos anteriores para novas e memoráveis canções em que se afirma a criação e consolidação do personagem que o habita. O compacto “Do Come Home”, quase uma música de ninar, é o primeiro sinal das preocupações com o formato canção e um ponto de partida para um conjunto de temas em que Legendary Tigerman aposta num conceito de verdade na sua arte. O álbum revela também mais ambição, patente nos arranjos de cordas na ótima “Wild Beast”, um blues eriçado no qual Furtado canta “I´m just a wild beast with a broken heart” como se não existisse um amanhã. As cordas reaparecem na romântica “Love Ride” e boas versões roqueiras de “Twenty Flight Rock” e “Green Onions” são complementadas com a inclusão de sopros que atravessa “Gone”. O disco apresenta uma faixa excecional (“Dance Craze”), incluindo um refrão catártico, animada marcadamente pela percussão. “True” é um trabalho sólido e expressivo do melhor Legendary Tigerman de sempre.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 9
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
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