por Marcelo Costa
“Lick – Reedition”, Lemonheads (Fire Records)
Após lançar luz sobre dois álbuns de sua fase áurea em reedições luxuosas repletas de extras (“It’s a Shame About Ray”, de 1992, e “Car Button Cloth”, de 1996 – “Lovey”, de 1990, o primeiro pela Atlantic Records, também ganhou reedição), o Lemonheads volta-se agora para sua fase inicial colocando no mercado seus três primeiros álbuns independentes em versões revistas e estendidas. “Hate Your Friends” (1987) ganhou uma reedição que acrescenta 17 faixas ao tracking list original (somando 30 canções), 13 delas retiradas de um radio session de 1987. “Creator” (1988), o segundo álbum, também vem acrescido de uma radion session completa com 11 faixas ao vivo na WERS. O terceiro disco do pacote é “Lick”, de 1989, último álbum que conta com o guitarrista e vocalista Ben Deily dividindo as funções com Evan Dando, que toca bateria em 9 das 11 faixas do disco e é responsável por todas as canções, exceto a deliciosa versão guitarreira de “Luka”, de Suzanne Vega, “I Am a Rabbit”, da banda punk neozelandesa Proud Scum, e “7 Powers”, de Ben Deily. 11 faixas bônus engordam essa reedição como o b-side “Strange”, que chupa na cara de pau o riff de “Teenage Kick”, do Undertones, mais cinco faixas ao vivo em rádios em 1989 (incluindo uma versão de “Luka” cuja introdução cita “Black Sabbath”, a canção), uma hilária entrevista com a banda em uma rádio da Holanda e as quatro faixas do primeiro lançamento da banda, o EP “Laughing All the Way to the Cleaners”, de 1986. Tosco, punk power pop e grudento.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 7
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“Sings The Kinks”, Colin Meloy (Independente)
Aproveitando a pausa do Decemberists após o sucesso de “The King Is Dead” (2011), Colin Patrick Henry Meloy dá sequencia a seu projeto solo que consiste em regravar grandes heróis do compositor de forma intimista, só voz e violão (quando muito, piano e percussão). Iniciado em 2005 com “Colin Meloy Sings Morrissey”, o projeto seguiu com homenagens a Shirley Collins (2006) e Sam Cooke (2008) mais um registro ao vivo (“Colin Meloy Sings Live!”, 2008) que compilava números acústicos do Decemberists (e duas faixas inéditas) em meio a citações de Smiths, R.E.M., Pink Floyd, Fleetwood Mac e Shirley Collins. Lançado no final de 2013, “Colin Meloy Sings The Kinks” mantém o projeto gráfico tradicional da série, com desenhos da esposa do cantor, Carson Ellis, e conta com cinco canções de Ray Davies tocadas em arranjos devotados. A “brincadeira” começa com uma tocante versão do hit “Waterloo Sunset”, single de 1967 do Kinks presente no álbum “Something Else by The Kinks”, do mesmo ano. É também deste álbum que Colin sacou “Harry Rag” mantendo o mesmo arranjo cadenciado da versão original (e que lembra muito Decemberists). A climática “The Way Love Used To Be”, retirada da trilha sonora de “Percy” (1971), ganha arranjo bonito com dois violões enquanto uma vibe sessentista pode ser sentida em “Do You Remember Walter?” (do álbum “The Kinks Are the Village Green Preservation Society”, de 1968) e “Days”, single emocional que recebe adição de piano e percussão fechando um projeto especialíssimo.
Preço em média: R$ 35 (importado)
Nota: 7,5
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“And I’ll Scratch Yours”, Tributo a Peter Gabriel (Universal)
Em 2010, Peter Gabriel selecionou 12 covers que gostaria de fazer e convidou os artistas que iria coverizar para gravarem canções suas. “Scratch My Back” foi lançado em 2010 com muitos elogios e seu complemento, “And I’ll Scratch Yours”, só chegou às lojas no final de 2013 desfalcado de dois artistas que deram cano (Radiohead e Neil Young) honrando o padrão de altos e baixos característico de tributos, mas de forma alguma decepcionando. David Byrne escolheu “I Don’t Remember”, do álbum “Peter Gabriel” (de 1980, aquele com o desenho do rosto do cantor derretendo), e colocou programação eletrônica onde antes havia boas guitarras. “Come Talk to Me”, que abre com um arranjo indiano o álbum “Us”, de 1992, aparece belamente despida por Bon Iver. Regina Spektor transforma o original grandiloquente de “Blood of Eden” em uma balada simples e bonita enquanto Stephen Merritt reconstrói “Not One of Us” de forma tosca e deliciosa, com vocal dobrado e teclados que emulam um Erasure em marcha lenta. A eletrônica “Big Time”, do álbum “So” (1986), virou um blues jazz de primeira nas mãos de Randy Newman. O Arcade Fire decepciona com uma versão contida de “Games Without Frontiers” enquanto o Elbow causa bocejos em “Mercy Street”. Do banco de reservas (substituindo Radiohead), Feist surge com uma versão delicada (e também contida, mas para o bem) de “Don’t Give Up”, dueto de 86 de Gabriel com Kate Bush. A deliciosamente pop “Solsbury Hill”, do primeiro álbum solo de Peter, ganha uma versão fantasmagórica nas mãos de Lou Reed, com guitarras sujas e vocal declamado. Fechando o projeto, Paul Simon surge reverente numa versão rancheira do hit “Biko”, de 1986, encerrando um projeto que valoriza a bela carreira de Peter Gabriel.
Preço em média: R$ 30 (nacional)
Nota: 7,5
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne