por Marcelo Costa
Que o pessoal da BrewDog ampara sua publicidade na maluquice não é novidade. Muito menos a paixão dos escoceses por cervejas extremas. Os três rótulos abaixo tem um pouco de cada um destes dois itens. A Electric India nasceu de um fórum com os 7 mil acionistas da empresa decidindo a receita que, depois, foi produzida por 200 mestres cervejeiros. A #MashTag teve plano semelhante: foram os seguidores da Brewdog no Twitter quem decidiram os itens de sua receita. A Libertine Black Ale se livrou do modelo grandioso de publicidade das duas anteriores (que em uma deu muito certo e na outra ficou apenas ok), mas ainda assim é uma belíssima Black IPA Single Hop. Tão ávidos pelo marketing quanto pelos extremos de uma receita cervejeira, o pessoal da BrewDog continua provocando com alguns rótulos excelentes. Abaixo falamos de três (os três vendidos no Brasil com preços entre R$ 24 e R$ 30, garrafas de 335 ml).
A BrewDog Electric India é uma imperial saison produzida em conjunto pelos acionistas da empresa, e que leva lúpulos Amarillo e Nelson Sauvin mais ingredientes inusitados como casca de laranja fresca, mel de urze e grãos de pimenta preta. De coloração amarela, com leve turbidez a frio, e creme branco de média formação e baixa permanência, a Electric India exibe um aroma absolutamente magnifico: em primeiro plano, o toque arisco da levedura sugere acidez e azedume; ao seu lado, intensas notas frutadas cítricas (romã, maçã verde e laranja) derivadas tanto do lúpulo quanto da adição de casca de laranja inebriam o nariz do bebedor. Há sugestão de coentro (a condimentação é derivada da pimenta preta), notas herbais (erva-cidreira e grama), mais trigo e feno. Na boca, uma reprise suave do que o nariz adianta: intensa sugestão frutada cítrica (maracujá, pêssego e laranja) derivada tanto dos lúpulos quanto da levedura, acidez (média), azedume (baixo), salgado (médio), apimentado (suave), adocicado (quase inexistente), álcool (7,2%, embora imperceptível). O final, refrescanrte, traz leve acidez, cítrico e salgado enquanto o retrogosto reforça o cítrico e o ácido com carinho.
A BrewDog Libertine Black Ale, por sua vez, é uma Black IPA Single Hop cuja receita traz cinco variações de malte (Maris Otter, Caramalt, Munich, Dark Crystal e Carafa) e uma carga pesada de lúpulo norte-americano Simcoe. De coloração preta intensa com creme bege de ótima formação e permanência, a BrewDog Libertine Black Ale traz ao nariz um choque dos maltes torrados (em notas que remetem a chocolate amargo, ameixa e baunilha) com a potência do lúpulo cítrico, que não consegue se desprender tão facilmente, mas equilibra o perfil aromático com garra. Há ainda um leve toque resinoso, sugestão de alcaçuz, leve defumado e toque herbal (pinho). Na boca, o primeiro toque é surpreendemente adocicado, principalmente para quem esperava café e lúpulo cítrico, com remissão a chocolate e baunilha. O amargor surge na sequencia, comportadíssimo para os 65 de IBU apontados pela cervejaria, mas perfeitamente inserido no conjunto. O chocolate retorna após a pontada de amargor, e segue até o final para ser vencido pelo amargor, seco e convincente. O retrogosto é chocolate, leve sugestão de fumaça e bala toffee.
Fechando esse trio, a BrewDog #MashTag, uma (Democratic) American Brown Ale cuja receita une quarto tipos de malte (Roasted Barley, Caramalt, Pale e Amber) e três de lúpulo (Nelson Sauvin, Motueka e Pacific Gem) envelhecida em barris com avelãs e chips de carvalho. Foi feita em “parceria” com os seguidores da BrewDog no Twitter, que durante uma semana escolheram estilo (segunda), malte e porcentagem alcoólica (terça), lúpulos e IBU (quarta), ingredientes especiais (quinta) e nome (sexta). De coloração marrom escura e creme bege de média formação e curta permanência, a BrewDog #MashTag traz ao nariz notas derivadas da torra do malte (café, mas não tão intenso) mais chocolate, caramelo, açúcar mascavo e baunilha. É possível perceber uma leve sugestão de alcaçuz e nozes. Na boca, a doçura do malte é dominante, com rápida sugestão de café soterrada na sequencia por chocolate, caramelo e baunilha. Há uma pitada de amargor, que aumenta no trecho final – que ainda traz café – e até confere certa personalidade ao conjunto, algo reforçado pelo retrogosto (novamente café, amargor suave e bala toffee), com a sensação de que o melhor ficou apenas para o final.
Balanço
Eu já havia experimentado a BrewDog Electric India na torneira, no pub da cervejaria em São Paulo, e me apaixonado. E fico feliz que a versão engarrafada mantenha o clima de paixão no ar. É a 21ª cerveja da BrewDog da qual escrevo, e a segunda melhor deles na minha avaliação (só fica atrás da inesquecível BrewDog Paradox Jura). Não é uma cerveja comum, mas o que se pode esperar de uma receita que tem dois lúpulos com muita personalidade, uma levedura maluca e casca de laranja fresca, mel de urze e grãos de pimenta preta? Mais ácida que azeda; mais salgada que doce. Uma delícia. E a mesma coisa pode ser dita da BrewDog Libertine Black Ale, um estilo que estou descobrindo e me apaixonando, por valorizar o cítrico dos lúpulos, talvez, um dos poucos ingredientes que consigam enfrentar de igual para igual a torra do malte. No caso desta Libertine, o equilíbrio é impressionante a ponto de não se sentir quase nada de café, e também não muito de lúpulo cítrico. Livre das duas amarras, o conjunto valoriza as notas que remetem a chocolate e o amargor do lúpulo norte-americano Simcoe surge para contrabalancear essa doçura. Uma delicia (parte 2). Já a BrewDog #Mashtag, parceria com a galera de redes sociais, não impressionou. No quesito American Brown Ale, a Rogue é campeã, e a #Mashtag é uma boa tentativa de alcançar o melhor de um estilo bastante particular, que, no caso da BrewDog, ficou na tentativa. Boa, mas há melhores.
BrewDog Electric India
– Produto: Imperial Saison
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 7,2%
– Nota: 4,29/5
BrewDog Libertine Black Ale
– Produto: Black IPA Single Hop
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 7,2%
– Nota: 4,06/5
BrewDog #MashTag
– Produto: American Brown Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 7,4%
– Nota: 3,18/5
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