por Guss de Lucca
Convidado da quarta edição do RioContentMarket, evento voltado para produção de conteúdo audiovisual de televisão e mídias digitais, o produtor norte-americano Dan Weiss, criador da série “Game of Thrones”, conversou com uma plateia lotada na quinta (14/03), onde revelou curiosidades dos bastidores do seriado.
O público se divertiu com a maneira espontânea com que Dan falou sobre o início do projeto, o primeiro voltado para a televisão feito por ele e seu parceiro, o também produtor David Benioff. Até então, a dupla só havia trabalhado na indústria cinematográfica, principalmente como roteiristas – o que, em suas palavras, “é algo frustrante, pois não se tem controle sobre a escolha do elenco ou qualquer envolvimento com a direção”.
A mudança começou no momento em que David leu o primeiro volume de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, série de livros escrita por George R.R. Martin. “Nenhum de nós lia livro de fantasia desde a adolescência. Mas quando David me disse para ler, eu devorei as 900 páginas em dois dias.”
“Naquele momento percebemos que tínhamos uma oportunidade única nas mãos. Porém, tentar transpor a história para o cinema seria um ato de vandalismo”, disse. A busca por uma emissora levou a dupla ao escritório da HBO, pois, de acordo com Dan, era a única emissora com recursos para produzir uma história de tamanha magnitude. Mas nada disso foi rápido. O primeiro piloto foi gravado em 2009, três anos depois da primeira reunião da dupla com os executivos do canal.
Questionado sobre como foi lidar com uma produção tão grande em sua estreia na TV, Dan recordou um diálogo que teve com o cineasta Quentin Tarantino sobre sua primeira vez à frente de um filme de grande orçamento, “Cães de Aluguel”, de 1992. “De repente você está cercado por 200 pessoas que não conhece e nem sabe o que fazem ali. Mas Quentin descobriu que o importante era dizer a equipe o que ele queria ver na tela, traduzir seus pensamentos.”
Dan deixou claro que essa linha de pensamento foi vital para o sucesso da série. Principalmente porque em muitos momentos eles trabalham duas equipes simultâneas – carinhosamente chamadas de “Wolf Unit” e “Dragon Unit” – em países distintos, como Croácia, Marrocos e Islândia.
Apesar de não revelar o quanto sabe sobre o possível fim da série, que ainda não foi concluída pelo escritor por George R.R. Martin, o produtor mostrou segurança quanto ao seu término. “Na TV norte-americana o comum é que se um programa vai bem, os produtores querem mais temporadas. Isso não ocorreu, por exemplo, em ‘Breaking Bad’, um dos melhores trabalhos na TV de todos os tempos. Quando a série acabou ela deixou um vazio no meu peito – queremos fazer isso com ‘Game of Thrones’.”
Uma das principais características do seriado – a morte indiscriminada de personagens, não importando quão relevante ele é para a trama – também foi apontada por Dan como um de seus trunfos. “Nunca pensei que Jack Bauer (personagem principal da série “24 Horas”) pudesse morrer. Mas em ‘Game of Thrones’, depois da morte de um personagem importante na primeira temporada, as pessoas passaram a pensar ‘se isso pode acontecer com ele, pode acontecer com qualquer um’. Tudo fica mais excitante quando você sabe que aquele personagem pode não escapar.”
A nudez da série também foi abordada, mas com muito bom humor. “Nossa meta é fazer com que os personagens sejam reais, mesmo num mundo de fantasia. E pessoas ficam nuas e fazem sexo no mundo real. Mas é um critério nosso. Se engana quem pensa que existe um executivo na HBO que assiste aos episódios e pede para acrescentarmos dez minutos de sexo e dois pares de seios.”
A quarta temporada de “Game of Thrones” começa em 6 de abril de 2014.
– Guss de Lucca (@gussdeluca) é jornalista, historiador e cartunista. Assina no Scream & Yell a coluna sobre Bernard Bertrand. Leia todas as tirinhas aqui.
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